Pietismo

Síntese histórica do movimento pietista.

A palavra Pietismo é aplicada à sensibilidade religiosa que se desenvolveu durante o Protestantismo, particularmente no século XVII, caracterizada por não constituir uma tendência teológica unificada ou uma orientação estruturada. Nesta nova sensibilidade exprimia-se um desejo de expressão prática mais intensa da piedade, articulada durante épocas num vasto número de igrejas. Pode-se dizer que o Pietismo foi uma reação à tendência mundana e intelectualista do Protestantismo, uma reação que acentuou a experiência religiosa pessoal de cada crente assim como a mediação da Bíblia no comportamento cristão quotidiano.

O Pietismo deriva não só do desenvolvimento e intensificação da vida interior, mas também da fundação de escolas, orfanatos e missões. Representa uma teologia do coração, relativamente indiferente às matérias doutrinais, e para a qual o critério fundamental é a autenticidade. Sociologicamente, o Pietismo é um movimento popular que cruza um diverso raio de designações protestantes: manifesta-se especialmente no Luteranismo, Metodismo, e nos inúmeros movimentos religiosos revivalistas que pontuaram a história do Protestantismo.

 

  • História

Historicamente, o Pietismo veio à luz durante o Protestantismo alemão no decorrer do século XVII. Philipp Jakob Spener publicou em 1675 o notável livro Pia Desideria, encorajando a formação de colégios para os crentes de ambos os sexos crescerem espiritualmente, aprofundando subsequentemente a fé por intermédio de encontros na igreja oficial.

Para Spener e o seu séquito, o Cristianismo não é primariamente um ramo de conhecimento, mas sim um modo de vida a ser expresso através de atitudes específicas. No treino de pastores, a espiritualidade é deveras mais importante do que a habilidade teológica. Assim, o objetivo dos pietistas é ressuscitar, a partir da Igreja, a fé cristã e o modo de vida cristão de cada crente.

Outros pietistas mais radicais sublinharam que a verdadeira igreja cristã só pode ser fundada em pequenas comunidades de crentes separadas do estabelecimento eclesiástico. Em suma, o Pietismo é um canto de protesto, uma contrarresposta à fossilização da vida cristã na ortodoxia dogmática e liturgia rotineira, e um hino à renovação da fé segundo o sentimento e a ação.

Mas o Pietismo não consistiu somente na ressurgência de sentimentos religiosos, tendo operado através de inúmeras caridades e influenciado social e culturalmente, instituições como a faculdade de teologia da Universidade de Halle ou a Universidade de Wurttemberg. A considerável influência do Pietismo deve-se igualmente ao “trabalho social” que os seus proponentes desenvolveram nas diversas missões organizadas, na distribuição gratuita de Bíblias, e na construção de instituições educacionais e de caridade. Considerando toda esta dinâmica, o Pietismo manifestou claramente os traços que subjazem à natureza prática do cristianismo. No entanto, gerou o avesso igualmente: um moralismo extremo e uma conceção elitista do cristianismo, baseada nas boas ações empreendidas pelos seus seguidores. Criticado por ser contra o intelectualismo, o Pietismo sempre teve fortes oposições. Outra oposição refere-se aos que advogam o revivalismo pela igreja estabelecida e os que argumentam sobre a necessidade de se estabelecerem outras igrejas. No entanto, as sensibilidades que defendiam um sentido cristão mais puro, subsequentemente entraram em colisão com as conceções mais liberais, assim com as atitudes mais ortodoxas, associadas ao Luteranismo, Calvinismo etc. Todas estas conceções mais rigorosas estavam alarmadas sobre a reivindicação pietista da experiência religiosa e da autenticidade como critérios da fé cristã. Isto é verdade tanto no plano doutrinal como no domínio moral.

Através da sua influência e dos valores incorporados, o Pietismo ultrapassou largamente o protestantismo alemão e o luteranismo. Com diferentes variedades segundo os países e igrejas (Reformadas, Baptista, Metodista e Pentecostal), inúmeros elementos do Pietismo podem ser encontrados em diferentes movimentos revivalistas no decurso da história do Protestantismo. Atualmente, pode dizer-se que o Pietismo Protestante se encontra presente no Evangelismo, que sublinha a conversão pessoal, a piedade, e um modo de vida rigoroso.

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References:

Gabler, U. (2000), Pietism in the Nineteenth and Twentieth Centuries: History of Pietism, Gottingen, Vandenhoeck & Ruprecht.

 

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