Evangelização no Brasil Colonial (XVI-XVII)

          A  implementação de um processo de  evangelização no Brasil, a partir do século XVI, deve ser entendida  não apenas  pela necessidade de construção de uma’ imagem civilizatória’, criada pela Coroa Portuguesa para  a nova colônia,  mas, sobretudo pela compreensão do próprio significado que o  cristianismo tem  na história da formação do Estado português.

          A história da formação do reino português tem sua origem religiosa, ainda na Batalha de  Ourique (1139), quando a aparição de Jesus Cristo  a Dom Afonso Henriques, teria garantido  não apenas a vitória do exército português sobre os mouros, mas definido a crença religiosa portuguesa em Jesus Cristo. Dom Afonso Henriques tornou-se Afonso I ,o Primeiro rei de Portugal, legitimado pela  origem divina cristã que moldou as bases do Estado Português. O  impacto do milagre de Ourique e da religião cristã em Portugal permaneceu na transplantação da cultura portuguesa para suas colônias, incluindo o Brasil.

          A armada de Cabral, às vésperas da partida trazia a bandeira da Ordem de Cristo, abençoada então na Capela da Ermita de São Jerônimo, transmitida por Dom Manuel à Pedro Álvares Cabral, em 08 de março de 1500. A presença de Capelães era comum nas viagens marítimas realizadas pelos portugueses. A Ordem de Cristo financiou as viagens marítimas portuguesas de descoberta e também  os dois séculos de missões jesuíticas, no Brasil.

             Na Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de Cabral  há registros da preocupação  que se tinha para que as sociedades indígenas encontradas, recebessem o sacramento do Batismo. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, missionários católicos cristianizaram o Brasil. Foi somente com a mudança da mentalidade europeia, influenciada pelo movimento da Ilustração e pelas Reformas de Pombal, na segunda metade do século XVIII, que os jesuítas foram expulsos dos territórios portugueses.

            Durante a Primeira Missa realizada no Brasil, Pedro Álvares Cabral empenhou a Bandeira da Ordem de Cristo e não a de Portugal. A Ordem de Cristo foi o elemento que integrou a fé cristã e o Império Português. À Ordem de Cristo foi concedido o direito de jurisdição espiritual sobre as Ilhas do Atlântico, Costa da África e até mesmo a Índia, na Ásia. O padroado foi concedido como um direito de conquista. Por isso, é correto afirmar que a Igreja Católica foi parte do projeto colonialista português.

      Durante a fase inicial da Conquista, a catequese  foi apresentada como  a melhor  solução encontrada pelos portugueses para conter a ‘selvageria’ dos nativos- que agredia os hábitos vigentes na Europa civilizada e cristã. A Guerra Justa foi a forma encontrada pelos colonizadores portugueses de obrigar os indígenas a abandonar sua cultura, seus costumes, sua língua, atividades econômicas e crenças religiosas, substituindo-os por valores da fé católica. Os nativos que resistiam eram escravizados ou mortos.

            A partir do século XVI, a Igreja Católica já havia se tornado o principal agente educacional e cultural da colônia. A ordem dos jesuítas criou uma rede de ensino na colônia, formando escolas, colégios e seminários. Os jesuítas persistiram na catequese dos povos indígenas, onde destacaram-se os evangelistas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.

Nas reduções ou missões jesuíticas os valores europeus e cristãos eram transmitidos aos indígenas do Brasil de duas maneiras:  a partir da sistematização da língua geral ( baseada no Tupi) e também através de apresentações teatrais ( autos) que representavam constantemente a luta entre o Bem e o Mal – ou seja, o embate entre a palavra de Deus e o Demônio dos rituais tribais.

Os padres jesuítas defendiam-se afirmando que ao manter os nativos nas missões, mantinham-os afastados da sociedade colonial, preservando-os da escravidão, das doenças e de ‘hábitos desregrados dos colonizadores’- nas palavaras do próprio padre Jesuíta, Antônio Vieira.

Em questão, a reflexão de que o processo de evangelização do Brasil pelos portugueses durante a colonização representou a violência simbólica imposta pelos conquistadores, colonizadores e evangelizadores que tomados por uma visão eurocêntrica, não respeitaram a tradição, a cultura e a identidade dos povos originários brasileiros.

 

 

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References:

CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil– Dos Jesuítas aos Neopentescostais .MG: editora Ultimato, 2000.

FLUCK, Marlon Ronald. O papado: síntese das principais decisões ocorridas na Idade Média. In: DREHER, Martin N. (ed.). Peregrinação;estudos em homenagem a Joachim Herbert Fischer pela passagem de seu 60° aniversário.
S. Leopoldo, Sinodal, 1990.
_______________Evangelização no Brasil Colônia(Séculos XVI e XVII).Estudo Comparativo de   Três Modelos Missionários.  Artigo disponível em:http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/996

NÓBREGA, Manuel da. Cartas do Brasil e mais escritos . Coimbra, Universidade de Coimbra, s.d. (Acta Universitatis Coimbrigensis). p. 34.

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