Faits divers

Faits divers são factos que, atualmente, permeiam o sensacionalismo no jornalismo. De diferentes causas, eles estão fortemente ligados ao humor.

O que significa a expressão Faits Divers

O termo faits divers é francês e significa, literalmente, factos diversos. O termo foi cunhado no jargão jornalístico para designar assuntos não categorizáveis nas editorias tradicionais da profissão.

Alguns dos valores-notícia favorecem mais a disseminação de faits divers, já que, por norma, os jornalistas escrevem sobre aquilo que é público e de interesse público. Tais excertos tornam-se noticiosos por apresentarem casos inexplicáveis ou excecionais e extraordinários (Barthes, 1966).

É como Angrimani (1995:26) explana: “No faits divers, as proteções da vida normal são rompidas pelo acidente, catástrofe, crime, paixões, ciúmes, sadismo. O universo dos faits divers tem em comum com o imaginário (o sonho, o romance, o filme) o desejo de enfrentar a ordem das coisas, violar tabus, levar ao limite a lógica das paixões.”

faits divers

Faits divers: o inusitado

Os faits divers emergiram junto com o advento dos romances-folhetins. Ambos os estilos surgiram na França, em meados do século XIX, com a disseminação em larga escala do jornalismo.

Nesta época, e com a industrialização, a imprensa possibilitou a venda barata e rápida de jornais. Com isso, a qualidade da atividade diminuiu consideravelmente. Como conta Angrimani (1995), os jornais se tornaram um negócio e, para que fosse lucrativo, os jornalistas precisavam chamar a atenção do público.

Para atingir as classes subalternas, a receita da imprensa era simples: estabelecer estereótipos, sentimentos e modelos de heróis. Isso levava a uma identificação. Por isso que Barthes (1966) afirma que os faits divers são factos desconetados de historicidade jornalística, ou seja, referem-se apenas ao seu carácter interno e seu interesse como facto inusitado, pitoresco.

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Estrutura dos faits divers

De acordo com Barthes (1966), os faits divers tem um aspeto imanente, ou seja, toda a sua informação pode ser compreendida sem a necessidade de uma contextualização. Geralmente são acontecimentos trágicos, tais como crimes e acidentes, delitos descritos em poucas linhas.

Isso porque os faits divers sempre despertaram um grande interesse no público geral. Uma das explicações para tamanha popularidade está no facto da sociedade ocidentalizada ser enraizada em uma cultura romanesca, que busca dar sentido à realidade articulando factos do quotidiano a partir de relações espelhadas na estrutura de um romance literário (Angrimani, 1995).

Os faits divers contribuem com essa forma de estruturar o mundo, pois apresentam fatos pitorescos, apelando para o imaginário da sociedade, que busca um sentido maior nestes, como se dá nos romances, em que as conexões carregam um sentido mais amplo, gradualmente revelado na narrativa.

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Relação de causalidade x coincidência

Barthes (1966) dividiu os faits divers em duas relações: causalidade e coincidência. A primeira relação refere-se à causa, que pode ser conhecida ou inexplicável, por exemplo. Quando a causa é conhecida, o que torna o facto pitoresco é a adversidade. Quando inexplicável, não se sabe o que provocou o acontecimento.

Prodígios ou crimes, como Barthes (1966) coloca, são as possíveis causas de fenómenos inexplicáveis e extraordinários. Os prodígios constituem milagres, fenómenos paranormais, etc. Os crimes são por si só efémeros.

Ainda na relação da causalidade, pode-se deparar com o inesperado ou a suspeita do acaso, que segundo Barthes (1966) é paradoxal, já que provoca uma desproporção entre a causa e o efeito. Além disso, fica suspensa entre o racional e o desconhecido. Assim, para o autor, toda causalidade é suspeita de acaso.

Na relação de coincidência, existe a repetição, a aproximação e o cúmulo. A primeira se dá pela desconfiança, já que, como Barthes (1966) coloca, a coincidência não pode ser inocente. A segunda trata de diminuir distâncias entre objetos muito distintos. Com a quebra de estereótipos, surge o inesperado.

E o cúmulo ocorre por conta do exagero da coincidência. O cúmulo, portanto, converte o acaso em signo, pois a exatidão de uma reviravolta não pode ser pensada fora de uma inteligência que a realiza. Onde ocorre uma simetria, houve, por trás, uma mão para guiá-la.

 

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References:

  • Angrimani. Danilo. (1995). Espreme que sai sangue: Um estudo do sensacionalismo na imprensa. São Paulo, Summus.
  • Barthes, R. (1966). Structure du fait divers, Essais critiques. Paris, Seuil.
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