Telê Santana foi um dos treinadores mais vitoriosos do futebol brasileiro, tendo conquistado títulos de expressão em boa parte dos clubes que dirigiu. No entanto, seu nome sempre estará associado a uma equipa que não alcançou o sucesso desejado: a seleção brasileira que disputou o Mundial de 1982, na Espanha. O time de Telê, que elencava craques magistrais como Zico, Falcão, Sócrates, Júnior e Toninho Cerezo, encantou os amantes do bom futebol nos gramados espanhois, e a derrota por 3 a 2 para a Itália, que tirou o Brasil da Copa, é ainda hoje lembrada – e por muitos lamentada – como uma das grandes partidas da história dos Mundiais.
Eliminado do torneio, Telê Santana foi aplaudido de pé pelos jornalistas quando entrou na sala de imprensa para a entrevista coletiva após a derrota. Quatro anos depois, voltou a dirigir a seleção brasileira em um Mundial, no México – ele ainda é o único a ter comandado o Brasil em duas Copas consecutivamente. Mesclando remanescentes de 82 com uma nova geração que surgia no país – Careca, Alemão, Müller, Branco -, Telê voltou a formar uma boa equipa e novamente ficou pelo caminho: o Brasil foi eliminado pela França nos pênaltis, nas quartas de final.
Telê Santana da Silva nasceu em Itabirito, no estado de Minas Gerais, em 26 de julho de 1931. Mudou-se para o Rio de Janeiro para jogar pelo Fluminense. Era um avançado que atuava pela direita, de boa qualidade técnica. Como era muito magro – 61kg distribuídos por 1,76m – e não desistia facilmente das jogadas, ganhou dos torcedores o apelido de ‘Fio da Esperança’ em um concurso promovido pelo Jornal dos Sports, do Rio de Janeiro.
Pelo Fluminense, Telê disputou 558 partidas entre 1951 e 1960 – o terceiro jogador que mais atuou pelo Tricolor Carioca – e marcou 163 gols, o sexto maior goleador de sempre do clube. Também atuou por Guarani, Madureira e Vasco, mas foi no Flu, seu time de coração, que ele conquistou seus títulos como jogador: duas vezes o Campeonato Carioca (1951 e 1959) e duas vezes o Torneio Rio-São Paulo (1957 e 1960).
A carreira de treinador começou em 1969, novamente no Fluminense, e em seu ano de estreia ganhou o primeiro título à beira do campo, o Campeonato Carioca. No ano seguinte, já no Atlético Mineiro, Telê Santana foi campeão campeão mineiro, e em 1971 conquistou pela primeira vez o Campeonato Brasileiro. No Brasil, devido à dimensão continental do país, os campeonatos estaduais sempre foram muito valorizados, especialmente no Século XX. Como treinador, Telê conseguiu uma proeza inédita, foi campeão dos quatro principais campeonatos estaduais do país: Carioca pelo Fluminense (1969), Mineiro pelo Atlético (1970 e 1988), Gaúcho pelo Grêmio (1977) e Paulista pelo São Paulo (1991 e 1992).
Já reconhecido como um grande treinador, Telê assumiu a seleção brasileira em 1980. Amante do futebol vistoso e ofensivo, Telê reuniu uma constelação de estrelas com a camisa amarela, e em 1981 assombrou a Europa ao vencer três potências do futebol em amistosos preparatórios para o Mundial: 1 a 0 na Inglaterra, em Wembley; 3 a 1 na França, no Parc des Princes; e 2 a 1 na Alemanha Ocidental, em Estugarda. No Mundial de 82, na Espanha, o Brasil derrotou a União Soviética (2 a 1), a Escócia (4 a 1) e a Nova Zelândia (4 a 0) na primeira fase. A vitória por 3 a 1 sobre a então campeã mundial Argentina, com Diego Maradona em campo, reforçou ainda mais o favoritismo do Brasil, aumentou a esperança da torcida brasileira e, consequentemente, deu tons ainda mais dramáticos à eliminação para a Itália no jogo seguinte.
Com o segundo insucesso no Mundial do México, em 1986, Telê passou a ser considerado no país um treinador de pouca sorte. A volta por cima do técnico começou a partir da sua chegada ao São Paulo, em 1990. No Tricolor Paulista, Telê voltou a mostrar sua principal qualidade, a formação de um time baseado na qualidade técnica dos jogadores, sempre em busca das vitórias. Ainda que tenha perdido a decisão do Brasileiro de 1990 para o rival Corinthians, o São Paulo de Telê já possuía um time preparado para a sequência de conquistas que estavam por vir.
O meia Raí era o principal nome de um time que ainda contava com o goleiro Zetti, o jovem lateral Cafu, os zagueiros Ricardo Rocha e Ronaldão, o talentoso dublê de lateral e meia Leonardo, e o atacante Müller – todos eles seriam campeões mundiais com a seleção brasileira, dirigida por Carlos Alberto Parreira, em 1994. Juntaram-se ao grupo posteriormente outros nomes de destaque como o veterano Toninho Cerezo, o meia Juninho Paulista e o atacante Palhinha.
O São Paulo de Telê marcou época ao conquistar dez títulos entre 1991 e 1994: dois Campeonatos Paulistas (1991 e 1992), o Campeonato Brasileiro de 1991, duas Copas Libertadores (1992 e 1993), dois Mundiais Interclubes (1992, vencendo o Barcelona na decisão, e 1993, superando o Milan), duas Recopas Sul-Americanas (1993 e 1994) e a Supercopa da Libertadores em 1993. Da torcida do São Paulo, Telê recebeu o carinhoso epíteto de ‘Mestre’.
Em janeiro de 1996, Telê sofreu uma isquemia cerebral que o obrigou a se afastar do futebol, sua grande paixão. Em 1997, após um período de recuperação, o técnico assinou contrato com o Palmeiras, rival do São Paulo, mas nem chegou a estrear, devido ao agravamento dos problemas de saúde. Era o fim definitivo da carreira de treinador. Telê voltou a viver em Minas Gerais, e faleceu em 21 de abril de 2006, aos 74 anos, depois de passar um mês internado por causa de uma infecção intestinal.