Estigma

A noção de estigma refere-se a determinado atributo individual ou social, que é desvalorizado ou desacreditado num contexto social particular.

A noção de estigma refere-se a determinado atributo individual ou social, que é desvalorizado ou desacreditado num contexto social particular. Contudo, tal como Goffman (1963) notou, esta definição primária requer uma importante qualificação, uma que defina o estigma em termos de uma “linguagem relacional” que consiga ligar certos atributos a estereótipos particulares, ao invés de atributos objetivados a priori. Como um atributo, em si próprio, não carrega uma qualidade inerente que o torne ou não credível, fora da natureza do estereótipo que corresponde ao atributo, a linguagem relacional torna-se extremamente importante uma que vez que desvela esta associação.

Link e Phelan (2001) definiram o estigma em termos da presença e convergência de quatro componentes interrelacionados: em primeiro lugar, as pessoas distinguem e categorizam as diferenças humanas; em segundo lugar, membros de um grupo cultural dominante associam as pessoas classificadas a certos atributos indesejáveis; em terceiro lugar, grupos negativamente etiquetados são separados e inseridos em categorias separadas dos grupos não estigmatizados; por último, como resultado dos três primeiros componentes, os grupos estigmatizados experienciam a perda de estatuto. Consequentemente, o processo de substituição do estigma dependerá do grau de acesso de um agente ao poder social, económico e político.

No entanto, independentemente de como o estigma é definido, de modo a que um atributo seja denominado estigma, duas condições devem estar presentes.

Primeiramente, a designação do estigma deve ser informada por uma compreensão coletiva partilhada por todos os participantes, uma vez que um atributo que estigmatize num contexto social particular, pode não estigmatizar noutro contexto. Segundo, o grau de visibilidade do estigma determina o sentimento de si do indivíduo estigmatizado, e as possíveis interações deste com grupos que não são estigmatizados, nomeadamente em situações percebidas como encontros potencialmente estigmatizantes. Nestes encontros, surgem habitualmente três tipos de atributos estigmatizantes: o primeiro concerne a deformações físicas; o segundo relaciona-se com o que Goffman descreveu como o “estigma tribal da raça, nação e religião”; o terceiro é transmitido pela linhagem, e afeta todos os membros de um grupo estigmatizado.

Em segundo, há uma ampla categoria que diz respeito a atributos estigmatizantes que não são claramente visíveis, mas que se podem ou não, tornar visíveis por intermédio da interação social. É importante saber se o atributo estigmatizante se manifesta facilmente ou não, pois este determina a natureza da interação social entre os que são estigmatizados e os que são normais. Com mais valor ainda, situa a natureza das reações e o controlo de informação por parte dos indivíduos estigmatizados: no caso em que o atributo estigmatizante é facilmente percecionado, o processo de controlo de informação envolve a tentativa de minimização das tensões geradas com a interação social; se o atributo for bem explícito, o processo de controlo de informação muda da minimização da tensão para minimização da informação sobre os sentimentos despoletados com a revelação da identidade.

Daí que este complexo processo tenha sido definido por Goffman como “técnicas de controlo de informação”. As estratégias passam pela: ocultação de signos simbolicamente estigmatizantes; o distanciamento de indivíduos ou grupos relativamente a papéis, associações e instituições comummente estigmatizadas; a compartimentação, isto é, a divisão do mundo em dois mundos sociais, sendo o primeiro a esfera íntima onde o estigmatizado revela a sua identidade, e o segundo a esfera, por norma mais ampla, onde oculta sua identidade.

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References:

Goffman, E. (1963) Stigma: Notes on the Management of Spoiled Identities. Prentice-Hall, Englewood Cliffs, NJ.

Link, B. & Phelan, J. (2001) Conceptualizing Stigma. Annual Review of Sociology 27(3): 363 85.

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