Introdução
A conceção moderna de teologia enquanto um discurso ao mesmo tempo fiel e científico sobre Deus, data da Idade Média Cristã. O termo deriva do grego theologia, e foi transmitido à língua portuguesa pela palavra latim theologia, com o mesmo sentido. Uma vez que o termo está enraizado no grego, é normal que encontremos elementos filosóficos na palavra: a mitologia dos deuses, a teologia como uma expressão da filosofia da natureza, e a teologia pública como um culto público. O cristianismo muito relutantemente aceitou o termo. Somente a partir do século XII é que o termo teologia passa a ser usado habitualmente como “ciência da fé cristã” em contraste ao termo filosofia. Na Idade Média tardia, o termo ganha aceitação geral, e Lutero interioriza-lo. Nos tempos modernos o conceito é especialmente usado para distinguir a filosofia religiosa e os estudos religiosos por um lado, e a doutrina cristã por outro lado.
História
A teologia cristã deve a sua génese à tradição bíblica. Numa primeira fase desde o século II E.C, a teologia foi dominada pela defesa apologética da fé contra os ataques externos e contra um debate gnóstico. Clemente de Alexandria e Orígenes desenvolveram a primeira conceção de um conhecimento sistemático sobre a compreensão da fé. No século XIII emergiu um novo protótipo da teologia como ciência da fé. O Ocidente e o Oriente desenvolveram diferentes visões, uma vez que a teologia ocidental se preocupou sobretudo com os processos internos de sistematização e racionalização, ao passo que o Oriente se guiou sobremaneira de modo litúrgico e espiritual. Além disso, a filosofia e a teologia foram separadas no ocidente, desafiando a fé a ciência a apostarem num consenso. Tomás Aquino pensava em Deus a partir de um ponto de vista racional como a partir das revelações das escrituras sacras. A pluralidade das teologias era já aparente na Idade Média. Assim, a teologia escolástica com as suas tendências para racionalizar e intelectualizar a fé, foram de mão em mão com modelos teológicos ligados ao pensamento agostiniano neoplatónico. Nos finais da Idade Média, o nominalismo enfrentou a pressão da síntese medieval da fé e da razão, e com a Reforma iniciou-se o processo de rutura.
A teologia moderna ocidental é marcada pela cisão e conflito entre a sociedade moderna e a cultura. A Reforma, devido à negação da teologia escolástica, mergulhou na Bíblia e na teologia patrística, assim como em tendências místicas. Para Lutero, o objeto da teologia não era mais a unidade da fé e da razão, mas a salvação de Deus. As tendências modernas na teologia protestante foram marcadas tanto pela procura de uma conexão com a cultural moderna (teologia do Iluminismo e a teologia liberal) como pela acentuação da separação (pietismo e teologia dialética). Em primeiro lugar, a moderna teologia católica era antiprotestante e dominada pela controvérsia. O “neoescolasticismo”, estabelecido no século XIX, combinou o debate crítico com o Protestantismo e a separação rumo à cultura e sociedade moderna. As abordagens na teologia católica liberal não convenceram ou foram condenadas na controvérsia sobre o modernismo. A luta contra o modernismo não excluiu os processos internos de modernização na teologia católica ou nas estruturas eclesiásticas.
A armadura moderna da teologia é concebida à luz de processos de diferenciação interna que seguiram o desenvolvimento geral da sociedade e da ciência. Quando começou no século XII e XIII, baseava-se ainda numa interpretação literal da Bíblia, numa reflexão sobre a fé homogénea, e na introdução a práticas religiosas deveras restritas. O início da separação da teologia bíblica e a teologia sistemática data da Idade Média. Na sua função de pensar a fé, a teologia consiste em três estruturas básicas: é histórica, sistemática, e uma ciência prática. A teologia histórica adquiriu a sua forma moderna através do desenvolvimento de um método histórico crítico, que suscitou a tensão com a teologia sistemática. A teologia pastoral reagiu à diferenciação moderna entre religião e sociedade, e auxiliou no estabelecimento de disciplinas teológicas práticas especializadas no papel prático da igreja na sociedade.
Contemporaneamente, a teologia resulta da conexão entre disciplinas históricas (história contemporânea e a exegese do Velho e Novo Testamento, história da igreja), disciplinas sistemáticas (filosofia, teologia fundamental, teologia moral e ética social), e disciplinas práticas (teologia pastoral, liturgia, direito canónico, ciência missionária, educação moral e religiosa).
References:
McGrath, A. E. (1994) Christian Theology: An Introduction. Blackwell, Oxford.