Introdução
O conceito de desemprego compreende toda a força de trabalho de uma nação economicamente ativa e apta a desempenhar uma profissão que, contudo, se encontra destituída de um posto de trabalho. O desemprego e perda de trabalho afeta milhões de pessoas no mundo todos os anos, e a taxa de desemprego varia consoante as condições económicas entre outras circunstâncias.
Eis algumas das possíveis categorias de classificação do desemprego: o desemprego cíclico, manifestado em grandes recessões económicas, quando a produção declina gravemente, consolidando-se uma rutura no ciclo económico; o desemprego disfarçado, baseado numa remuneração muito abaixo dos padrões aceitáveis, que afeta principalmente os trabalhadores sem recursos financeiros ou qualificação profissional necessários à entrada no mercado de trabalho; o desemprego normal, que acontece por desajuste ou desnivelamento entre a oferta e a procura; o desemprego sazonal, limitado a certos períodos anuais; o desemprego estrutural, cuja génese assenta nas alterações nas tecnologias de produção ou nos padrões de exigências dos consumidores, sendo que nos dois casos, um grande número de trabalhadores vê-se confrontado com o desemprego a curto prazo, ao passo que uma minoria especializada acaba beneficiada pela valorização da sua mão-de-obra.
Sociologia do Desemprego
A pesquisa sociológica em torno das consequências sociais e económicas do desemprego para indivíduos, agregados familiares entre outros, concentraram-se nas relações entre o desemprego e a estabilidade mental. Por exemplo, a Grande Depressão de 1929 gerou alguns estudos pelas consequências económicas negativas do desemprego como o suicídio ou a alteração identitária individual. Como resposta ao desenvolvimento do Estado Social, as pesquisas mais recentes concentraram-se no aspeto psicossocial do desemprego ao invés das considerações meramente económicas. Grande parte destes estudos demonstrou que os desempregados são mentalmente mais instáveis, ainda que tal fenómeno conheça variações: os efeitos adversos do desemprego são mediados pela situação económica do indivíduo, o género, a classe social, a idade, o estatuto civil, a etnia, a duração do desemprego, e precedentes relativos a experiências de desemprego. Debateu-se mesmo se a relação entre desemprego e estabilidade mental deveria ser compreendida em termos causais: seria o bem-estar ou mal-estar mental o motivo por detrás do desemprego ou o inverso? Estudos longitudinais demonstraram que é uma questão de seleção e efeito: pessoas com uma pobre condição mental correm o risco de se verem desempregadas, mas o desemprego em si, tem um impacto negativo no nível de bem-estar psicológico. Contudo, uma grande parte dos estudos demonstraram poderosamente que o desemprego provoca (não resultando meramente) a instabilidade mental (Gallie & Paugam 2000; Nordenmark & Strandh 1999; Warr 1987).
Uma das perspetivas teóricas mais amplamente usada, é a explicação das consequências do desemprego em termos funcionalistas, particularmente desenvolvida por Maria Jahoda (1982). Esta investigadora abordou as consequências do desemprego à luz do significado psicossocial do desemprego. Jahoda defendeu mesmo que o desemprego, adicionalmente à função económica, possui certas funções psicossociais (estrutura temporal, contato social, propósitos coletivos, atividade regular, estatuto e identidade). A perda destas funções acaba por empobrecer a saúde mental entre os desempregados.
Assim, como contribuição deste ponto de vista, uma certeza há que é garantida: o desemprego manifesta-se duplamente, estruturando o bem-estar mental de acordo com uma linha económica e outra psicossocial. O que vai de encontro ao modelo PEN (psychosocial and economic need) de Eddy, que combina a função psicossocial com a perspetiva do agente num modelo conceptual através do qual compreendemos a interação entre estas duas necessidades. O modelo prevê que o desemprego regido por um baixo nível de necessidades económicas e psicossociais, não será problemático para o agente, uma vez que este se pode adaptar relativamente bem a esta nova situação. Pelo contrário, a forte necessidade económica e psicossocial estende as probabilidades da fragilização da sanidade mental do agente.
References:
Ezzy, D. (1993) Unemployment and Mental Health: A Critical Review. Social Science and Medicine 37: 41 52.
Fryer, D. (1986) Employment Deprivation and Personal Agency During Unemployment: A Critical Discussion of Jahoda’s Explanation of the Psychological Effects of Unemployment. Social Behaviour 1: 3 23.
Jahoda, M (1982) Employment and Unemployment: A Social Psychological Analysis. Cambridge University Press, Cambridge.
Warr, P. (1987) Work, Unemployment and Mental Health. Clarendon Press, Oxford.