Para se compreender a filosofia social e a teoria sociológica que Durkheim edificou nos seus escritos, há que recorrer a um conceito chave para o sociólogo: a consciência coletiva, que consiste num conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma sociedade, e que constitui um sistema determinado que existe em si, isto é, que tem vida própria. Por outras palavras, apesar de serem as consciências individuais a expressarem o social por meio dos sentimentos e crenças, há uma “Sociedade” que se distingue analiticamente das consciências individuais, uma vez que apresenta uma combinação de leis próprias, inalcançáveis à consciência individual. Variando de sociedade em sociedade, a consciência coletiva exercerá mais ou menos força, mais ou menos extensão. Nas sociedades onde prevalece a solidariedade mecânica, a consciência coletiva sobrepõe-se à maior parte das consciências individuais, mas nas sociedades onde vigora a solidariedade orgânica, cada um é livre de crer, de escolher e atuar segundo preferências próprias num grande número de circunstâncias.
A partir da tese do consciente coletivo, nasceu a ideia mestre de Durkheim: a sociedade não é um produto do indivíduo porque é a sociedade que determina o indivíduo. Este primado da sociedade contra o indivíduo tem dois sentidos: em primeiro lugar, há a sociedade onde os indivíduos se perdem no todo social, e esta tem prioridade histórica sobre as sociedades onde o individual tem primazia; em segundo, é impossível explicitar os fenómenos de diferenciação social e solidariedade orgânica a partir dos indivíduos, pois os fenómenos individuais não iluminam o estado da coletividade, visto que é o inverso, quer dizer, o estado da coletividade, que esclarece o domínio do individual.
References:
- Durkheim, Émile (1999 [1930]), Da Divisão do Trabalho Social, São Paulo, Martins Fonte.