O Caso Dreyfus é, elucidativo do enraizamento que o anti-semitismo tinha nas sociedades ocidentais de então. Dreyfus (1859-1935) era um oficial de origem judaica do exército francês, que no âmbito deste caso foi acusado, sentenciado e mais tarde exonerado da acusação de espionagem a favor dos alemães.
Ao ser descoberta uma carta de teor suspeito na embaixada alemã, por uma empregada de limpeza, confirmada pelos serviços secretos franceses como, endereçada de um oficial francês para a embaixada alemã, iniciou-se um processo de investigação para apurar o responsável pela espionagem. Esta carta ficou conhecida como – le bordereau.
Embora tenha tido especial relevo no século XX, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, o anti-semitismo estava profundamente estabelecido e consolidado na Europa, inclusivamente partidos de aspiração anti-semita, conseguiram assento parlamentar tanto na França como na Inglaterra.
De entre os oficiais que poderiam ter escrito a carta, apenas Alfred Dreyfus tinha ascendência judaica. Apesar da não existência de provas conclusivas sobre a culpabilidade, Dreyfus foi condenado a prisão perpétua na ilha do Diabo em 1894.
Em 1897, Mathieu Dreyfus, irmão de Alfred, consegue provar a inocência do irmão e a culpabilidade de outro oficial, o major Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy. Num segundo julgamento é, repetida a sentença inicial, esta decisão provoca uma onda de indignação e profunda divisão da sociedade francesa, entre aqueles que apoiavam Dreyfus, e aqueles que acreditavam nas acusações de espionagem.
Esta divisão ia muito além da questão de inocência ou culpabilidade, era uma questão estruturante da própria sociedade, dividida entre anti-semitas e apoiantes da comunidade judaica enquanto parte integrante da sociedade. Entre apoiantes da república e Dreyfus, de ala esquerdista e apoiantes da monarquia de ala mais conservadora.
Personalidades como Émile Zola ou Anatole François Thibault foram, figuras preponderantes para a massificação e discussão pública deste caso enquanto apoiantes de Dreyfus.
Esta comoção e discussão provocaram, um contínuo escalar e extremar de posições que resultaram em inúmeros mortos, violações e pilhagens de locais associados à comunidade judaica, tanto na metrópole francesa como no espaço colonial.
Em 1906, é reaberto o processo, desta vez são colocadas de parte acusações e provas fraudulentas, Dreyfus é exonerado e é comprovada a culpabilidade de Charles-Ferdinand Esterhazy.
References:
ARDENT, Hannah; As Origens do Totalitarismo; Dom Quixote; Lisboa; 2006