Conceito de Antropologia Biológica:
A antropologia física, ou biológica, constitui apenas mais um dos ramos do estudo da antropologia, que tem como base a análise dos restos esqueléticos humanos. A osteologia é por isso, fundamental nesta área e em muitas outras áreas da antropologia como a antropologia forense, paleontologia, ou arqueologia (frequentemente referida como bioarqueologia ao estudo de restos humanos em contexto arqueológico). O estudo do esqueleto humano ajuda-nos a entender e interpretar muitas das características em populações do passado ou da época moderna, bem como variações individuais, podendo ser bastante útil na identificação de um determinado indivíduo em antropologia forense. Como os ossos e os dentes são bastante resistentes a vários tipos de desgaste constituem o registo mais resistente da existência de um indivíduo.
Não existem esqueletos iguais, os ossos e dentes diferem em tamanho e forma entre indivíduos e é este tipo de variação que permite a identificação. O principal objectivo da antropologia biológica é o estudo o perfil biológico de indivíduos esqueletizados, permitindo essa identificação. A avaliação do perfil biológico é então o processo de identificação das características de um indivíduo envolvendo a determinação da idade, sexo, estatura, ancestralidade e robustez, bem como o registo das patologias que poderão ser visíveis nos ossos – Paleopatologia. Para isso, a análise é feita com recurso a métodos métricos (variações mesuráveis) e morfológicos (características visíveis não mesuráveis que podem ser antroposcópicos avaliando a forma ou discretos avaliando a presença/ausência) no crânio e esqueleto pós-craniano.
Para a determinação do sexo do esqueleto é frequentemente usada a avaliação das características do crânio (80% de fiabilidade) e osso ilíaco (95% de fiabilidade), além das medições de alguns ossos longos e ossos do pé. O osso ilíaco fornece dados com maior precisão pois é aquele que possui dimorfismo sexual mais acentuado, devido essencialmente a pressões selectivas exercidas no homem e mulher impostas pela locomoção e gravidez. Contudo, a determinação do sexo do indivíduo terá de reunir diversas evidências contidas noutros ossos e não apenas as apresentadas pelo osso ilíaco.
A determinação da idade num esqueleto refere-se à estimação da idade na altura da morte (idade à morte) e não ao tempo decorrido desde a morte. E, sabendo que quanto mais velho era o indivíduo aquando a morte, mais difícil é a estimação da sua idade, ou seja, é possível estimar a idade à morte de um esqueleto não adulto com maior precisão do que um esqueleto adulto. Os métodos usados em esqueletos de crianças e jovens baseiam-se muito na ossificação do crânio (desaparecimento das fontanelas), erupção dentária, fusão das epífises com as diáfises na grande maioria dos ossos, e no próprio tamanho das diáfises, já nos adultos é mais usado a sínfise púbica (método de Suchey-Brooks), a 4º costela (método de Iscan e Loth, 1993) e da superfície auricular (método de Lovejoy et al. 1985) bem como a fusão de alguns ossos. No entanto, à estimação da idade do esqueleto está sempre associado alguma imprecisão, pois, por vezes a idade biológica (óssea e dentária) pode não coincidir com a idade cronológica (idade real do indivíduo) devido a diferenças na rapidez do crescimento ou patologias. Por isso a idade encontrada com estes métodos será sempre uma idade estimada dentro de um intervalo e não uma idade absoluta.
A reconstituição da estatura do individuo é um dos factores essenciais em antropologia forense, pois pode ser determinante na identificação do esqueleto (deve ser calculada depois de determinado o sexo). A estatura é um parâmetro biológico extremamente variável, varia com a idade, certas doenças, anomalias físicas e de pessoa para pessoa entre populações diferentes. Os métodos mais fiáveis na determinação da estatura dos indivíduos baseia-se na medição de ossos longos (como fémur e tíbia), contudo, como são mais facilmente quebrados, tem-se desenvolvido métodos que estimam a estatura a partir dos ossos da mão e do pé, sendo estes mais facilmente conservados.
Quanto à determinação da ancestralidade, afinidade populacional ou etnia é a questão mais controversa no que se refere à identificação dos indivíduos com base no esqueleto em antropologia forense. Contudo, a ancestralidade do indivíduo reflete-se no esqueleto, de forma que é possível distinguir um esqueleto humano como sendo Europeu, Asiático ou Africano. Os ossos mais informativos na determinação da ancestralidade são os ossos do crânio, apesar de haver estudos no esqueleto pós-craniano. Deve-se usar a combinação de métodos métricos e morfológicos para uma avaliação mais precisa, pois algumas características morfológicas (avaliação da forma, presença/ausência, diferentes graus de expressão) podem não ser tão evidentes em indivíduos de etnia mista (em indivíduos que apresentem os traços gerais de cada ancestralidade tornam bastante fácil a sua identificação).
Por fim, a determinação da robustez de um indivíduo apenas tem o objetivo de avaliar se o indivíduo apresenta um esqueleto robusto ou não, usando métodos métricos em ossos longos como o fémur e a tíbia.
Palavras chave: Osteologia, Esqueleto.
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