Conceito de Entrevista motivacional
A entrevista motivacional é uma estratégia e atitude de intervenção psicológica que promove a motivação intrínseca e a preparação para a mudança através da exploração e resolução de ambivalências sobre uma determinada situação.
Princípios da entrevista motivacional
No âmbito desta estratégia, o psicólogo apresenta uma atitude colaborativa com o paciente e centrada nas motivações, interesses e valores deste. Desta forma, em conjunto com o psicólogo, o paciente explora as suas motivações, que numa situação de resistência à mudança tendem a ser incongruentes ou incompatíveis, procurando justamente torná-las conscientes e acessíveis.
É essencial que a atitude do psicólogo seja empática e aceitante no sentido de providenciar um espaço seguro e contentor de preparação para a mudança. Na realidade, para que tal posso ocorrer, é necessário que o paciente seja ativamente ouvido nas suas perspetivas e motivações, assim como validada a ambivalência como uma experiência natural. A aceitação veiculada promove assim a capacidade do indivíduo aceder à ambivalência experienciada e estar com esta também de uma forma mais aceitante. A entrevista motivacional promove assim a preparação para a mudança e a redução da resistência à mesma.
Para tal, pretende-se então promover a discrepância entre o estado/situação atual e a situação a que aspira/objetivos do indivíduo, nomeadamente através da consciência dos custos ou desvantagens da situação atual em contraponto com as vantagens dos seus objetivos. A exploração de vantagens e desvantagens, ou argumentos para a mudança, é iniciada pelo indivíduo e acompanhada pelo psicólogo, respeitando-se o quadro de referência e os valores do primeiro.
Quanto mais incompatíveis são as desvantagens de uma e as vantagens de outra, mais provável se afigura a mudança. Complementarmente, para que a probabilidade de mudança seja maximizada, a discrepância entre o estado atual e o estado que se pretende alcançar não deve ser muita elevada, pois esta perspetiva tende a ser desmotivadora e redutora da autoeficácia. Pelo contrário, a discrepância deve ser relativamente baixa para que a autoeficácia seja potenciada, promovendo a motivação e a ação.
A postura do psicólogo deve, em suma, ser facilitadora do processo de argumentação do paciente ao invés de coerciva ou de contra-argumentação. O indivíduo, por sua vez, é percebido como autónomo, capaz de explorar perspetivas e gerar alternativas, e responsável pelo seu processo de mudança.
Fases do processo da entrevista motivacional
Num primeiro momento, o objetivo da entrevista motivacional é promover e consolidar a motivação intrínseca para a mudança. Frequentemente, esta não existe ou existe a par de motivações para a manutenção da situação atual (isto é, não mudança), expressas pela ambivalência. Neste âmbito, importa também atender à necessidade da motivação ser de natureza intrínseca, ao invés de extrínseca, ou seja, relativa à vontade de outros ou à necessidade de responder às suas vontades.
É imprescindível que o propósito seja do indivíduo para que este possa de facto querer mobilizar-se para mudar algo que o desagrade no presente. Para tal, a importância da mudança, revestida pelas vantagens, deve ser acompanhada de confiança e segurança na capacidade de mudar. Nesta fase, o indivíduo vai progredindo de um estádio de mudança para outro, sendo estes os estádios de contemplação (consciência da problemática, sem compromisso) e a preparação para a mudança (intenção e compromisso para agir).
Num segundo momento, psicólogo e paciente trabalham no sentido de estabelecer o compromisso e o planeamento da ação. O psicólogo facilita e orienta o processo de planeamento do paciente de forma a que este consiga estabelecer um plano de ação que vá ao encontro dos seus objetivos e valores. Os objetivos, por sua vez, devem ser específicos e realistas para que também os resultados possam ser objetivamente avaliados e reforçados. Simultaneamente, devem ser considerados as prioridades, no caso de o paciente apresentar diversos objetivos, estabelecendo assim uma ordenação ou complementaridade de objetivos.
Para cada um dos objetivos, é essencial promover o pensamento alternativo relativamente ao modo como poderá agir para os concretizar, gerando diferentes e potenciais opções ou soluções. O individuo pode assim, de forma consciente, optar de acordo com as consequências e resultados que cada uma destas soluções providencia e que mais se aproximam do que pretende alcançar.
Nesta fase, o indivíduo progride do estádio de preparação para o estádio de ação (modificação do comportamento), e progressivamente para o de manutenção (consolidação) desta. É igualmente importante considerar eventuais obstáculos (que possam resultar num eventual recaída) e estratégias de confronto para lhes fazer face.
Palavras- chave: Entrevista motivacional; estádios de mudança; ambivalência; motivação intrínseca; processo psicoterapêutico
References:
Engle, D., & Arkowitz, H. (2006). Ambivalence in Psychotherapy. Facilitating readiness to change. New York: The Guilford Press.
Miller, W., & Rollnick, S. (2002). Motivational Interviewing. Preparing people for change. New York: The Guilford Press.