Introdução
O termo caudilhismo estabeleceu-se historicamente na América Latina, e identifica o período histórico da independência (1810-1825) e pós-independência, prolongado pela construção de Estados-Nação durante o século XIX. Embora nem todos os países da América Latina tenham atravessado este período transicional, é possível contextualizar os componentes históricos que permitiram a presença do caudilhismo: com pertinência, a alteração dos modelos económicos após o abandono espanhol das colónias americanas; e no caso argentino e chileno, o declínio do sistema colonial ao implicar o florescimento de uma oligarquia exportadora ligada ao capitalismo inglês.
Etimologicamente, caudillo deriva do termo latino capitellus ou caput, que significa cabeça. Um sistema ou regime político baseado na caudillaje é denominado caudilhismo, e é predominado pelo mandato do caudilho, isto é, o líder político. Caudilho significa chefe de facção, de partido ou de um bando armado, em suma, uma pessoa que concentra em si o poder político. No entanto, os líderes políticos ou militares que conduzem movimentos populares ou de emancipação social recebem exactamente essa mesma classificação.
O caudilhismo, mormente na expressão assumida nas primeiras décadas do século XIX na América Latina, está ligado à experiência do Bonapartismo francês, inaugurada com o golpe de Estado planeado por Louis Bonaparte em Dezembro de 1851. Se o Bonapartismo foi possível, tal deve-se essencialmente ao facto de ter permitido o equilíbrio entre os partidos antagónicos, que se traduziu numa luta irresoluta.
Consequentemente, diferentes autores analisaram o conceito de caudilhismo a partir de duas vias principais: como um movimento social ou regime institucional; ou como um reflexo da acção de um líder ou caudilho.
Este fenómeno é dominantemente associado à política américo-latina, não obstante vários movimentos e regimes com diferentes centros geográficos terem recebido esse epíteto, como o Peronismo na Argentina, o Cesarismo em Roma, o Bonapartismo em França, o Bismarckismo na Alemanha, ou Franquismo na Espanha.
A problemática principal na caracterização deste fenómeno não é tanto a ideologia do caudilho, seja esta regida pelos princípios de esquerda ou direita, nem a identificação própria com o fascismo, o populismo, o democratismo, a revolução ou o autoritarismo, mas sim a característica transcendente associada às qualidades do líder e ao contexto histórico. Outros géneros sociais atribuem-se igualmente à noção de caudilho, seja a ideia de bandido social, mafioso, caudilho revolucionário, líder carismático de massas, ou chefe político.
O caudilhismo está ainda relacionado com determinados períodos históricos, movimentos, e regimes políticos. Estes movimentos caracterizam-se por serem transições políticas conduzidas por líderes carismáticos. É fundamental sublinhar nestes fenómenos as semelhanças estruturais assim como a figura replicada do caudilho. A replicação da figura deve-se fundamentalmente ao carisma, uma forma particular de poder associada a uma autoridade indisputável (ou perto disso), que é sustentada pelo talento natural do líder em fascinar as massas. Mas o poder de atracção não basta: esse dom deve alimentar a missão, tenha esta, pretensões religiosas, políticas, militares, ou sociais. Ao carisma soma-se a capacidade de prever, isto é, a verdade que somente o líder pode revelar, e o pragmatismo, quer dizer, a capacidade de o líder verter em termos práticos as decisões tomadas, sendo que a autoridade é o produto da gestão inteligente destes dons.
References:
Guzmán, M. L. (1995) Caudillos y otros extremos. Universidad Nacional Autónoma de México, Mexico City.
