No linguajar comum, define-se a mente como inteligência cognitiva, autoconsciência, mentalidade ou razão, qualidades estas que a certa altura eram somente atributos do ser humano. Ao passo que as formas de vida animal exibem estas capacidades em alguma extensão, apenas no ser humano se desenvolveram como mecanismos primários de adaptação.
Nos círculos académicos, o uso do termo mente ao invés dos sinónimos referidos acima, alude ao seu lugar incontestável nas teorias epistemológicas da filosofia ocidental. Isto é especialmente verdade na psicologia social desde que George Herbert Mead demonstrou que a mente individual depende do meio envolvente. Previamente a mente era entendida num sentido puramente mental, como uma entidade duradoura cerrada em si, isenta da influência de episódios biossociais: era compreendida mais como uma tábula rasa onde se imprimiam os dados da experiência; mais como um projetor que impunha as suas formas ao mundo.
Por intermédio da sua aprendizagem no campo do behaviourismo social, Mead transcendeu os debates pérfidos entre o idealismo, racionalismo e realismo empírico, tal como eram moda na era do Iluminismo. Se deu este passo, foi por conceber a mente como possuindo uma ligação com o mundo que evidenciava certas reciprocidades, ao invés de compreender esta ligação segundo a razão do racionalista ou os sentidos do realista. O mundo torna-se conhecido através da forma como responde às nossas ações, e não por mera reflexão ou registo passivo através dos sentidos. Por conseguinte, a mente é dependente do meio.
A teoria do ato social de Mead percorre quatro fases: o impulso, a perceção, a manipulação e a consumação. O pensamento, a consciência e o gesto intencional ocorrem por intermédio da manipulação do ato. A ação é preliminar à reflexão, uma vez que a consciência ocorre quando o ato é suspenso. O carácter obstinado do mundo na sua resistência provoca a detenção do ato por parte do agente, uma vez que o indivíduo se bloqueia para considerar dois aspetos: as alternativas hipotéticas que derivam dessa resistência que o mundo apresenta, e a capacidade de o indivíduo agir segundo essas mesmas alternativas. Este processo representa a capacidade do indivíduo para a consciência de si, a capacidade de assumir o papel de “outro” para compreender o próprio comportamento.
O comportamento consciente incorpora ambas as capacidades, encorajando a ação social flexível e coordenada. Assumindo um papel, os atores respondem aos seus comportamentos contrários como outro indivíduo responderia, e usam essa resposta como guia para a conduta individual. E se tal processo é possível, é porque a tomada de papel requer igualmente a pré-existência de um mundo social onde o indivíduo pertence a uma comunidade linguística. As exigências cognitivas de tal processo garantem que a tomada de outro papel será episódica e situada.
Esta formulação renovou o discurso sobre a mente, uma vez que o comportamento humano era compreendido teleologicamente, sendo que a terminação do ato individual estaria implícita no início. O behaviourismo social e a teoria de Mead sobre a mente nasceram de uma oposição ao behaviourismo de Watson e Skinner, oferecendo os primeiros a única alternativa disponível defensável do ato voluntário e do autocontrolo.
A distribuição balançada pelo meio envolvente e pelo agente do processo percetivo forneceu um bom enquadramento de base para a neurociência contemporânea. O cérebro de cada indivíduo, desde que se encontre a trabalhar, deve o seu funcionamento à interação com outros cérebros que operam simbolicamente em sistemas culturais. Descobertas correntes acrescentam mesmo que o próprio cérebro confere um bom grau de significância à socialidade humana, dada a sua propensão para o pensamento pré-linguístico, conceitos ou sensibilidade para as expressões faciais.
References:
Mead, G. H. (1934) Mind, Self, and Society. University of Chicago Press, Chicago.