Concílio de Niceia

O Concílio de Niceia foi uma das mais importantes reuniões do cristianismo primitivo. Neste encontro foram estabelecidas muitas das bases dogmáticas da fé cristã.

Concílio de Niceia

Concílio de Niceia

O Concílio de Niceia realizou-se no ano de 325 na actual cidade de İznik na Turquia. Participaram desta reunião os mais influentes bispos de então, o Papa por esta época embora já com um papel de destaque não possuía o poder que mais tarde viria a ganhar, e não comparecer a esta reunião pela distância que Roma situava-se do local de encontro.

A escolha da antiga cidade de Niceia na parte oriental do Império Romano, não foi aleatória. No século IV o cristianismo estava amplamente difundido na parte oriental do Império, o paganismo ainda era a religião maioritária na parte ocidental do Império. Segundo revelam algumas fontes como Atanásio de Alexandria, estariam neste Concílio entre 260 a 320 bispos, apenas cinco vinham da parte ocidental do império.

A reunião tinha como objectivo discutir as mais variadas questões associadas ao cristianismo. A celebração da Páscoa, a divindade de Jesus Cristo ou não, assente na controvérsia gerada pelo movimento ariano e a conversão dos pagãos ao cristianismo através do baptismo. Alguns historiadores acreditam que possa ter sido neste Concílio que foram escolhidos os Evangelhos pertencentes ao Novo Testamento na Bíblia, o anti-semitismo cristão começou a ter as suas bases nesta reunião, com a separação da celebração da Páscoa judaica e cristã.

A data da celebração pascal era diferenciada entre o ocidente e o oriente, no Concílio de Niceia ficou estabelecido que a Páscoa seria celebrada em toda a cristandade no primeiro Domingo de Lua Cheia após o equinócio de Primavera.

A Santíssima Trindade passou a ser parte central da fé cristã nesta reunião. Embora de extremo relevo já anteriormente, a pregação levada a cabo por Ário relativamente ao facto de Jesus ser uma criação divina e um instrumento de Deus, não parte de uma entidade única. Pai, Filho e Espírito Santo, lançou uma profunda discussão e controvérsia dogmática na época, e levou à fixação da Santíssima Trindade como parte fulcral e central da fé cristã em clara contradição com o pensamento de Ário.

O Imperador Constantino compareceu neste Concílio, tentando influenciar os bispos para a criação de uma religião mais unidade e aglomeradora que servisse os seus próprios interesses políticos. Alexandre de Alexandria e mais tarde Atanásio de Alexandria foram durante muitas décadas os principais críticos do movimento ariano. Eusébio de Cesareia foi o porta-voz dos interesses arianos nesta reunião. O ambiente na reunião pelas enormes diferenças dogmáticas foi bastante crispado entre arianos e ortodoxos.

Do Concílio de Niceia emergiram um conjunto de conclusões, que ainda são visíveis na crença cristã actual através do Credo Niceno ou profissão de fé.

            “Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis; E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado do Pai, congénito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial do Pai, por quem todas as coisas foram feitas no céu e na terra, o qual por causa de nós homens e por causa de nossa salvação desceu, se encarnou e se fez homem, padeceu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e virá para julgar os vivos e os mortos; E no Espírito Santo. Mas quantos àqueles que dizem: ‘existiu quando não era’ e ‘antes que nascesse não era’ e ‘foi feito do nada’, ou àqueles que afirmam que o Filho de Deus é uma hipótese ou substância diferente, ou foi criado, ou é sujeito à alteração e mudança, a estes a Igreja anatematiza”

Ao ler o Credo Niceno é facilmente perceptível a preocupação em frisar a divindade de Jesus Cristo, a existência da Santíssima Trindade e o refutar de qualquer dúvida sobre a reencarnação de Cristo e a clara rejeição dos dogmas arianos, o que demonstra que os arianos não tiveram a capacidade negocial necessária para contrariar as intenções dos ortodoxos, mais tarde utilizando as conclusões deste Concílio, os arianos foram considerados heréticos e perseguidos pelos católicos.

Outra preocupação visível no Credo é a ruptura com a religião pagã que anteriormente dominava o Império Romano, ao ser reafirmada a importância de Deus na criação, como parte integrante da Santíssima Trindade e como único Deus a ser adorado.

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References:

FONSECA, Luís Adão da; La Cristiandad Medieval, EUNSA, 1984

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