Paulo Freire , pedagogo e patrono da Educação Brasileira, autor de uns dos mais influentes manuais educativos do século XX, A Pedagogia do Oprimido, e um dos maiores contribuidores para as campanhas de alfabetização no Brasil, nasceu no Recife em 1921 e morreria na cidade de São Paulo em 1997. A sua obra e vida são estudadas actualmente por teóricos e pedagogos interessados numa educação preocupada com as questões de alienação social e orientada para a emancipação.
A sua visão de conhecimento de Paulo Freire choca directamente com o sistema educativo actual, que Freire considerava moldado pela razão tecnocrático e baseado numa ética individualista e consumista. As suas ideias são actualmente aplicadas por professores, teóricos do desenvolvimento, profissionais de saúde, trabalhadores prisionais e especialistas no ensino de línguas sendo, por outro lado, um pensador cujas ideias radicais são consideradas, por muitos, como controversas e alvo de acesas discussões.
Infância e início da carreira
Paulo Freire nasceu numa das regiões mais pobres do Brasil, o Nordeste, e viveu os efeitos da Crise de 1929 com apenas 8 anos, conhecendo de perto o significado da pobreza e miséria. A sua família mudar-se-ia do Recife para Jabatoão em 1931. Aos 13 anos, o seu pai morreu, o que levou a adiar os seus estudos até aos 16. Em Jabatoão, Paulo conviveu com as crianças de famílias pobres e de trabalhadores, o que, segundo o próprio lhe permitiu “habituar-se à linguagem do povo”.
Embora quisesse estudar mais, muitas vezes a fome não lhe permitia concentrar-se nos problemas à sua frente. Como o próprio admite, apenas quando o seu irmão mais velho começou a trabalhar, Freire se pode concrentrar nos estudos. Este momento permitiu a Freire perceber a ligação entre classe social e conhecimento, mas também a sua paixão pelo ensino, descoberta “entre os 15 e os 23 anos.” Em 1943 começou a estudar Direito na Faculdade do Recife, onde também se dedicou aos estudos de filosofia da linguagem.
O seu primeiro trabalho foi como director do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social no Estado de Pernambuco, onde coordenou o trabalho dos professores com as crianças e as suas famílias. Esta experiência ajudou Freire a pensar em como ajudar os seus beneficiários de forma prática e concreta e a perceber como diferença entre a linguagem da classe média e a linguagem popular dificultava o apoio a esta última.
As campanhas de alfabetização e o Método Paulo Freire
Freire foi um dos fundadores do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife e tornar-se-ia o seu diretor em 1961. Anos antes, em 1958, completaria a sua tese de doutoramento “propondo uma revisão radical” da educação no Brasil “começando pelo estudo do processo educacional ancorado em circustâncias históricas particulares”.
Apoiando-se na sua intuição, estudos e a equipa do Departamento, Freire coordenou diversas campanhas de alfabetização. A mais conhecida e que impressionou a opinião pública brasileira, viu 300 trabalhadores serem alfabetizados em 45 dias na cidade de Angicos. O governo brasileiro de João Goulart apoiou a multiplicação desta experiência e a sua massificação, mas poucos meses depois, esta campanha foi interrompida pelo golpe militar que instaurou a ditadura no Brasil.
Freire foi forçado ao exílio no Chile, mas continuou a advocar o seu método que invertia a concepção tradicional de mestre e educando. Paulo Freire pensou num método de educação baseado na ideia de um diálogo entre educador e educando. Para Freire, năo há educadores, nem educandos puros“, sendo a educação uma açăo dialogal entre educadores-e-educandos, onde ambos aprendem e descobrem.
A Pedagogia do Oprimido
Este é o livro mais famoso de Freire e que o catapultou para a esfera mundial como um dos autores fundamentais da Pedagogia Crítica. Segundo Freire, a educação exige um comprometimento com o objectivo de construir um mundo social melhor, e necessista uma resistência activa contra estruturas, ideias e práticas opressivas típicas da educação “bancária”, na qual apenas se deposita conhecimento no aluno. A ideia orientadora de Freire é a da educação como prática da liberdade com o objectivo de emancipar tanto o oprimido, como o opressor.
Para Freire, a educação não pode ser considerada como neutral, dado a educação ou funciona como ensino para a conformidade ou como prática de liberdade onde se aprende a lidar criticamente como o mundo. O seu método de alfabetização não é, portanto, um método de ensino inócuo e vazio de valores. É um método activo de tomada de consciência do mundo e de si, através das palavras comuns e do diálogo. A pedagogia do oprimido é uma pedagogia que permite ao oprimido tomar consciência de si e tornar-se sujeito do seu próprio destino histórico, criando um mundo mais criativo, justo e social.
Legado
Paulo Freire é um dos pensadores mais importantes do Brasil e da Pedagogia. Na sua vida e obra, sempre se colocou ao lado dos oprimidos, terminando a sua missão em São Paulo, depois de exercer vários cargos como professor em Harvard ou supervisor do Partido dos Trabalhadores para a alfabetização de adultos. A sua contribuição teórica chegou a diversas partes do mundo, especialmente em movimentos interessados na justiça social, como os movimentos anti-coloniais ou em centro de ensino críticos. A sua contribuição é ainda hoje alvo de ampla discussão, mas o seu nome é, ainda hoje, um dos mais reconhecidos, estudados e criticados nos círculos académicos.