Colletotrichum gloeosporioides

Colletotrichum gloeosporioides é um agente fitopatogénico

Colletotrichum gloeosporioides Penz. é um dos principais fungos que provoca doenças em plantas e causa estragos e limita os rendimentos de plantações de diversas culturas em todo o mundo.

O C. gloeosporioides pertence ao filo Ascomicota e é a principal espécie representativa do género Colletotrichum. O número proposto de espécies pertencentes ao género Colletotrichum varia desde 29 a 700, dependendo da interpretação e dos critérios taxonómicos, sendo a sua sistemática presentemente descrita como um “estado de fluxo”.

C. gloeosporioides é o nome atribuído a esta espécie quando se reproduz assexuadamente e exibe as respectivas características fenotípicas. Já a mesma espécie recebe o nome Glomerella cingulata durante o seu estágio sexuado mas muitas estirpes de C. gloeosporioides são presumivelmente incapazes de reprodução sexuada.

Colletotrichum gloeosporioides afecta um largo espectro de plantas hospedeiras e provoca lesões necróticas

O C. gloeosporioides provoca doenças numa larga variedade de plantas lenhosas e herbáceas, e apresentando uma distribuição geográfica tropical e subtropical, embora também possam afectar algumas culturas de regiões temperadas. Os exemplos vão desde frutos como o morango, os citrinos, a manga, o abacate, a banana, a papaia, as bagas de café e até cereais como o milho, a cana-de-açúcar e o sorgo.

Este agente patogénico pode provocar danos em várias partes da planta, desde raízes, caules, folhas, flores até aos frutos, mas são frequentemente muito específicos para tecidos individuais. O C. gloeosporioides é o agente causador da antracnose, uma doença das plantas, cujos sintomas incluem lesões necróticas limitadas, muitas vezes afundadas, nas folhas, caules, flores e frutas.

Colletotrichum gloeosporioides apresenta um modo de infecção quiescente

A infecção de C. gloeosporioides tem implicações pós-colheita em frutos por causa do fenómeno da quiescência, um tipo de infecção que se inicia numa fase pré-colheita durante o desenvolvimento das flores e dos frutos. Apenas com o amadurecimento do fruto, quando existe um pico de produção da hormona de amadurecimento, o etileno, os sintomas da antracnose surgem.

O C. gloeosporioides apresenta dois mecanismos para obtenção dos nutrientes: na fase biotrófica, os nutrientes são obtidos das células vivas do hospedeiro; enquanto que na fase necrotrófica, os nutrientes são obtidos a partir das células mortas do hospedeiro, destruídas pelo fungo. Esta última fase é induzida aquando a maturação e senescência dos frutos.

Colletotrichum gloeosporioides desenvolve células especializadas, os apressórios, para penetrar nos tecidos do hospedeiro

As espécies de Colletotrichum penetram as superfícies das plantas de vários modos:

a) Por aberturas naturais como os estomas;

b) Por penetração directa através da barreira cuticular;

c) Através de feridas provocadas por agentes bioticos e/ou abióticos.

A penetração directa é a forma mais comum. Este tipo de infecção ocorre com a diferenciação de uma célula infecciosa altamente especializada chamada apressório que se desenvolve na ponta do tubo germinativo, após a germinação dos conídios, os esporos produzidos pelo fungo na reprodução assexuada. Os apressórios são células fundamentais no sucesso de infecção pelo fungo. A partir do apressório forma-se uma vesícula de infecção já no interior da primeira célula do hospedeiro invadida. A partir da vesícula de infecção, desenvolvem-se hifas primárias que se ramificam, formando hifas secundárias necrotróficas finas e de rápido crescimento que colonizam os tecidos do hospedeiro e dão origem aos acérvulos, onde novos conídios são produzidos.

Colletotrichum gloeosporioides sintetiza enzimas que degradam componentes da parede das células vegetais

As espécies de Colletotrichum produzem um largo espetro de enzimas capazes de catalisar a degradação de componentes estruturais dos tecidos vegetais. Estas enzimas ocorrem frequentemente de acordo com dois tipos de actividade:

a) as que hidrolisam as cutículas;

b) as que degradam os polissacáridos, dissolvendo a parede celular.

As primeiras enzimas a serem produzidas pelo fungo pertencem à família das poligalacturonases, seguidas pelas liases de pectina que degradam os polímeros lineares de poligalacturonano e polímeros ramificados de pectina, respectivamente, contribuindo para a desestruturação das paredes celulares e permitindo o estabelecimento da infecção. Posteriormente, em fases mais avançadas da infecção, outras enzimas pertencentes às famílias de galactanases e arabanases degradam as ligações em polímeros ricos em galactano e arabano, respectivamente, contribuindo adicionalmente para a solubilização de constituintes da parede celular e consequente facilitação da invasão e a nutrição do patogénico.

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