Sexualidade Plástica

O conceito de sexualidade plástica foi teorizado pelo proeminente sociólogo Anthony Giddens. O qualificador “plástico” conota a maleabilidade da expressão erótica tanto em termos da escolha individual como em termos da matriz das normas sociais.

O conceito de sexualidade plástica foi teorizado pelo proeminente sociólogo Anthony Giddens. O qualificador “plástico” conota a maleabilidade da expressão erótica tanto em termos da escolha individual como em termos da matriz das normas sociais. É sustentado que a “sexualidade plástica” emergiu no contexto das mudanças sociais na modernidade tardia e da pós-modernidade, contrastando com as características associadas à sexualidade moderna, conceptualizada como fixa pela biologia e pelas normas sociais: a “sexualidade fixada” é associada aos binómios sexuais da modernidade – ou heterossexual ou homossexual, ou marital ou extramarital, ou o compromisso ou a promiscuidade, ou o sexo convencional (coito) ou o sexo perverso (anal, autoerótico, sadomasoquista).

Para Giddens, a sexualidade plástica é a consequência da eficiência dos contracetivos, da independência económica e social das mulheres que também libertou os homens das restrições inerentes às expectativas tradicionais dos géneros. Posto isto, a sexualidade plástica molda-se consoante as necessidades e os desejos eróticos individuais. Pode igualmente servir como marcador da identidade individual e/ou como o meio através do qual se podem elaborar exigências sexuais radicais: obviamente, as consequências da maior flexibilização do sexo resultam na ênfase no prazer, e na dissociação do sexo à reprodução.

A asserção-chave de Giddens sobre a sexualidade plástica consiste na defesa desta como sendo uma sexualidade autónoma. É uma potencialidade emancipatória, quer dizer, uma potencialidade que é igualmente representativa no desenvolvimento paralelo da “relação pura”. Isto resulta na conceptualização do protótipo pós-moderno de uma nova forma de intimidade. É “pura” uma vez que é sujeita primariamente às necessidades dos indivíduos envolvidos, e é definida por estas necessidades, durando o tempo metafórico da chama acesa; não é uma exclusividade de casados e heterossexuais, dado que os gays disfrutam do mesmo fenómeno. A correlação entre a sexualidade plástica e a relação pura é, argumenta Giddens, em parte causal. Através de tais relações puras, os desníveis no plano do género podem ser neutralizados, uma vez que a ênfase é colocada na paridade erótica e na igualdade do envolvimento. O lugar da sexualidade plástica em tal relação é central, uma vez que sublinha a importância dos direitos eróticos e dos elos íntimos entre expressões eróticas e identidade individual.

Mas Giddens reconhece a presença de algumas limitações no potencial positivo deste processo: em primeiro lugar, a concentração no prazer sexual não suprime necessariamente a genderização definitória do erotismo; em segundo lugar, é possível a existência de tensões entre a fundação da relação pura – paridade e igualdade –, e os “direitos” implicados no conceito de sexualidade plástica, como as necessidades individuais. Estas limitações foram reconhecidas e desenvolvidas por Lynn Jamieson, que argumentou que o otimismo da análise de Giddens é exagerado: a teoria deste é frágil, e não consegue explicar a persistência da desigualdade de género e classe que milita contra a possibilidade de um engajamento com escolhas de vida e expressões individuais próprias.

Uma interpretação mais otimista da sexualidade plástica encontra-se oferecida em Bech (1999), Roseneil (2000), e Weeks et al. (2001). Todos estes autores baseiam o seu otimismo numa interpretação ampla das dinâmicas que envolvem e condicionam o conceito. Bech identificou a normalização da sexualidade plástica homossexual, Roseneil a desestabilização do binómio sexual moderno hétero/homossexual. Estes autores identificaram também o enfraquecimento da pedra angular da heteronormatividade das relações, isto é, o par “amor/sexo”, e ilustraram a substituição da união romântica por redes de amizade que podem ou não incluir a intimidade sexual. Estas novas formas de intimidade investem a agência e a escolha com poder, o que confere um maior primado de decisão ao ator, simultaneamente criando um novo terreno social onde se negoceiam novas formas de intimidade que transcendem as antigas distinções normativas da velha ordem sociocultural.

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References:

Bech, H. (1999) After the Closet. Sexualities 2(3): 343 9.

Giddens, A. (1993) The Transformations of Intimacy: Sexuality, Love, and Eroticism in Modern Societies. Polity Press, Cambridge.

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