A 7 de dezembro de 1924 nasceu, em Lisboa, uma das figuras mais carismáticas da política portuguesa, o seu nome é Mário Alberto Nobre Lopes Soares, ou simplesmente Mário Soares. Para muitos, o pai da democracia em Portugal por todo o trabalho desenvolvido em prol da liberdade.
Mário Soares era filho de João Lopes Soares (professor, fundador do Colégio Moderno e ministro da 1º República) e de Elisa Nobre. Viveu durante a infância e juventude na capital portuguesa onde recebeu uma educação católica, todavia as suas crenças eram laicas e agnósticas. Em 1949 casou-se na prisão com Maria de Jesus Simões Barroso Soares, com quem teve dois filhos: Isabel Soares e João Soares.
A política durante os anos de ditadura
Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas (1951) e em Direito (1957) na Universidade de Lisboa. Ainda nos tempos de estudante, fortemente influenciado pelo pai, começou a opor-se ao Estado Novo aliando-se a grupos como o Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF) e o Movimento de Unidade Democrática (MUD). No último foi responsável por fundar o MUD Juvenil e ainda membro da primeira Comissão Central.
Era o início de uma extensa carreira política. Em 1949 foi Secretário da Comissão Central da Candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República, tendo voltado a fazer parte da Comissão desta vez para o General Humberto Delgado (1958). Pertenceu ainda ao Directório Democrático-Social (1955), liderado por António Sérgio, Jaime Cortesão e Azevedo Gomes; membro da Resistência Republicana e Socialista (anos 50); redactor e signatário do Programa para a Democratização da República (1961) e candidatou-se a deputado tanto pela Oposição Democrática (1965), como pela Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (1969).
Durante este período foi professor do ensino secundário (particular) e director do Colégio Moderno, fundado pelo pai.
No papel de advogado destacou-se por defender inúmeros presos políticos. A maioria dos julgamentos aconteciam em condições difíceis no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial. Um dos seus maiores marcos na advocacia foi ter contribuído para a investigação da morte do General Humberto Delgado, crime da autoria da polícia política de Salazar (PIDE).
Numa altura em que se vivia uma ditadura em Portugal, Mário Soares foi preso 12 vezes, tendo no total cumprido três anos de cadeia. Em 1968 acabaria por ser deportado para S. Tomé, sem direito a julgamento. Dois anos mais tarde devido às frequentes perseguições da PIDE foi forçado ao exílio, primeiro em Itália (Roma) e depois em França (Paris). O que não o afastou da realidade política de Portugal, pelo contrário. Aquando o Congresso realizado em BadMünstereifel, na Alemanha (1973) a Acção Socialista Portuguesa que fundou, em 1964, passou a ser o Partido Socialista (PS). Mário Soares foi proclamado Secretário-Geral, tendo sido reeleito durante praticamente 13 anos.
Durante os anos que viveu em terras francesas foi “Chargé de Cours” nas Universidades de Vincennes (Paris VIII) e da Sorbonne (Paris IV). Paralelamente foi professor na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha (Rennes), onde é doutor “Honoris Causa”.
Os desafios da democracia
Quando a Revolução do 25 de abril aconteceu Mário Soares encontrava-se em exílio. Regressou três dias depois naquele que foi apelidado como o “comboio da liberdade”. Na época era importante obter um reconhecimento da implantação da democracia em Portugal, rapidamente foi pelas capitais europeias passar a palavra. Quando voltou ao país, aguardava-o inúmeros desafios.
Nos três primeiros Governos Provisórios foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, tendo desenvolvido acções importantes quanto à independência das colónias portuguesas, e no quarto Ministro sem Pasta. Demitiu-se em forma de protesto por entender que o país rumava para uma governação de extrema-esquerda. Era o início de uma crise política que causou o fim do Governo Provisório em vigor e posteriormente a falta de confiança no seguinte (quinto). Uma fase que ficou conhecida por “Verão Quente” (1975). Foi nesta altura que aconteceu o comício da Fonte Luminosa, onde centenas de milhares de portugueses protestaram, por temerem o regresso da Ditadura. Tempos mais tarde, num movimento militar conhecido por “25 de novembro” foram repostos os ideais da revolução de abril.
Graças à vitória do PS nas primeiras eleições legislativas (1976) alcançou o cargo de Primeiro-Ministro, tanto no I Governo Constitucional (1976-77), como no segundo (1978). Foi nesta fase que viveu uma das situações mais dramáticas do país. Portugal encontrava-se praticamente em ruptura financeira e para piorar as atividades económicas também estavam paralisadas. Para ultrapssar isto, Mário Soares foi forçado a negociar um “empréstimo” para a economia portuguesa começar a crescer. Foi ainda nestas anos, nas rédeas dos comandos do país, que conduziu com sucesso a integração de perto de um milhão de portugueses das ex-colónias. Sem esquecer que entre 1976 e 1977 foram lançadas as primeiras leis do Estado de Direito.
Com o fim do segundo Governo Constitucional, depois de ser demitido pelo Presidente da República General Ramalho Eanes, Mário Soares passou para a oposição (1978-1983). Durante este período concentrou todas as forças na revisão da Constituição da República que resultou por um lado na eliminação da tutela político-militar do Conselho da Revolução (existente desde a revolução), e por outro na criação do Conselho de Estado, em que foi eleito para o parlamento.
Voltaria ao cargo de Primeiro-Ministro depois das eleições legislativas de 1983 numa coligação partidária PS/PSD (1983-85). Durante esses anos deparou-se com mais dificuldades financeiras, o país estava basicamente em crise, tendo sido necessário um novo pedido de resgate ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Coube-lhe, ainda, concluir o processo de adesão do país à Comunidade Económica Europeia (CEE), bem como assinar o Tratado de Adesão, em junho de 1985.
Em outubro (1985) perde as eleições. Mário Soares não baixa a guarda e candidata-se às eleições presidenciais, sendo eleito a 16 de fevereiro de 1986. Fica para a história como o primeiro a ser eleito pelo povo. Cinco anos depois, a 13 de janeiro de 1991, volta a vencer logo na primeiro volta, com a maior votação de sempre – 70,4o%. Ficou também conhecido por ter iniciado as denominadas “presidências abertas”. Durante os seus mandatos percorreu várias regiões do país, escutando as opiniões das pessoas, iniciando assim uma nova forma de governar.
Posteriormente foi membro do Conselho de Estado por inerência (1996), deputado do Parlamento Europeu (1999-2004) e em 2006 voltou a candidatar-se a cargo de Presidente da República pelo PS, tendo sido derrotado por Cavaco Silva.
Os últimos anos da sua vida foram dedicados à escrita, assim como a orientar a Fundação com o seu nome e a participar em vários debates e congressos. A 7 de janeiro de 2017 faleceu no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa. Para a história fica um homem com uma carreira política ímpar cheia de cargos, homenagens, candidaturas a eleições e distinções académicas. Ao todo foram 70 anos de via política activa.
Outros cargos
Portugal:
– Presidente da Fundação Mário Soares (1996, que o próprio fundou);
– Presidente da Fundação Portugal-África (1997);
– Presidente do Conselho de Patronos da Fundação Arpad-Szenes/Vieira da Silva (1994-2013);
– Presidente da Comissão de Investigação sobre as transacções de ouro efectuadas entre as autoridades portuguesas e alemãs durante o período entre 1936 e 1945 (1998);
– Presidente da Comissão de Honra para as Comemorações dos 500 anos da viagem de Pedro Álvares Cabral (1998);
– Presidente da Comissão Nacional das Comemorações do 50º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em celebração da Década das Nações Unidas para a educação em matéria dos Direitos do Homem (1998)
– Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa (2007-2011);
– Professor Catedrático Convidado da cadeira de “Relações Internacionais” da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra nos anos lectivos 1996-97 e 1997-98;
– Professor Convidado da Universidade Lusófona da cadeira de “Socioeconomia Política da União Europeia” no ano lectivo de 2001-02;
– Membro honorário da Academia das Ciências de Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Sociedade Portuguesa de Escritores;
– Presidente Honorário do Conselho de Patronos da Fundação Arpad Szennes/Vieira da Silva e membro do Júri do Prémio Pessoa.
Estrangeiro:
– Presidente Honorário da Internacional Socialista, depois já ter tido outros cargos na mesma (1986);
– Presidente das Comissões da IS para o Médio-Oriente e para a América Latina;
– Ministro dos Negócios Estrangeiros;
– Presidente da Comissão Mundial Independente Sobre os Oceanos (1995-1998);
– Presidente do Movimento Europeu Internacional (1997-1999);
– Presidente honorário, do Comité dos Sábios para a Reestruturação do Conselho da Europa (1997-1998);
– “Chubbs Fellowship” da Universidade de Yale (EUA), desde 1976;
– Membro correspondente da Academia Brasileira de Letras, desde 1987;
– Membro honorário do Claustro de Professores da Faculdade de Direito da Universidade de Vigo (Espanha);
– Vice-Presidente da Academia da Latinidade (Brasil);
– Presidente do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água desde Janeiro de 1998;
-Patrono do International Ocean Institute (IOI), desde 2009;
-Presidente do Júri do Prémio Félix Houphouët-Boigny, da UNESCO, desde o início de 2010;
-Membro de várias instituições tais como: Comité Europeu de Orientação “Notre Europe” (fundado por Jacques Delors); Conselho Consultivo Internacional da Fundação Paz e Democracia Monsenhor Martinho da Costa Lopes (Timor-Leste) e Fundação para uma Cultura de Paz, UNESCO, (presidida por Federico Mayor Zaragoza), entre outras.