Por desigualdade salarial compreende-se a distribuição desproporcional de rendimentos pelas unidades consideradas, isto é, usualmente os indivíduos. Assim, a desigualdade salarial global refere-se à distribuição iníqua de rendimentos pelos cidadãos de todo o mundo, quer dizer, entre nações e dentro das diversas nações. A distribuição desigual de rendimentos por várias nações, implica a distribuição desnivelada do rendimento médio pelas nações; o desequilíbrio de rendimentos dentro das nações representa a distribuição desproporcional por unidades individuais ou agregados familiares no país em questão.
Tradicionalmente, os sociólogos concentraram-se sobretudo na desigualdade inerente a uma nação considerada: no porquê de a desigualdade ser superior em determinadas nações; nas consequências da elevada (e reduzida) desigualdade; nas alterações estruturais da desigualdade, isto é, no facto da alteração da desigualdade salarial se referir às transformações do rácio do rendimento individual. Se o rendimento de todas as unidades individuais duplicar, de modo que 100 euros se convertem em 200 euros, e 1000 euros em 2000 euros, então a desigualdade salarial permanece uma constante devido ao rácio do rendimento não obstar à fixação de 10 para 1.
Recentemente tem surgido um interesse renovado em torno da desigualdade salarial transversal às nações. Esta nova atenção reflete (1) o crescente reconhecimento de que as diferenças salariais entre as nações são uma parcela da configuração mais vasto da desigualdade salarial global; (2) dados mais fidedignos sobre a ordem do rendimento nacional; (3) e o debate orientado para a questão do declínio da desigualdade salarial entre nações, e se tal mutação é um passo suficiente para alterar a desigualdade global do mesmo modo.
Primeiramente, em consideração à desigualdade entre nações como sendo uma componente da desigualdade global, suponha-se que se eliminava o quadro geral de iniquidade de inúmeros países ao deslocar-se a receita disponível para o rendimento de equilíbrio de cada país. Qual seria então a percentagem de desigualdade global restante? A resposta seria praticamente toda, uma vez que as enormes disparidades de rendimento entre as regiões mais ricas e pobres do mundo, reside transversalmente aos países e não no seu interior.
A proeminência da desigualdade entre países no mundo hodierno reflete a profunda imparidade espacial do crescimento dos rendimentos durante o século XIX e a primeira metade do século XX. Durante este período o mundo foi dividido em três campos: o ocidente industrializado, adiantando-se relativamente aos continentes asiático e africano. Uma vez que foram as regiões mais ricas que cresceram velozmente, a diferença na taxa de crescimento resultou na desigualdade maciça de rendimentos de que temos conhecimento atualmente.
Assim, o legado da Revolução Industrial é o de um mundo cujo rendimento médio é desproporcionalmente distribuído. O crescimento da desigualdade global durante este período deveu-se inteiramente à emergente iniquidade entre países, uma vez que o rendimento referente a cada nação declinou durante grande porção deste período.
Contudo, em décadas recentes, a desigualdade de rendimentos tem sofrido uma redução notável entre as várias nações do mundo; porém, aumentando na nação média, resultando assim numa nova paisagem para a desigualdade salarial global, onde a nacionalidade se tornou menos importante na determinação do rendimento individual.
O grande desafio futuro em torno da desigualdade global salarial é a fidedignidade dos dados disponíveis. O consenso em torno das unidades de medida passa pelo crivo da medição do rendimento, e da medição e decomposição da iniquidade dos rendimentos; mas as unidades de medida e a decomposição somente são fidedignas consoante os dados projetados.
References:
Firebaugh, G. (2003) The New Geography of Global Income Inequality. Harvard University Press, Cambridge, MA.