A futurologia não é tanto uma ciência social como um movimento social que floresceu na Europa e na América do Norte em finais da década de 50 do século XX, desde então disseminando-se pelo resto do globo. As pretensões do movimento são de foro científico: prever os desenvolvimentos futuros no desenvolvimento da sociedade por recurso a um estudo intensivo do passado e das tendências presentes.
Neste aspecto, dá prosseguimento às pistas oferecidas pelo primeiro exercício futurológico, o livro de H.G.Wells intitulado Anticipations (1901). De Wells, também, retira a raiz fortemente tecnológica, tal como se reflecte na obra principal que melhor caracteriza este movimento: The Year 2000 (1967) de Anthony Wiener e Herman Kahn.
Mas além desta orientação geral, não existe nenhum consenso quanto ao que compõe o método científico da “disciplina”, o que é notório na variedade de técnicas praticadas pelos numerosos acólitos: da projecção imaginativa na obra satírica de Michael Young nomeada The Rise of the Meritocracy (1958) e no livro de Dennis Gabor Inventing the Future (1963), às especulações civilizadas de Bertrand de Jouvenel no título The Art of Conjecture (1967). Uma contribuição substancial da europa de leste partiu da equipa checa de Radovin Richta, materializada na obra Civilization at the Crossroads (1967). Já a centralidade da tecnologia no pensamento futurológico tolda o escrito Technological Forecasting in Perspective (1967) de Erich Jantsch, que para o movimento futurologista representa, se não a Bíblia, no mínimo o Antigo Testamento.
O liame desta espécie de análise detém-se na análise da sociedade pós-industrial, onde os frutos da ciência aplicada produziram uma sociedade de lazer e abundância. Neste âmbito, a futurologia revela um “parentesco” com certas manifestações da ficção científica e com o utopismo, no entanto adicionando uma dimensão espúria de ciência rigorosa. Tal articulação tornou a “disciplina” atraente para os governos, sobretudo por aparentar oferecer materiais para um planeamento a larga escala e a longo prazo.
Mas desde a crise de petróleo de 1973, e especialmente a partir da recessão económica mundial, a futurologia perdeu o seu brilho, pelo que a resposta se traduziu na disponibilidade imediata de se incluir o pensamento de futurólogos radicais ou alternativos, especialmente os de inclinação ecológica. Em suma, a futurologia não desistiu nas esperanças iniciais, mas a conotação desta actividade cinge-se agora a uma maior sensibilidade para com os limites do desenvolvimento social e económico.
References:
Clarice, I.F. (1979) The Pattern of Expectation 1644–2001, New York.
Toffler, A. (1970) Future Shock, New York.
Wagar, W. (1992) A Short History of the Future, London.