Eric Moussambani

Eric Moussambani foi um nadador equato-guineense. Nos Jogos Olímpicos de Sidney’2000 fez a pior prestação de sempre, mas a sua determinação elevou-o a herói.

A história de Eric Moussambani

Eric Moussambani nasceu a 31 de maio de 1978 na Guiné-Equatorial e, com 21 anos na altura, ouviu um anúncio na rádio a informar que o Comité Olímpico Nacional estava à procura de nadadores para participar nos Jogos Olímpicos. Mesmo sem saber nadar, Eric Moussambani optou por candidatar-se e, quando se apresentou perante o Comité Nacional, percebeu que era o único inscrito, pelo que a sua participação estava assegura.

Porém, Eric Moussambani nunca tinha nadado na vida, pelo que pediu auxílio a um pescador local que lhe ensinou a mover os braços e pernas com o objetivo de se manter à tona da água e pouco a pouco galgar terreno.

“Aqui, na Guiné, não temos o hábito de nadar. Quando vamos às praias ficamos na zona rasa e é raro alguém aventurar-se e ir lá para o fundo. Um dia, enquanto eu estava a limpar a casa, passaram uns anúncios na rádio a dizer que a federação estava à procura de nadadores e que quem se interessasse poderia inscrever-se. Optei por inscrever-me, mas mais ninguém se apresentou. Eu fui o único que apareci para fazer a inscrição – eu e uma menina, Paula Barila. Como fomos os únicos que apareceram, informaram-nos que íamos competir nos Jogos Olímpicos e pediram-nos que começássemos a treinar. Nessa altura, faltavam quatro meses para viajarmos para os Jogos. Então pedi a um pescador, chamado Silvestre, que me ensinasse como nadar. Ele disse que era suposto mover os braços e os pés e tentar flutuar. E, com ele, aprendi uma forma de mover os pés e os braços. Fizemos isso durante três semanas e depois comecei a ir praticar num hotel. Começava às cinco da manhã e ia até as seis da manhã. Tinha que ser nesse horário, porque explicaram-me que eu não podia ocupar a piscina durante horário aberto aos hóspedes”, explicou Eric Moussambi numa entrevista publicada pela Globo, canal online e de televisão brasileiro.

O Wild Card que lhe valeu a fama

Os Jogos Olímpicos têm como costume e quase “brasão” a paz mundial e o apoio aos países menos desenvolvidos. Numa altura em que a Guiné-Equatorial estava sobre um regime ditatorial e no sentido de ajudar os países que precisavam ganhar experiência na modalidade, o Comité Olímpico Internacional (COI) ofereceu um wild card (uma vaga oferecida a alguém que não se qualificou pelos métodos tradicionais) à Guiné Equatorial.

Chegada a Sidney

Quando chegou a Sidney, Eric Moussambani rapidamente deparou-se com a piscina Olímpica (50 metros) e ficou perplexo com a distância entre as margens, principalmente porque nunca tinha nadado numa tão longa (as dos hotel onde havia treinado tinham 12 metros de cumprimento). Além disso, descobriu que não participaria na modalidade de 50 metros livres, mas na de 100m.

“Não posso nadar aqui, porque eu nunca entrei numa piscina como essa! É muita água, é muito grande para mim! Porém, eles disseram-me: «Mas é aqui que você vai competir.» Eu respondi: «Não, eu não posso! Eu nunca treinei numa coisa assim. É a primeira vez na minha vida que vejo uma piscina dessa dimensão», mas eles encerraram a conversa: «Olha desenvencilha-te, faz tudo o que puderes para conseguires». Eu não tinha técnico, eu estava sozinho, não tinha ninguém. Por isso, pensei que seria uma boa ideia observar os outros competidores a nadar, bem como a forma como os treinadores orientavam os seus atletas. Observei como eles moviam os pés, como se posicionavam no bloco de saída, os seus movimentos de braços e quantas vezes eles respiravam”, explicou na mesma entrevista Eric Moussambani.

Porém, as dificuldades do nadador equato-guineense eram tão grandes, que o treinador norte-americano chegou mesmo a perguntar se ele era, efetivamente, um atleta e teve de ser o técnico nacional da África do Sul a ensinar-lhe a dar a volta no fundo da piscina.

2 minutos que ficaram para a história

No dia da prova, com cinco linhas desocupadas, só Eric Moussambani e mais dois atletas preparavam-se para nadar os 100 metros livres. Eram eles: Niger’s Karim Bare e Tajikistan’s Farkhod Oripov. Porém, os outros dois nadadores acabaram por fazer uma falsa partida, sendo, por isso, desqualificados.

Com os holofotes todos centrados nele, Eric Moussambani foi obrigado a competir sozinho, numa prova cujo recorde mundial pertencia ao holandês Pieter van den Hoogenband com 47 segundos e 84 centésimos. Porém, para se qualificar para a fase seguinte, o nadador equato-guineense precisava de cerca de 1 minuto e 21 segundos, marca não alcançada, mas algo que não o impediu de se tornar um ícone e um dos melhores momentos da história dos Jogos Olímpicos para o jornal inglês The Guardian.

Mal se lançou, Eric Moussambani até começou com alguma força e técnica minimamente apurada. Porém à medida que nadava, a sua falta de experiência começaram a fazer-se notar. Quando chegou à outra margem, em cerca de 40 segundos, as possibilidades de se qualificar ainda eram matematicamente possíveis, mas as forças começaram a faltar-lhe.

“No início eu estava com ritmo forte, porque queria acabar com aquilo o mais rápido possível. Só que faltava a volta. Foi aí que eu comecei a notar o cansaço dos meus músculos, dos meus braços, dos meus pés. Além de cansado, eu já não nem sabia como respirar, só conseguia ficar com a boca aberta e tentar apanhar ar. Foi quando comecei a pensar: quando é que isto termina? Quando é que eu vou terminar? Foi nesse estado de cansaço que eu comecei a ouvir as pessoas na plateia. Elas estavam a encorajar-me e aplaudir-me. Ganhei uma força que fez com que eu não parasse. E consegui! Nesse momento senti-me forte e aliviado, orgulhoso do meu esforço: «Uau, consegui completar os cem e competir nos Jogos Olímpicos»”, explicou Eric Moussambani, que ficou com a alcunha de Eric the Eel (a Enguia, em português).

Um dos fundadores do Comité Olímpico Internacional e criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, Baron Pierre de Coubertin, uma vez afirmou: “”O mais importante nos Jogos Olímpicos não é vencer, mas participar. O mais essencial na vida não é conquistar, mas lutar bem”.

A forma como lutou, contra todas as expectativas, fez Eric Moussambani ser idolatrado, aplaudido e encorajado pelo público como se fosse um campeão, mesmo que tenha demorado 1 minuto, 52 segundos e 72 centésimos para concluir a prova, naquela que foi a pior prestação registada até hoje nos Jogos Olímpicos.

Depois do sucesso

Posteriormente ao sucesso alcançado nos Jogos Olímpicos de Sidney’2000, Eric Moussambani continou a praticar e conseguiu, em 2004, fazer a sua melhor marca de sempre – 56.99 segundos. Impedido de participar nos Jogos Olímpicos seguintes, devido a um problema relacionado com o seu visto no passaporte, o nadador equato-guineense tornou-se treinador Nacional em 2012.

A sua enigmática ascensão a herói foi muitas vezes associada à equipa jamaicana de Bobsled ou à prestação de Eddie “The Eagle” Edwards (Eddie “A Águia” Edwards) nos Jogos Olímpicos de Inverno e vários foram os atletas que reivindicaram o estatuto de novo “Eric  The Eel Moussambani”. Porém, depois do equato-guineense, mais ninguém atingiu o mesmo nível de popularidade por uma má prestação.

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References:

50 stunning Olympic moments No11: Eric Moussambani flails way to glory, The Guardian. Disponível em: https://www.theguardian.com/sport/blog/2012/jan/25/olympic-games-eric-eel-moussambani. Consultado a 04/06/2018

Herói olímpico, Eric Moussambani conta como virou nadador por acaso, Globoesporte. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/programas/esporte-espetacular/noticia/2016/07/heroi-olimpico-eric-moussambani-conta-como-virou-nadador-por-acaso.html. Consultado a 04/06/2018

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