Originalmente, o epíteto de “nova esquerda” foi aplicado aos movimentos sociais que emergiram na década de 60, mas o verdadeiro intuito deste qualificativo era o de renovar o discurso e a prática da esquerda política que proliferava na sociedade americana e inglesa. O termo “nova esquerda” alcançou a proeminência no final da década de 50, depois de uma vaga de intelectuais britânicos se insurgirem após as revelações de Khrushchev sobre Estaline, a invasão Soviética da Hungria, e a invasão Britânica do Suez. Alguns dos protagonistas do movimento foram E.P. Thompson, Stuart Hall e Raymond Williams, e com a fundação do jornal New Left Review, o movimento adquiriu notoriedade internacional.
Politicamente, este grupo rejeitou tanto o Estalinismo como a deriva direitista da social-democracia, distanciando-se assim do quadro político definido no contexto da Guerra Fria. Intelectualmente, o grupo procurou delinear novas direções para a crítica social, questionando a análise marxista das classes em favor de um maior favorecimento da cultura e consciência dos atores sociais, de modo a desvelarem as relações de dominação e resistência. Uma grande parte das figuras principais da nova esquerda britânica não eram sociólogos de formação, apesar do seu trabalho evidenciar uma profunda sensibilidade sociológica. No outro lado do atlântico, na América do Norte, uma dinâmica intelectual e política paralela à britânica ramificou-se no cenário político, se bem que a sua génese tenha sido indígena. Há um trajeto que conhece o seu início com a inquietude política de John Dewey; passando pela concepção de democracia de A.J. Muste, que bebeu muito das doutrinas pacifistas de Gandhi e Thoreau; até alcançar a sociologia crítica de C. Wright Mills, que era uma síntese de várias correntes teóricas de crítica social, e que se tornou como que no manifesto da nova esquerda americana. A distância geográfica não impediu que a formação de uma comunidade cujo centro de gravidade era este propósito: radicalizar a democracia.
Com a década de 60, uma série de movimentos sociais sedimentaram a emergência da visão democrática da nova esquerda, tal como as reivindicações dos afro-americanos do Sul da América, o ativismo jovem contra a segregação racial ou os manifestos contra a corrida ao armamento nuclear, uma vez que inspiraram a crítica das estruturas hierárquicas estabelecidas.
References:
- Flacks, R. (1988), Making History: The American Left and the American Mind, New York, Columbia University Press.