O conceito de história cultural adquiriu pulso originalmente na Alemanha cerca de finais do século XVIII, inspirado nos esforços de Herder, Hegel, entre outros, que tentaram compreender os diferentes núcleos culturais como um todo, fosse a história da literatura, da arte, ou da música. O mais notável exemplo deste género foi o pensador suíço Jacob Burckhard, que em 1860 publicou A Cultura do Renascimento na Itália, abordando não só a pintura ou a literatura, mas também as atitudes, como o individualismo, a admiração pela antiguidade, a preocupação com a moralidade e os festivais, e até mesmo a organização do Estado como uma “obra de arte”.
Cerca de inícios do século XX, o historiador holandês Johan Huizinga produziu um estudo magistral da cultura franco-flamenga, intitulado O Outono da Idade Média, mais ou menos nos moldes da obra de Burckhard, enquanto em Hamburgo Aby Warburg escreveu uma quantidade de importantes artigos, ao mesmo construindo uma magnífica biblioteca devotada à história da tradição clássica e à ciência da cultura. Porém, estas iniciativas não conheceram muitas réplicas noutros pontos europeus.
Obviamente, dado o “espírito do tempo”, a história cultural não prosseguiu incólume. Os marxistas, particularmente, indicaram que os estudos clássicos da história cultural dependiam de um postulado extremamente difícil de justificar, ou seja, o postulado da unidade e consenso cultural. O crescente interesse na história cultural holista data da década de 70, um tempo de reacção contra o determinismo socioeconómico e o reducionismo positivista. Tal como no século XVIII os historiadores foram influenciados por Herder e Hegel, no século XX foram inspirados pela antropologia cultural e pela teoria da cultura.
Em trabalhos recentes, o termo cultura prolongou o seu significado para incorporar um amplo raio de actividades, pelo que os historiados estudam a cultura popular ou a cultura de elite, reconhecem a importância da cultura material para além do estudo da arte, atribuem um importante peso à cultura oral e não apenas escrita, e investigam o ritual a par do drama. A ideia de cultura política aumenta ainda mais o perímetro do campo em questão, pois possibilita a análise do quotidiano considerando os princípios que subjazem às práticas.
De igual modo, os pressupostos tradicionais sobre a relação entre cultura e sociedade foram revertidos: os historiadores culturais, como os teóricos da cultura, afirmam agora que a cultura tem o potencial de resistir às pressões sociais, inclusive que transforma a realidade social. Daí o aumento do interesse na história das representações (quer verbais ou visuais), na história do imaginário, e especialmente na história da construção, invenção e constituição do que antes se denominada como factos sociais, como as classes sociais, a nação e o género.
Outra abordagem, em parte inspirada na antropologia, concentra-se nos encontros culturais, colisões e invasões, ou no processo de socialização, recepção, e resistência.
References:
Hunt, L. (ed.) (1989) The New Cultural History, Berkeley, CA.