Conceito de atos de fala
A expressão atos de fala designa o poder da linguagem para produzir ações. A interpretação de enunciados, tendo por base variáveis como o contexto cultural e social em que estes se inserem, não se limita apenas ao teor descritivo dos mesmos. Em situações comunicacionais, os principais intervenientes são os interlocutores e cada um deles tem uma bagagem cultural e social, de tal forma que, a determinada altura, os teóricos da linguagem descobriram a impossibilidade de dissociá-la do seu objeto de estudo.
Todos nós comunicamos e utilizamos frases e/ou expressões para dar a entender as nossas realidades, ou seja, produzimos atos de fala. Mas não o fazemos de uma forma meramente descritiva. Nos nossos relacionamentos interpessoais, a linguagem atinge um certo poder que se traduz em ações, que têm impacto, ou não, no nosso interlocutor.
Atos locutórios, atos ilocutórios e atos perlocutórios
O filósofo britânico J.L. Austin foi um dos autores que se debruçou sobre esta temática e distinguiu três tipos de atos de fala: os atos locutórios, os atos ilocutórios e os atos perlocutórios. Os atos locutórios consistem na simples pronunciação, através da linguagem, de palavras, que reunidas, produzem um enunciado. Os atos ilocutórios são as ações que esses enunciados produzem, verificadas através de afirmações, ordens, avisos, perguntas, etc. Os atos perlocutórios são a consequência do ato ilocutório sobre o interlocutor, por outras palavras, são os efeitos causados no recetor, que podem ser o de persuadir, assustar, incitar, agradar, etc.
Exemplo
Para melhor entendermos estes conceitos, temos o exemplo de quando alguém declara um casal marido e mulher. Ao pronunciar a frase “Declaro-vos marido e mulher”, o emissor faz com que algo de novo aconteça na realidade, pela autoridade que lhe foi delegada, uma vez que os noivos passam a ser casados. Estamos perante um ato ilocutório, na medida em que se apoia no verbo performativo ‘declarar’. Os verbos performativos são os que formam enunciados que produzem ações. Trata-se também de um ato locutório, uma vez que, para serem postas em prática, estas palavras tiveram de ser proferidas por um padre ou por uma outra pessoa com autoridade para casar os noivos. Já o efeito que este enunciado terá nos recetores é designado de ato perlocutório, ou seja, o facto de os noivos terem aceite casar-se.