Jatropha curcas é uma planta tropical
A espécie Jatropha curcas L. pertence à família Euphorbiaceae e é conhecida comumente como purgueira em Portugal e pinhão-manso no Brasil. A família das euforbiáceas compreende 317 géneros e cerca de 8000 espécies e é predominantemente distribuída nas regiões tropicais e subtropicais. Além da purgueira, esta família inclui outras espécies de importância económica como a mamona / rícino (Ricinus communis), a mandioca (Manihot esculenta) e a seringueira / árvore-da-borracha (Hevea brasiliensis).
O género Jatropha inclui cerca de 175 espécies que se destacam pelo seu rápido crescimento, fácil propagação e pelo alto teor de óleo das suas sementes. O nome de Jatropha deriva das palavras gregas ”jatros” (médico) e ”trophe” (alimentos), o que remete para os seus usos medicinais e foi Lineu o responsável por esta classificação no seu livro “Species Plantarum” em 1753.
A J. curcas é considerada uma árvore pequena ou um arbusto grande, apresenta uma longevidade que pode chegar aos 50 anos e pode atingir até 5-7 m de altura.
As folhas são alternadas, palmadas, pecioladas, estipuladas e têm 3 a 5 conjuntos de lóbulos com filotaxia espiral. Os frutos são geralmente produzidos na estação das chuvas. A planta é monóica e as suas flores são geralmente unissexuais e polinizadas por insectos, especialmente abelhas. Normalmente, cada plântula origina 5 radículas: uma central e 4 periféricas. Em plantas propagadas vegetativamente, geralmente, forma-se apenas uma raiz.
A J. curcas é originária da América central e exploradores portugueses encontraram exemplares da espécie na sua colónia sul-americana e levaram-nas para África, nomeadamente para Cabo Verde e Guiné Bissau. Actualmente, a planta encontra-se amplamente distribuída em muitas regiões tropicais e subtropicais da África, Ásia e América com limites de cultivo a 30º Norte e 35º Sul de latitude e com altitudes inferiores a 500 metros acima do nível do mar.
Principais aplicações: actualmente o óleo extraído das sementes é usado na produção de biodiesel
A J. curcas é considerada uma planta multi-usos e como as sementes desta planta são ricas em óleo, então muitas aplicações envolvem o uso do óleo. As primeiras aplicações comerciais para esta espécie foram registadas em Lisboa, onde o óleo proveniente de Cabo Verde era usado para a produção de sabão e para a iluminação pública da cidade. No passado, o famoso sabão de Marselha (savon de Marseille) era feito de óleo de J. curcas proveniente de plantações que os franceses tinha nas suas colónias africanas.
A J. curcas é conhecida pela sua capacidade de crescer em “solos marginais” descritos genericamente como terrenos pouco adequados para uso agrícola. Sendo uma planta perene, desenvolve raízes profundas que ajudam a manter a qualidade dos solos e a gerir a água e nutrientes mais conservadoramente, contribuindo ainda para a redução da erosão.
A J. curcas é uma espécie ideal para a produção de biocombustíveis de segunda geração, representando uma alternativa às plantações de açúcar de cana (com importância no Brasil), de milho (com importância nos EUA) e de óleo de palma (com importância no sudeste asiático) que aceleram a desflorestação e provocam o aumento dos preços dos alimentos, pois não compete directamente com a produção de alimentos.
O teor de óleo presente nas sementes de J. curcas varia entre 30% a 50% em peso, enquanto no miolo o conteúdo de óleo é maior e varia entre os 45% e os 60%. O óleo apresenta cerca de 70% de ácidos gordos insaturados, predominantemente o ácido oleico, seguido do ácido linoleico. A presença de ácidos gordos insaturados permite que o óleo permaneça fluido a temperaturas baixas, ainda que o óleo fique mais propenso à oxidação durante o armazenamento e a baixa concentração de ácidos gordos livres aumenta a capacidade de armazenamento. O óleo bruto de J. curcas é considerado viscoso, porém o processamento do óleo reduz significativamente a sua viscosidade. Considera-se que o biodiesel de J. curcas cumpre os parâmetros europeus de qualidade.
As sementes incluem também proteínas e compostos tóxicos e antinutricionais
As sementes da purgueira para além de boas fontes de óleo são também ricas em proteínas, apresentando conteúdos na ordem dos 170-200 g/kg, apresentando um bom equilíbrio de aminoácidos essenciais, excepto para a lisina que se encontra em baixas quantidades. No entanto, a sua utilização comestível é limitada pela presença de factores tóxicos e antinutricionais. As plantas desta espécie produzem um largo número de metabolitos secundários com propriedades antinutricionais e tóxicas, sendo que a maioria dos quais são produzidos como mecanismos de defesa contra predadores e patogénicos e como meio de defesa contra danos celulares induzidos por condições ambientais adversas. Os principais fatores antinuticionais encontrados em J. curcas são o ácido fítico, o inibidor da tripsina, a saponina e a lectina; já os principais compostos tóxicos são os ésteres de forbol e as curcinas (proteínas inibidoras de ribossomas). Curiosamente, existem algumas variedades de J. curcas não tóxicas provenientes do méxico utilizadas na alimentação humana de populações locais.
Há a necessidade de desenvolvimento de programas de melhoramento da planta
A J. curcas ainda é uma planta que se encontra num processo de domesticação. A característica mais desejada é a uniformidade do rendimento com alta produtividade de sementes e de óleo. Também procura-se desenvolver técnicas de propagação da espécie mais fáceis.
References:
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