A função do Jornalismo Cultural é revelar de forma clara e acessível “que, em toda grande obra, de literatura, de poesia, de música, de pintura, de escultura, há um pensamento profundo sobre a condição humana” (MORIN,p. 45, 2001).
Nos primórdios do jornalismo cultural, “The Spectator” já colocava como missão “trazer a filosofia para fora das instituições académicas para ser tratada em clubes e assembleias, em mesas de chá e café”. Assim, o jornalismo cultural nasce com a função de mediar o conhecimento e aproximá-lo do maior número de pessoas. A intenção era a de não restringir a uma elite a esfera das artes, da filosofia e da literatura. Havia nisso um entendimento da função social do jornalismo cultural como lócus adequado para dar acesso a todo o saber, fato esse que se torna uma regularidade no jornalismo cultural.
O passo fundamental na aprendizagem da atuação no jornalismo cultural é compreender o papel social do jornalista que atua nessa área. Qual seja, a de um mediador cultural. É o jornalista a pessoa responsável por pesquisar, entrevistar, apurar, selecionar e codificar de forma clara as informações que envolvem o facto em questão.
Assim, é fundamental que o jornalista tenha a capacidade de compreender a obra cultural em questão. O jornalista, como mediador, deve ser aquele capaz de revelar de forma simples a complexidade de relações a que cada acontecimento está ligado. O jornalismo cultural cumpre simultaneamente uma função informativa e poética na vida dos sujeitos. É sua habilidade tocar a integralidade das pessoas que, ao buscarem essa secção ou essa especialidade do jornalismo, estão em busca de um conhecimento sensível e reflexivo. Ou seja, buscam uma experiência estética que ora cumpre uma função puramente sensível, ora uma função política e reflexiva. Assim, o jornalismo cultural descortina as obras culturais (a literatura, a música, o cinema, as artes plásticas etc) em seu sentido forte; no que possuem de estético e ético.
Se paramos para pensar, é através do jornalismo cultural que temos conhecimento dos principais eventos de cultura, como lançamentos de livros, de CDs, de filmes, de peças de teatro, de apresentações circenses, etc. E é também através deste tipo de jornalismo que recordamos os feitos de nomes grandiosos do ramo cultural. Quando José Saramago faleceu, em 18 de Junho de 2010, a maioria das publicações do mundo noticiaram a perda de um dos maiores vultos da literatura portuguesa. Não que essa notícia fosse específica do jornalismo cultural, mas a forma como ela foi tratada, sim. Páginas e páginas tinham como conteúdo passagens da vida deste autor, a sua bibliografia, o seu perfil, resenhas sobre os seus principais livros e reproduções de entrevistas concedidas por ele no passado. Em consequência disso, quem nunca leu um livro seu correu até às livrarias para garantir o seu exemplar. Facto é que, na Espanha, os livros de Saramago desapareceram das prateleiras das livrarias do país após a sua morte. A influência da comunicação foi enorme. O que gerou uma comoção popular que ultrapassou as fronteiras nacionais de Portugal. Em pouco tempo a Internet ficou rodeada de vídeos que tratavam os trabalhos deste autor. Certamente, há quem não tenha tido contacto com a informação sobre a sua morte.
References:
Basso, Eliane Corti. Jornalismo Cultural – subsídios para uma reflexão