Um ecótipo é uma subpopulação de uma dada espécie que apresenta características específicas resultantes de adaptações locais à ecologia do habitat onde esta população se insere. Estas subpopulações não podem ser consideradas como sendo pertencentes a espécies diferentes porque, à partida, não divergiram o suficiente para que tenha ocorrido isolamento reprodutivo, ou seja, se os indivíduos das diferentes populações fossem postos em contacto poderiam cruzar-se e produzir descendência fértil.
Os ecótipos representam, assim, linhagens geneticamente diferenciadas de uma espécie/população, cada uma característica de uma determinada habitat.
A existência de variação genética é um fenómeno comum entre subpopulações da mesma espécie e, frequentemente, as subpopulações exibem adaptações locais de forma a potenciarem o desempenho (valor adaptativo ou fitness) dos seus indivíduos em cada região. A adaptação é possível porque a variabilidade genética pré-existente nas populações fornece a matéria-prima para que a evolução ocorra, à medida que a selecção natural aumenta a frequência dos genótipos (composição genética) mais favoráveis em cada ambiente.
Variação geográfica de populações
Os genótipos dos indivíduos numa população apresentam, frequentemente, uma variação geográfica. As diferenças nos factores que determinam os processos de selecção natural ou a ocorrência de deriva genética (variação ao acaso nas frequências dos alelos) ao longo da área de distribuição de uma população, pode causar uma variação geográfica nos alelos (variações de um gene) entre as diferentes subpopulações da mesma espécie.
Esta variação geográfica nas frequências alélicas é normalmente encontrada entre subpopulações separadas por barreira geográficas, como um rio, uma estrada ou uma cadeia montanhosa.
No entanto, não é necessário que existam barreiras geográficas entre subpopulações para que estas divirjam geneticamente. Se a diferença de pressões selectivas entre duas áreas estiver relacionada com a taxa de fluxo (troca de genes, reprodução) entre as subpopulações que as ocupam, então as diferenças nas frequências de alelos podem ser mantidas por selecção natural ao longo do tempo, podendo ocorrer uma mudança gradual nestas frequências ao longo da distância geográfica.
Variação fenotípica clinal
Um caracter fenotípico (atributo observável, morfológico, fisiológico, bioquímico, etc.) pode apresentar uma variação gradual ou clinal em resposta à variação do ambiente, ao longo da distribuição geográfica de uma população, sem a ocorrência de uma barreira geográfica a condicionar essa variação.
Nos grilos do género Teleogryllus, por exemplo, caracteres fenotípicos como o tamanho corporal e a duração do desenvolvimento larval, aumentam ao longo de um clino, de Norte para Sul da sua área de distribuição. Sabe-se que esta variação tem base genética, já que, indivíduos de diferentes localizações que se desenvolveram em exposição aos mesmos factores ambientais, como temperatura e fotoperíodo, mantêm as diferenças fenotípicas regionais.
Variação fenotípica modulada por barreira geográfica
A existência de uma barreira geográfica a isolar subpopulações pode conduzir a uma diferenciação genética entre elas. Os saguis da espécie Saguinus fuscicollis são um bom exemplo disto. As suas populações encontram-se distribuídas em ambas as margens do rio Juará, no Oeste da Bacia Amazónica. Na parte mais larga do rio, as populações de ambos os lados não têm possibilidade de manter contacto e verifica-se que são geneticamente diferenciadas. Pelo contrário, na zona próxima à cabeceira do rio, o curso de água é mais estreito e sinuoso. Nesta região do rio existem zonas de contacto entre os dois lados da bacia e verifica-se que existe troca de genes entre as duas populações, já que, os genótipos característicos da população da margem direita também ocorrem na população da margem esquerda.
Referências bibliográficas
Ricklefs, Robert. (2003). A Economia da Natureza. Guanabara Koogan, 5ª Edição.