A troca simbólica é o princípio organizativo e a estrutura celular das formações sociais mais antigas, quer dizer, as formas designadas por Anthony Giddens como “culturas tribais”. As trocas que tiveram lugar dentro de, e entre clãs; dentro de, e entre tribos; e entre chefes e outros membros da tribo, eram muito mais do que as trocas económicas tais como as conhecemos nas sociedades modernas, e integravam os membros das ditas sociedades. Marcel Mauss conceptualizou estas trocas como a dádiva de um dom, sendo a dádiva um “facto social total”. Entendem-se estas trocas como multidimensionais: são económicas, morais, religiosas, mitológicas, jurídicas, políticas, estéticas e históricas.
Mauss criou o seu conceito a partir do trabalho antropológico datado do século XIX e inícios do século XX, realizado na Polinésia e no Noroeste Americano. Tal como Durkheim, foi sua intenção demonstrar a base social das trocas para refutar a noção utilitarista de que os interesses individuais seriam o fundamento para a criação das relações de mercado: não havia uma “economia natural” predecessora da economia política. Para além disso, ainda que as tribos da América, África e Ásia, evidenciassem diferenças, isto é, representassem um “Outro” puro aos olhos dos europeus, Mauss pretendeu demonstrar através da análise comparativa as semelhanças subjacentes. Adicionalmente, a complexa estrutura da dádiva significava da impossibilidade de reduzir a prática a um costume primitivo.
Trocar dádivas era obviamente um fenómeno económico, embora não envolvesse a troca de valores equivalentes como nas economias de mercado. Por exemplo, o potlatch, praticado entre a tribo Kwakiutl, era uma troca ritual competitiva que requeria uma troca recíproca posterior, cujo valor ultrapassasse a dádiva original. Era deste modo que o chefe, o clã ou a tribo, preservava o prestígio e o poder. Os presentes subsequentemente recebidos seriam distribuídos pelos membros do clã ou da tribo pelo chefe, sendo este último a entidade que mais partilhava. Os bens trocados eram habitualmente destruídos em festivais que tornavam a acumulação de riqueza impossível. A oferta de dádivas envolvia também uma relação com a natureza, na medida em que criava uma relação de reciprocidade balançada entre a sociedade e a natureza. A título de exemplo, como nas religiões animistas as tribos deificavam as forças naturais, um membro antes de abater uma árvore, concretizava uma oferenda aos espíritos da floresta. No sistema de dádivas também se entretece uma reciprocidade moral. Os membros de tribos eram obrigados a dar dádivas, e de forma igual eram obrigados a receber dádivas. Quebrar este compromisso representava a diminuição do estatuto, talvez a escravidão, ou uma guerra entre duas tribos. A norma da reciprocidade unificava clã com clã, o homem com a mulher, e tribos com tribos, e assim se garantia a circulação das dádivas.
Jean Baudrillard desenvolveu uma noção própria de troca simbólica a partir de leituras críticas de Mauss, Galbraith e Veblen. Para Baudrillard, a troca simbólica é uma forma de um agente escapar à sociedade de consumo e à economia política do signo. O sociólogo demonstrou nos seus primeiros escritos como o código de consumo e o sistema de necessidades completaram o sistema de produção. O valor de uso da comodidade não permitia uma alternativa ao modo de produção capitalista, mas somente um alibi para o valor de troca. Os consumidores eram ainda mais alienados na vida privada do que no local de trabalho, onde pactuavam com o desequilíbrio entre o capital e o valor excedente. Eram igualmente inconscientes quanto ao processo semiótico que conduzia os seus atos de consumo de comodidades com diferenças codificadas, à reprodução do modo de produção capitalista. Somente havia um modo de entrar em rutura com esta teia viciosa: o regresso à troca simbólica, onde a acumulação de riqueza e poder era impossível e onde as trocas eram recíprocas e reversíveis. A troca simbólica restauraria provavelmente a harmonia entre a sociedade e a natureza, enquanto a lógica da sociedade de consumo, predicada no crescimento económico contínuo e na ideologia do crescimento económico, destruirá certamente o meio-ambiente.
References:
Ritzer, G. (1998) The Consumer Society. Sage, London