Reprodução Cultural

A reprodução cultural é frequentemente considerada para descrever o modo como as formas culturais, como a desigualdade social, o privilégio, o estatuto de elite, a etnicidade, e a própria cultural, são transmitidos intactos de geração em geração.

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A reprodução cultural é frequentemente considerada para descrever o modo como as formas culturais, como a desigualdade social, o privilégio, o estatuto de elite, a etnicidade, e a própria cultural, são transmitidos intactos de geração em geração. Esta ideia deriva fortemente do trabalho original de Pierre Bourdieu sobre o papel dos processos educativos na reprodução das desigualdades de classe, e de etnográficas clássicas, como a de Paul Willis, intitulada Learning to Labour (1977), onde é demonstrado que a desigualdade pode ser reproduzida culturalmente, apesar dos esforços políticos em torno do sistema de ensino.

Contudo, o trabalho subsequente sobre o conceito de cultura sugere que a concentração na reprodução das classes implica um sentido bastante restrito do termo “reprodução”, e que dimensões significantes da reprodução inerem à própria cultura em si. A palavra cultura deriva da noção de crescimento e desenvolvimento, pelo que não é estática e repetitiva. Williams (1981) demonstra que no século XVIII e XIX a palavra cultura adquiriu conotações que vão da pecuária ao desenvolvimento humano, especificamente a cultivação da aptitude e compreensão ou, por outras palavras, o capital cultural.

Até ao século XIX, a palavra cultura permaneceu fundamentalmente um verbo. Uma forma de problematizar estes dados é pensar que a ideia de cultura emergiu de processos nulos, no sentido em que consistia na cultivação e crescimento, mas no plano agrícola. A cultura como processo é emergente, vindoura, contínua em termos reprodutivos, e como em todos os processos sociais, fornece as bases e um contexto paralelo de ação social.

Apoiando-se em definições de cultura de antropólogos, Jenks (1993) sugeriu que a cultura incorpora a ideia dos recursos acumulados (materiais e imateriais) que uma comunidade poderá empregar, alterar, e transmitir. Essencialmente, é o comportamento socialmente aprendido, e o simbolismo partilhado de uma comunidade: revela e estrutura, empodera e confina. O problema com a reprodução cultural, tal como Jenks o entende, diz respeito ao sentido restrito do termo reprodução. A tendência na tradição marxista sociológica foi entender a reprodução fenotipicamente, e esta opção opta pela compreensão da reprodução como restrita à repetição, ou, num sentido frágil, imitação. Como a replicação implica a metáfora da restrição da escolha, e é precisamente neste plano que entra a ideologia, a interferência do aparelho estatal, e a violência simbólica, conforme os termos marxistas. Por outro lado, a reprodução, “genotipicamente” falando, adquire um sentido de positividade e vibração, tal como implicado na novidade da reprodução sexual e biológica. Neste caso, a imagem altera-se de geração em geração.

Jenks argumenta também que em inúmeras tradições sociológicas existe um sentido implícito de mais de uma forma positiva de reprodução cultural. No trabalho de Durkheim, o desafio da reprodução cultural prendia-se com a demanda pelo credo coletivo apropriado que asseguraria a reprodução da solidariedade em face das alterações sociais. Por outras palavras, a característica-chave das culturas é a reprodução da solidariedade sob circunstâncias diferentes. A agitada natureza da modernização enfraqueceu as formas de solidariedade mecânica baseadas nas sociedades tradicionais, mas novas formas orgânicas surgiram entre as novas culturas individualizadas das cidades.

 

 

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References:

Bourdieu, P. (1973) Cultural Reproduction and Social Reproduction. In: Brown, R. (Ed.), Knowl edge, Education, and Cultural Change. Willmer Brothers, London.

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