Simulacros e Simulação

Sociólogos, críticos sociais e teóricos dos media, em larga escala, concordam que a era corrente, com o mercado global, o desenvolvimento tecnológico, a informação digital e os mass media, representa uma profunda transformação referentemente à era industrial e a produção em massa, sobretudo maquinal, que aí se desenvolveu. Uma inovação tecnológica no cerne da era industrial foi a captura de imagens visuais, sons, e posteriormente, os dois combinados numa mesma manifestação. Desde os primórdios da fotografia, ao CD de música, até se alcançar o cinema e a televisão, inúmeras reproduções surgiram, porém, muitos dos teóricos argumentam que na ordem pós-moderna em que vivemos, dominada por um circo de imagens espetaculares, as imagens perdem o seu referente original, pelo que o circuito imagético contemporâneo consiste numa simulação, isto é: imitações de uma imagem original que não existe. Com a proliferação das simulações, as imagens criadas servem menos para reproduzirem a realidade vista ou ouvida, e mais para criarem uma nova realidade e uma nova combinação de significados. A “realidade” é vista como um mundo de imagens e sonhos fantásticos, produto da publicidade, do marketing e da consultadoria política: são estes que conferem substância a uma sociedade do espetáculo e de simulações, em que a “realidade” é uma “hiper-realidade”, onde a prevalência das imagens artificiais, o culto de eventos teatralizados e realidades socialmente construídas, são potências cada vez mais presentes. Disseminadas sem cessar este conjunto de imagens e significados, engendram-se as pseudonecessidades, a impotência e passividade, que colonizam o quotidiano, ditando que o “ser” do humano se equaciona com o consumir e possuir.

Graças à emergência das capacidades simbólicas e a produção intencional de palavras distintas – como o grunhido, o gemido e o som –, os significantes adquiriram o poder de representarem objetos, isto é, de significar, e durante a história, a comunicação humana sempre tentou descrever ou espelhar a realidade, ou versões particulares desta realidade, deste a natureza do mundo, às cosmologias religiosas, lei e história etc. A impressão, a literacia em massa, e, mais recentemente, a produção em massa e a representação mediatizada nos jornais, revistas, radio, filmes e televisão, transformaram a forma como as pessoas experienciam o mundo e inclusive, a si próprias. A teoria social clássica emergiu antes da era técnica e da proliferação dos mass media, mas Karl Marx já tinha apontado a importância da ideologia em distorcer e mistificar os interesses da classe dominante, para que estes reproduzissem o ideário de uma sociedade capitalista. Semelhantemente, a natureza fantástica da comodidade escondia as relações verdadeiras entre as classes: o valor de qualquer comodidade é a traços largos proporcional à quantidade de trabalho social médio nela incluída. Contudo, o advento dos mass media, e a respetiva influência destes na “reforma” da política e do consumo era algo que Marx poderia ter previsto, mas que os neomarxistas da Escola de Frankfurt apontaram e criticaram.

No entanto, é com os chamados simulacionistas Guy Debord, Jean Baudrillard, Paul Virilio e Umberto Eco –, que a crítica social se insinua como “grito”. Este grupo argumentou que a humanidade vive num mundo em que a comunicação mediatizada em massa e a produção em massa de simulações, imitações e réplicas (simulacros) não representam nem distorcem a realidade porque criam uma nova ordem de realidade baseada no espetáculo, na simulação e mito. Destaque para Jean Baudrillard, que entendeu a sociedade pós-moderna como uma ordem sustentada pelo jogo semiótico, por outras palavras, como um texto no qual a produção e a interpretação dos significados ditam o seu conteúdo. Para Baudrillard (1994), esta nova ordem da sedução imagética, isto é, da simulação, determina a perceção e compreensão do mundo contemporâneo.

1968 Visualizações 1 Total

References:

  • Baudrillard, J. (1994), Simulacra and Simulation, Ann Arbor, University of Michigan Press.
1968 Visualizações

A Knoow é uma enciclopédia colaborativa e em permamente adaptação e melhoria. Se detetou alguma falha em algum dos nossos verbetes, pedimos que nos informe para o mail geral@knoow.net para que possamos verificar. Ajude-nos a melhorar.