Grupanálise

Apresentação do conceito de Grupanálise – Foulkes desempenhou um papel fundamental na criação da grupanálise, fundando o Instituto de Grupanálise (…)

Conceito de Grupanálise

Foulkes desempenhou um papel fundamental na criação da grupanálise, fundando o Instituto de Grupanálise e o jornal Group Analysis. Em Portugal, a terapia grupanalítica nasceu em 1956 pela mão do psiquiatra Eduardo Luís Cortesão, discípulo de Foulkes, iniciando-se assim um movimento grupanalítico.

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Grupanálise, Cortesão contribuiu para que a grupanálise adquirisse um substrato teórico-técnico e se difundisse além do elementar tratamento psicológico de grupo. Com base neste trabalho de expansão e verdadeiro empenho, Cortesão estabeleceu e desenvolveu conceitos, e definiu procedimentos técnicos fundamentais que enformam o que comummente se designa, no campo grupanalítico, por Escola Portuguesa. Destes conceitos evidenciam-se o padrão grupanalítico, os níveis de experiência e interpretação em grupanálise, a interpretação comutativa, a per-laboração, a neurose de transferência em grupanálise, entre outros.

Conforme Cortesão indica num dos seus trabalhos, a grupanálise e a psicanálise são terapias e métodos de investigação com uma base teórica comum, mas com procedimentos distintos. Segundo Zimerman, e ainda Bateman, Brown e Pedder, a grupanálise remete para o insight, tendo como objetivo alcançar mudanças profundas ou simplesmente remover os sintomas, permitindo que o indivíduo se sinta adaptado nas suas inter-relações. Esta terapia observa o mundo interno do indivíduo, como se fosse constituído e profundamente afetado pelas relações que estabelece com os outros.

 Segundo Foulkes, a grupanálise é uma forma de psicoterapia de grupo devido à sua estrutura, processo e conteúdo, tendo como objetivo tornar consciente o inconsciente, de modo a procurar a individualidade do self, que é formada desde a infância até ao momento atual da vida do indivíduo. Assim, este, através da interação com outras pessoas, vai formando uma matriz relacional interna ou uma matriz pessoal de grupo, sendo que ao reexperimentar situações emocionais conflituosas, repetindo no aqui e no agora as suas relações, poderá elaborar e até corrigir certas atitudes.

Como afirma a Sociedade Portuguesa de Grupanálise, o indivíduo, ao longo do seu desenvolvimento, cresce no seio de diversos grupos, nomeadamente o grupo familiar, a escola, o grupo de trabalho, entre outros. Com eles aprendemos a relacionarmo-nos em sociedade, pelo que os sujeitos que recorrem a ajuda psicológica têm em comum uma dificuldade, a relação com o outro. Posto isto, a grupanálise permite abordar os conflitos internos que se foram desenvolvendo nas relações com os outros ao longo da sua vida.

De considerar que, e de acordo com Rodrigues, baseando-se nos trabalhos de Racker, o analista deve compreender o paciente, pelo que é essencial possuir um espaço afetivo relativamente desenvolvido e acolhedor, permitindo-lhe um reconhecimento com os sentimentos e pensamentos do paciente.  A empatia é fundamental.

Relativamente às vantagens deste tipo de psicoterapia podemos salientar algumas delas. Considerando Zimerman, a primeira refere-se ao facto da dinâmica que se verifica em grupo permitir uma compreensão mais completa da inter-relação entre o indivíduo e os grupos em que se encontra inserido. O campo grupal permite que o indivíduo reflita sobre si mesmo, enquanto os outros elementos do grupo também refletem sobre o que foi referido, permitindo conhecerem uma parte importante de si mesmos, possibilitando uma melhor comunicação e uma maior valorização dos outros. Deste modo, a grupanálise, mais do que qualquer outra abordagem psicoterapêutica, favorece a comunicação.

Uma outra vantagem, ainda de acordo com Zimerman e também com a Sociedade Portuguesa de Grupanálise, refere-se à possibilidade dos membros do grupo executarem as suas próprias capacidades e potencialidades no seio do grupo, o que permite que estes se sintam parte do mesmo, o que salienta a aceitação mútua por parte de todos os membros pertencentes ao grupo psicoterapêutico. Por último é importante salientar que a grupanálise permite um tratamento menos dispendioso a nível económico para o paciente, comparativamente à psicoterapia individual.

Na grupanálise, segundo Pisani e a Sociedade Portuguesa de Grupanálise, as sessões duram cerca de um hora e vinte minutos, realizando-se duas a três vezes por semana num horário fixo e pré-estabelecido. As sessões não podem ser interrompidas por fatores externos, tendo de se assegurar um ambiente tranquilo. A grupanálise apresenta uma constituição de 7 a 8 membros no máximo. A sala conta com nove cadeiras dispostas em círculo, geralmente com uma pequena mesa no centro. Assim sendo, os elementos organizam-se em círculo e ficam face-a-face. Não existe contacto físico entre eles. O terapeuta senta-se no círculo e é visível por todos os elementos. A duração da grupanálise é variável, dependendo da patologia do cliente, da sua motivação, capacidade de mudança interna, e do fim a que se destina. De uma forma geral, é um processo longo, visto que não pretende apenas o desaparecimento dos sintomas mas uma mudança mais profunda que engloba a capacidade de lidar com os conflitos internos e externos de uma forma mais adequada, e a capacidade de estabelecer relações mais saudáveis com as outras pessoas.

Como estabelecido pela Sociedade Portuguesa de Grupanálise, a grupanálise apresenta algumas regras essenciais para que possa ter um efeito terapêutico. Assim, de uma forma geral, os elementos do grupo não se podem conhecer anteriormente; não se devem encontrar uns com os outros nem com o grupanalista fora das sessões; o grupanalista não pode tratar nem estabelecer contacto com a família e amigos dos elementos a fazer grupanálise; não podem existir sessões individuais com nenhum dos grupanalisandos após entrarem no grupo; e a confidencialidade não deve ser quebrada quer pelo grupanalista, quer pelos elementos do grupo.

Na grupanálise, e como afirmam Pisani e também Ferreira, a função do terapeuta é muito importante. Este é responsável pela seleção dos elementos e pela terapia e, portanto, deve criar e manter uma atmosfera de grupo em que haja uma participação ativa dos elementos. Ele utiliza a técnica da livre discussão do grupo, técnica que permite a livre comunicação e diálogo entre os membros, em vez de assumir uma posição de líder autoritário e diretivo. Também permite a livre comunicação entre os membros, sem a presença de qualquer censura.

Pisani acrescenta, e concordantemente com Ferro, que o grupanalista dá significado às emoções e sentimentos que estão a ser vividos por cada um dos elementos e facilita a vivência de relações interpessoais novas e construtivas com os outros membros do grupo e com o próprio terapeuta, o que possibilita a construção de relações mais adaptativas no decorrer da vida dos elementos. De igual modo, tanto o grupo familiar como os outros grupos que criamos ao longo da vida, como o escolar, o cultural, profissional, entre outros, podem ser recriados na grupanálise, fazendo surgir memórias que podem estar mais presentes ou ocultas, o que possibilita um trabalho mais aprofundado. Com a grupanálise é possível uma análise mais profunda do mundo interno de cada um, o que leva a uma reconstrução que permitirá uma vida mais adaptada aos mais variados contextos de grupo nos quais nos inserimos. Ela pretende que ocorram mudanças no mundo interior do paciente de forma a permitir as melhores condições psicológicas possíveis para as funções do ego.

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References:

  • Bateman, A., Brown, D., & Pedder, J. (2003). Princípios e prática das psicoterapias. Lisboa: Climepsi.
  • Cortesão, E. (1989). Grupanálise: Teoria e técnica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
  • Ferreira, G. (2006). Grupanálise e psicoterapia analítica de grupo: Semelhanças e diferenças. Grupanálise Online.pt, 4, 5-7.
  • Ferro, S. (2006). Preconceito em grupanálisis – Considerações a propósito do terminus de uma grupanálise. Vínculo, 3(3).
  • Pisani, A. (2005). Elementos de análise de grupo: Os grupos pequeno e médio. São Paulo: Casa do Psicólogo.
  • Rodrigues, T. (2010). Transferência e contratransferência. Grupanálise Online.pt, 1, 1-7.
  • Sociedade Portuguesa de Grupanálise. (2009). Grupanálise como processo psicoterapêutico.
  • Sociedade Portuguesa de Grupanálise. (2009). História.
  • Sociedade Portuguesa de Grupanálise. (2009).
  • Sociedade Portuguesa de Grupanálise. (2009). Vantagens da grupanálise.
  • Zimerman, D. (2003). Psicanálise individual e grupanálise: Semelhanças e diferenças. Grupanálise Online.pt, 1, 4-8.
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