Mundos da Arte
Uma das ideias mais influentes na sociologia da arte é conceito de mundos da arte, pois este proporciona a base para uma orientação sociológica na compreensão das artes, contrariamente à abordagem essencialmente artística que é favorecida em outras disciplinas cuja problemática passa pela análise das inúmeras artes.
Os mundos da arte apresentam tanto elementos sociais como culturais, sendo que o conceito implica que a arte é mais uma actividade colectiva, e menos um produto solitário de um génio solitário. Consequentemente, as bases culturais para a cooperação entre os actores nos mundos da arte traduzem-se como um compromisso de convenções artísticas, que definem o que é passível de ser considerado como arte, e como esta é produzida.
Dado o intricado nível que estas parcerias muitas vezes assumem, a produção e distribuição de arte nos mundos da arte caracteriza-se por uma extensa divisão do trabalho. Assim, sujeitos que não se consideram artistas disponibilizam serviços e materiais essenciais exigidos no processo criativo, e na disseminação das obras de arte: um pintor, a título de exemplo, necessita dos fabricantes do equipamento apropriado, de negociantes de arte, de curadores de museu, críticos, estetas, burocratas do Estado, membros do público, e outros pintores. Ao colocar o artista no contexto dos mundos da arte, desmistifica-se o artista e o génio artístico, uma vez que é revelado o processo criativo, semelhante em tantos casos ao percorrido pelos artistas maiores e menores.
Acrescente-se que o processo de criação de uma obra de arte não se limita às actividades situadas no estúdio do artista, pois envolve um sem número de oportunidades e restrições moldadas pela natureza da organização social dos mundos da arte a que o artista pertence. Partindo desta abordagem, recusa-se a análise convencional das obras de arte, baseada numa avaliação do significado social e estético, e postula-se não a obra de arte como um reflexo ou comentário da vida social, mas sim como imbricada nas convenções que possibilitam a sua criação.
Portanto, a formulação de julgamentos estéticos por parte dos sociólogos é inaceitável, pois a avaliação estética é parte da actividade colectiva inerente aos mundos das artes.
O conceito de mundos da artes foi introduzido na sociologia por Howard Becker, que se apropriou de um vasto conjunto de materiais extraídos das múltiplas artes, tanto populares como de elite. Com a publicação do livro Art Worlds em 1982, consolidou-se o renovado interesse dos sociólogos americanos na sociologia da arte. O conceito é poderoso uma vez que é aplicável a diferentes tipos de actividades criativas: as artes plásticas, a literatura, a música, a fotografia, a moda, as indústrias culturais como o cinema, a televisão, e a música popular.
References:
Becker, H. (1982) Art Worlds. University of California Press, Berkeley.