O conceito de modo asiático de produção prende-se com uma temática muito disputada na ciência social marxista. Nos escritos de Marx e Engels, as discussões sobre as “formas asiáticas” aparecem em inúmeras ocasiões, embora nunca em combinação com o termo “modo de produção”, um conceito que nunca foi sistematizado até à morte de Marx. Ademais, os dois pensadores empregam o termo em dois fenómenos deveras distintos. Nos artigos de jornais e na correspondência trocada na Índia, o conceito aparentemente aprofundava e elaborava uma versão económica da ideia oitocentista do “despotismo oriental”, abordando os grandes impérios asiáticos e suas complexas redes políticas.
Mas na famosa secção do Grundrisse der Kritik der politischen Okonomie, intitulada Formen die der Kapitalistischen Produktion vorhegehen, o conceito é usado para pormenorizar a mais primitiva expressão de uma sociedade estatal, onde um aglomerado de comunidades agrícolas autossuficientes são dominadas por símbolos da unidade mais elevada dessa colectividade, seja a natureza sacralizada, uma deidade ou ancestral. Semelhantemente, a exploração económica é uma extensão simples de um potencial já presente nas sociedades primitivas: os excedentes pertencem a uma comunidade superior, reificada como pessoa.
A versão do despotismo oriental do modo de produção asiático dominou o desenvolvimento intelectual em finais do século XIX e inícios do século XX. Os impérios asiáticos foram concebidos como sociedades historicamente estagnadas e dominadas pela classe estatal que controlava a totalidade das terras e organizava os trabalhos de irrigação supralocais, mas cuja base económica consistia em vilas autossuficientes cujo contacto com outros grupos era minimizado, e que suportavam a classe estatal através de taxações dos produtos excedentes.
Com a formalização do materialismo histórico no trabalho de Engels e da Segunda Internacional (Kautsky, Plekhanov), o conceito ligou-se crescentemente a uma explicação de cariz técnico-ecológico. Esta tendência culminou no trabalho subsequente de Wittfogel e emergiu finalmente na hipótese causal hidráulica, que postulou uma relação causal que as grandes obras de irrigação foram tomadas por Estado centralizador. O modo asiático não foi um conceito acolhido entre os altos escalões da sociedade soviética pós-revolucionária, de modo que tanto Wittfogel como a ideia de um modo de produção asiático foram purgados da Terceira Internacional, cujo projecto para uma revolução chinesa era incompatível com a sugestão de que o continente asiático era fundamentalmente diferente do ocidente.
References:
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Godelier, M. (1969) ‘La Notion de “mode de production asiatique” et les schémas marxistes devolution des sociétés’, in R.Garaudy (ed.) Sur le mode de production asiatique, Paris.
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Marx, K. and Engels, F. (1955) Selected Correspondence, Moscow. ——(1970 [1845–6]) The German Ideology, London. (Original edn, Die Deutsche Ideologie.