Che Guevara

Biografia de Ernesto Che Guevara

Che Guevara nasceu no dia 14 de junho de 1928 em Rosário, uma das cidades mais importantes da Argentina, no seio de uma família da classe média com tendências esquerdistas. Por volta dos dois anos de idade, manifestava-se o seu primeiro ataque de asma, uma debilidade que acompanhá-lo-ia para sempre.

            Em 1932, quando tinha quatro anos, os seus pais decidiram mudar-se para Buenos Aires. Os ares da capital, no entanto, revelaram-se severos para o pequeno Che, que piorava cada vez mais. Decidiram, assim, ir viver para Córdova, onde a sua saúde melhorou e, mais tarde, instalaram-se em Alta Gracia. Apesar da sua condição, que algumas vezes o impedira de ir às aulas, Che foi um excelente aluno e um leitor assíduo, revelando curiosidade por um leque variado de assuntos. Também praticava desporto regularmente, o que o tornou fisicamente apto para o que viria a experienciar no futuro.

            Posteriormente, ingressou na Faculdade de Medicina, onde manifestou particular interesse pela cura da lepra e por outras doenças tropicais. Entretanto, travou conhecimento com Alberto Granado (1922-2011), com quem empreenderia uma grande viagem de mota pela América do Sul.

Na verdade, durante as férias, Che viajava bastante pela América Latina, contactando com os elevados níveis de pobreza dos diversos países. Começara, deste modo, a alimentar os seus pensamentos revolucionários com vista a uma melhor distribuição dos bens entre os povos. Aliás, a sua visão do mundo mudou quando, então, a 29 de dezembro de 1951, partiu com Alberto Granado na já referida viagem que, com uma duração de nove meses, foi feita essencialmente de mota. Percorreram o Chile, o Peru, a Colômbia e a Venezuela, contactando com muitas pessoas e com as civilizações indígenas. Durante esta viagem, Che foi registando as suas impressões, as quais foram posteriormente editadas. 1

Entretanto, em 1953 e de volta a Buenos Aires, conclui a sua licenciatura. Pouco tempo depois, começou a trabalhar em Caracas, nomeadamente com leprosos. No entanto, ao ter tomado conhecimento da revolução que estava em curso na Guatemala, entusiasmou-se e partiu. Porém, a revolução progressista que se operava, liderada por Jacobo Arbenz (1913-1971), colidiu com o monopólio das empresas dos Estados Unidos na Guatemala. Como consequência, os americanos retaliaram e o regime de Arbenz caiu. Perante esta situação, Che constatou que era urgente participar na luta contra o imperialismo americano, encorajando os seus companheiros guatemaltecos a combater.

No ano seguinte, em 1954, partiu para o México, onde travou conhecimento com os irmãos Raul e Fidel Castro (1926-2016), exilados políticos que planeavam derrubar o regime ditatorial de Fulgencio Bastista (1901-1973), em Cuba. Depois de uma longa e produtiva conversa entre Fidel e Che, o último decidiu não só ser o médico da futura expedição, como também fazer parte do Movimento do 26 de Julho, de Fidel.

Assim, no dia 2 de dezembro de 1956, os 82 homens do Movimento de Fidel desembarcaram na praia Las Coloradas, em Cuba. Imediatamente detetados pelas tropas de Batista, quase que foram derrotados na totalidade. Alguns homens morreram e outros ficaram feridos. Deste modo, parafraseando Che, tornou-se necessário reagrupar os homens e integrá-los como guerrilha. Pelo final do mês, já reagrupados, avançaram para a Sierra Maestra e levaram a cabo a sua primeira ação vitoriosa, atacando o quartel de La Plata. Che, que se tinha inicialmente alistado como médico, começou a sua ação de combatente e tornou-se comandante.

A ação no terreno, até finalmente terem derrubado Batista na tomada de Santa Clara, durou dois difíceis anos, na medida em que, por exemplo, as condições do terreno eram adversas, os elementos naturais revelavam-se hostis e a fome apertava. Che provou ser um homem solidário e amigo dos seus amigos, fazendo tudo o que estava ao seu alcance para ajudar e suprir as necessidades do exército rebelde, mesmo quando os seus ataques de asma o atormentavam.

Em janeiro de 1959, Fidel Castro ordenou que avançassem sobre Havana e as tropas tomaram o quartel de Columbia e a fortaleza de Cabaña.

É, neste sentido, inegável a ação de Che Guevara na Revolução Cubana. Durante mais de seis anos de trabalho, de 1959 a 1965, após a vitória ter sido alcançada, a imprensa revolucionária oferecia a Che o tributo que merecia e o seu nome tornava-se, um pouco por todo o mundo, sinónimo de revolução. Também se tornou conhecido pela sua oposição a qualquer forma de imperialismo e neocolonialismo.

 Já com nacionalidade cubana, que lhe fora atribuída pelos serviços prestados a Cuba, e sem nunca descurar as suas obrigações nas Forças Armadas Revolucionárias, Che visitou muitos países africanos e asiáticos.

Em outubro de 1959 foi anunciada a sua posse de Chefe de Departamento de Indústrias do Instituto Nacional de Reforma Agrária, a 26 de dezembro foi nomeado Presidente do Banco Nacional de Cuba e, em 1961, Ministro da Indústria. Foram, efetivamente, muitas as responsabilidades que o distinguiram, sempre acompanhadas de discursos notáveis, nomeadamente sobre o socialismo e a doutrina revolucionária da guerrilha, ou denúncias ao imperialismo americano, e uma enorme força de vontade para mudar o mundo.

É de salientar também que, ao ter proposto a supressão dos bens materiais e incentivado ao trabalho voluntário, dando ele próprio o exemplo ao trabalhar voluntariamente mais de 240 horas, recebeu um distintivo e certificado de trabalho comunista.

Em dezembro de 1964, Che viajou para Nova Iorque no intuito de criticar e condenar a intervenção dos Estados Unidos da América no que dizia respeito a assuntos de Cuba. No ano seguinte, em 1965, cada vez mais desiludido com o panorama político mundial, nomeadamente com a dependência cubana da União Soviética, ou com a significativa afirmação imperialista dos Estados Unidos, decidiu abandonar a vida pública. Viajou, então, para o Congo, onde participou numa guerra civil e, depois, para a Tanzânia e para a República Checa.

Em 1966 foi para a Bolívia, onde iniciou uma luta de guerrilha para a libertação nacional. O objetivo de Che consistia sobretudo em libertar as massas trabalhadoras bolivianas das terríveis condições de miséria. Che propunha que a guerrilha fosse composta por combatentes de vários países sul-americanos, pois não acreditava nas diferenças entre latino-americanos. Via-os como irmãos de luta, sobretudo porque partilham a mesma história, o mesmo carácter, a mesma língua e, principalmente, o mesmo explorador: o inimigo que trata todos do mesmo modo.

No entanto, depois de algumas vitórias iniciais, em 1967, o pequeno grupo de guerrilheiros foi quase aniquilado na sua totalidade pelo exército boliviano, o qual era apoiado pela CIA. Che, que ficara ferido durante o ataque, foi capturado e executado com um tiro no pulmão esquerdo. Foi enterrado numa vala comum na Bolívia, mas, em 1997, os seus restos mortais foram transportados para Cuba.

A repercussão mundial da sua morte foi extraordinária, na medida em que surgiram por todo o mundo protestos que reclamavam, a título de exemplo, a condenação pelo seu assassinato. Na Argentina, estes assumiram um carácter violento e os confrontos dos estudantes com a polícia prolongaram-se durante bastante tempo.

Esta onda de indignação e de revolta seria apenas o germinar de um poderoso símbolo, o qual se transformaria num ícone, numa inspiração eterna para a ação revolucionária.

1 Guevara, Che. Diários de Motocicleta. Alfaguara, 2011

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References:

Harris, Richard L. Che Guevara: A Biography. California: Greenwood, 2011

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