Inicialmente um fenómeno americano, o televangelismo refere-se ao uso da televisão na disseminação da mensagem cristã, habitualmente de um caráter fundamentalista, e perpetrada por uma figura líder. Este fenómeno tornou-se proeminente durante a década de 1970 como resultado das alterações políticas referentes à exibição de programas televisivos, que eram reguladas pela Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (United States Federal Communications Commission, FCC). Previamente a este período, a FCC requeria que as redes de anúncios comerciais dedicassem uma porção do tempo de antena ao “interesse público”. Um modo conveniente de realizar tal manobra, basear-se-ia na cooperação das estações com organizações religiosas, e desta conjugação de interesse, produzir-se-iam programas que obedecessem aos parâmetros da categoria “interesse público”. Mas esta parceria terminou em 1960, quando a FCC decidiu que as estações televisivas poderiam organizar a programação comercial consoante o seu próprio interesse e as quotas desejadas. Assim se originou um novo mercado, onde os interesses monetários redefiniriam o interesse público dentro dos limites da categoria. Assim, programou-se o “interesse religioso”, e as frequências de emissão tornaram-se facilmente disponíveis. Foi deste modo que nasceu a instituição religiosa paralela da “igreja virtual”, cujo expoente principal foi classificado como televangelismo.
Um relato sociológico do televangelismo constrói-se melhor quanto aos aspetos dos papéis assumidos pelos organizadores das emissões, e às restrições económicas e organizacionais enfrentadas. A igreja eletrónica, como outras instituições ocidentais, é voluntária, diversa, orientada para o mercado, empreendedora, tecnologicamente avançada, e ativada por um amplo esforço no plano económico e temporal. Nos mercados dos media, não existe um “ministério sem dinheiro”, ponto. Num diferente sentido ao normalmente intencionado, nas emissões o tempo é dinheiro. Assim, o líder de uma emissão, virtuoso ou não, deve sempre pregar o sermão com um olho colado ao relógio e um pé à frente dos credores. Adicionalmente, a precisa natureza evangélica do compromisso religioso entre os cristãos conservadores, reforça este estilo empreendedor. No seu estilo peculiar, a fé não pode ser indolente nem moribunda: deve, pelo contrário, ser apaixonadamente disseminada; não somente há um imperativo cristão para se estender os limites da fé, mas também uma convicção de que Deus estabeleceu um tempo limite para a mensagem ser espalhada, sendo que os que não receberem e aceitarem os evangelhos cristãos, estarão eternamente perdidos.
O principal embaixador destes apelos é o próprio televangelista. Uma vez que poucas emissões televisivas são projetos de entidades coletivas, frequentemente a emissão é administrada por um indivíduo (o próprio fundador), que incorpora o espírito do programa religioso. Ele torna-se na superestrela, e para todos os efeitos, ele é a organização, e é desse modo que consegue cultivar a lealdade entre o seu “séquito”. É, afinal, mais difícil para as pessoas confiarem numa instituição do que num indivíduo, e ainda mais difícil para estas suportarem o valor de uma ideia abstrata. Assim, os olhos centram-se no perfil do pregador no palco principal, e é muito provável que os espetadores saibam sobretudo quem é o televangelista que vêem ao invés do nome do programa.
A investigação em torno das audiências dos programas demonstra que apesar de os televangelistas reclamarem níveis de visualizações enormes, a média é bem mais modesta, uma vez que estas emissões são abafadas pelos ditos programas cor-de-rosa, séries, entre outros programas acessíveis por intermédio da televisão a cabo. A audiência das emissões religiosas é mais forte nos estados do sul, onde as convicções religiosas são bem mais salientes do que no resto do país.
References:
Hoover, S. (1988) Mass Media Religion: The Sources of the Electronic Church. Sage, Newbury Park, CA.