Introdução
As campanhas em prol do sexo seguro surgiram como uma estratégia preventiva contra a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, intensificando-se nomeadamente com o advento da pandemia do VIH no início da década de 80. Richard Berkowitz e Michael Callen, dois nova-iorquinos homossexuais, esboçaram teoricamente e para inevitável aplicação, no texto How to Have Sex in na Epidemic, o conceito de sexo seguro. O resultado foi uma tremenda revolução que possibilitou a proteção pessoal e política. A seu tempo, as práticas de sexo seguro disseminaram-se pelo globo, tornando-se num discurso sexual positivo que rejeitou as políticas do tabu e proibições sexuais.
Alternadamente às confusas abordagens à prevenção do VIH, o sexo seguro ofertava uma estratégia prática: as pessoas não deixariam de ter relações sexuais, e como tal, esse gesto teria que ser seguro, ainda que mutuamente satisfatório. Berkowitz e Callen apresentaram um modelo de redução dos potenciais malefícios associados à relação sexual de risco, que é reconhecido em todo o mundo como permitindo a intimidade e a proteção.
O terceiro promulgador e pensador por detrás do conceito de sexo seguro, foi o Dr. Joseph Sonnabend, um doutor que trabalhou no centro clínico de Greenwich Village, e que tratou Berkowitz durante esse período. Quando Berkowitz desenvolveu um caso de hepatite, gânglios linfáticos inchados, e uma protuberância atrás da orelha, Sonnabend aconselhou-o a abandonar a sua profissão de prostituto.
Panorama
Durante mais de 20 anos, o sexo seguro tem sido um elemento-chave nos debates sobre a prevenção eficiente do VIH. O teórico e ativista Douglas Crimp (1988) argumentou que os gays inventaram o sexo seguro ao basearem-se numa compreensão implícita de que a sexualidade se manifesta de vários modos. Para Crimp, as lições a serem retiradas de tal facto, podem ser percebidas em termos de múltiplos entendimentos quanto à possibilidade e multiplicidade dos prazeres. Adicionalmente, nas palavras de Crimp, a cultura gay das décadas precedentes resultou numa “preparação psíquica” e num apetite pela experimentação, cultivando-se assim uma cultura capaz de absorver um amplo leque de mudanças relativas a normas e práticas sexuais.
As palavras de Crimp sugerem ainda que o sexo seguro compreende-se também como pedra de toque na redução dos prejuízos implicados na relação sexual de risco. Os defensores do sexo seguro argumentaram que as mensagens que promovem a proibição sem oferecer contrapartidas, impulsionam as pessoas para comportamentos de alto risco desnecessários. Assim, a prevenção VIH revelará maior eficiência através de abordagens baseadas numa comunidade alicerçada nas conexões pessoais.
A mensagem transmitida nas políticas do sexo seguro é que são as práticas, e não os lugares, a causa do contágio do VIH. Ao passo que os proibicionistas advogaram o fecho dos locais onde os homossexuais se congregavam para a consolidação de relações sexuais, os advogados do sexo seguro promoveram estes espaços como “centros de educação”.
Na primeira década depois da invenção do sexo seguro, certos relatórios continuaram a sugerir que muitos indivíduos bem informados continuam a ter relações sexuais desprotegidas. Walt Odets, um psicólogo clínico que tem uma clínica privada onde trabalha com homossexuais, assinalou que, dos inúmeros homens que ajudou, muitos revelaram que a longo prazo, as práticas de sexo seguro não eram sustentáveis. Para Odets, o sexo desprotegido era uma resposta aos sentimentos ambíguos num ambiente saturado pela morte, crise, culpa, e depressão. Deste modo, ativistas e terapeutas procuraram novas abordagens para a prevenção do VIH.
As futuras pesquisas terão que considerar os problemas relacionados com o sexo seguro, e explorar novas tecnologias, como os microbicidas, que podem servir para substituir o latex.
References:
Berkowitz, R. (2003) Stayin’ Alive: The Invention of Safe Sex, A Personal History. Westview Press/ Perseus Books, Cambridge, MA.