Paternalismo

Evidencia-se o paternalismo como um padrão que comporta a oferta de dádivas (ou patrocínios) por parte de entidades detentoras de poder ou de um grande estatuto, a grupos sociais situados numa camada mais inferior de uma hierarquia.

Introdução

Evidencia-se o paternalismo como um padrão que comporta a oferta de dádivas (ou patrocínios) por parte de entidades detentoras de poder ou de um grande estatuto, a grupos sociais situados numa camada mais inferior de uma hierarquia. Tal fenómeno estrutura um sistema planeado para defender posições privilegiadas. Ocorre usualmente em situações onde existem diferenças nítidas de poder e estatuto entre grupos ou indivíduos. A “benevolência” associada aos atos dos sujeitos em posições mais favoráveis é usualmente complementada por atos de dependência ou acomodação por parte dos atores em posições menos favoráveis, e manifesta-se em diferentes configurações e níveis de identidade racial e étnica, tal como entre grupos nacionais e grupos e indivíduos no interior de uma nação. Fanon (1963) disponibilizou uma análise incisiva do paternalismo nas relações entre algumas potências coloniais e as nações anteriormente colonizadas da África, Ásia e América do Sul.

 

Exemplos

Nas relações entre afro-americanos e brancos, o paternalismo desenvolveu-se até ao seu mais superior expoente, dado esta relação foi estruturada pelo tráfico de escravos, o que acusa a brutal diferença entre brancos e negros. O poder e estatuto dos possessores de escravos sobre o escravo foi inclusive institucionalizado pelo costume e pela lei, e o detentor de escravos não só tinha o domínio sobre o escravo, como o próprio sistema atribuí-lha a responsabilidade sobre o bem-estar do escravo, quer este fosse adulto ou infante, homem ou mulher. Neste sistema concreto, o paternalismo foi legitimado pela ideologia racial deste período em particular, e emergiu como modo de “normalizar” as associações entre os dois grupos de estatutos diferentes.

Outra forma de paternalismo foi perpetuada depois dos tempos da escravidão, e foi incorporada no meio cultural de finais do século XIX e inícios do século XX. As ocorrências mais visíveis desta nova manifestação estavam associadas ao liberalismo dos líderes brancos de organizações filantrópicas, religiosas e políticas no hemisfério norte, cujas considerações principais iam de encontro ao aprimoramento das condições de vida materiais e individuais dos negros sob o sistema de segregação do hemisfério sul dos Estados Unidos da América. Muitos dos líderes educativos e religiosos da comunidade de negros segregada, interpretaram estas organizações como fontes de fundos que visavam estabelecer e avançar com as suas organizações no contexto das comunidades negras: assim, o objetivo principal não era preparar os negros para saírem das suas comunidades e competirem diretamente com os brancos em vista de posições políticas, sociais e económicas.

O paternalismo persistiu como convenção social durante 1950 e 1960 igualmente. Por exemplo, Frazier (1965) notou que as igrejas de negros nas grandes cidades do hemisfério norte americano, eram sempre beneficiárias dos contributos das grandes corporações, cujo intuito era persuadir os trabalhadores a não se juntarem a sindicatos. Nas pequenas cidades do Sul, um trabalhador negro que encontrasse dificuldades com a lei, poderia frequentemente confiar no seu empregador branco para o poupar ao intrincado sistema legal: bastava providenciar um testemunho sublime do carácter do patrão.

Na América contemporânea, o paternalismo tornou-se mais complexo de ser identificado, uma vez que as instituições historicamente entrincheiradas no sistema de segregação e as suas fundações ideológicas enfraqueceram. Os negros, que vivem predominantemente em cidades ou zonas urbanas metropolitanas, detêm cargos em agências estatais ou federais, indústrias, corporações privadas, sindicados, entre outras posições onde critérios organizados numa lógica de linhas raciais perderam todo o sentido. No que toca a estas posições profissionais, o paternalismo pode ou não, se expresso. Não obstante, continua a existir no arranjo hierárquico do poder e da autoridade no meio de trabalho, uma vez que os brancos, que ocupam uma grande parte das posições de gerência e supervisão nas organizações e instituições mencionadas previamente, continuam a tomar as decisões quanto aos contratos a serem realizados, o salário a ser recebido, a atribuição de um posto, e quem merece ser promovido. Assim, uma grande parte dos trabalhadores negros continuam ainda envolvidos em relações de poder com os supervisores brancos, que por virtude do seu poder, controlam as relações. Nesta situação, são mascarados os verdadeiros sentimentos e atitudes da relação, pelo que as relações paternalistas se desenvolvem muito facilmente.

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References:

Bell, D. (1992) Race, Racism and American Law. Little, Brown, Boston.

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