I
O conceito de poliamor é novo. Emergiu nas últimas décadas no contexto dos debates em torno de relações não-monogâmicas. O poliamor subscreve uma filosofia do amor, identidade e estilo de vida, que envolvem no seu conjuntou a crença que é justificável e válido possuir-se mais que um parceiro amoroso e sexual. Combinando elementos lexicais que derivam do grego (poly) e do latim (amory), o termo traduz-se literalmente como inúmeros amores.
Enquanto noção, o poliamor é uma resposta positiva e alternativa ao termo mais comum que se conhece como relação não-monogâmica, cujo significado resulta primariamente da negação do termo dominante monogamia. Como ideologia relacional, o poliamor incentiva o exercício de uma relação aberta, e desafia o ideal normativo associado à monogamia compulsiva.
II
O termo poliamor começou por ser disseminado nos EUA por volta da década de 80 e 90, uma vez que surgiram inúmeras comunidades em defesa da prática. Nos anos mais recentes, o poliamor tem adquirido uma popularidade manifesta, sobretudo graças à Internet, uma vez que neste meio foi possível a composição de comunidades. Atualmente, o termo serve como ponto de referência para pessoas interessadas em estilos de vida e sexualidades diferentes. Não há uma ligação essencial entre poliamor e uma identidade sexual particular. Contudo, é verdade que inúmeras discussões sobre o poliamor tiveram origem em contextos gays e bissexuais.
Um raio de diversas influências culturais e ideológicas alimentou o discurso emergente sobre o poliamor. A monogamia compulsiva tem sido criticada por um certo número de movimentos sociais relacionados com a sexualidade e o género. Experiências em torno da vida comunitária destes movimentos e as “contraculturas” contribuíram para o desenvolvimento de uma nova filosofia das relações e práticas familiares. O movimento feminista advogou um amplo conjunto de valores que subjazem ao poliamor, como a intimidade, a preocupação e a honestidade. O feminismo lésbico e bissexual investiu numa cultura de amizade feminina que incentiva relações não exclusivas e sexuais entre mulheres, e sempre baseadas na associação voluntária. Uma grande parte dos debates contemporâneos sobre o poliamor são fortemente influenciados por ideias espiritualistas e moldados pela retórica new age. Consequentemente, o poliamor acabou mesclado com o paganismo, politeísmo e primitivismo. As referências religiosas são vastas, mas é comum nos movimentos new age ocidentais, vermos apropriadas as ideias pertencentes às tradições religiosas orientais.
III
O amor é uma característica central no discurso em torno do poliamor. Apesar da indefinição inerente que nos remete para vários aspetos a pedirem por um esclarecimento, as relações de poliamor supõem-se serem relações de amor. Um vasto conjunto de textos enfatiza que o ponto principal desta prática não é o experienciar vários parceiros sexuais: tal como as pessoas que praticam a monogamia, os poliamoristas podem ter um número de parceiros sexuais pequeno durante a vida. Neste caso, a única diferença entre as duas práticas é que no caso da relação monogâmica, o início de uma relação marca o fim de outra relação.
Outros valores centrais na ética das relações de poliamor são o compromisso, a intimidade, a negociação, o respeito mútuo e a honestidade. A expectativa principal é a necessidade de comunicação e o consenso nas relações. Contra o pano de fundo destes ideais, o poliamor tem sido definido como uma relação não-monogâmica responsável.
References:
Haritaworn, J., Lin, C. J., Klesse, C. (Eds.) (2006) Special Issue on Polyamory of Sexualities 9(5) (December).