Teoria Adverbial

Descrição da teoria adverbial.

A teoria adverbial consiste, no fundo, no pressuposto de que uma experiência percetiva equivale, de certo modo, a sentir algo. Tradicionalmente, a análise mais popular da experiência percetiva centrou-se na teoria sobre os dados sensoriais: de acordo com esta teoria, ter uma experiência percetiva é estar numa relação consciente de perceção direta com uma entidade especial imaterial. Em casos particulares, esta entidade é denominada uma miragem ou aparência, e de modo geral, uma impressão dos sentidos.

Estas impressões são necessárias de modo a serem explicadas as alucinações e ilusões: posto que eu posso ter uma sensação visual de um quadrado vermelho, mesmo que não exista um quadrado vermelho verdadeiro próximo de mim, posso inferir que está relacionado, através desta experiência, a uma impressão minha que contém um quadrado vermelho.

A teoria sobre os dados dos sentidos conduz a um enorme leque de questões perplexas: podem os dados dos sentidos existirem sem serem percecionados? Poderão duas pessoas experiencias identicamente no número, estes dados? Apresentarão estes dados um revestimento desconhecido no ato de percecionar? Que matéria constitui estas perceções? Serão localizadas? Historicamente, o desejo de evitar estas questões levou ao desenvolvimento da teoria adverbial.

Segundo a teoria adverbial, uma experiência percetual é uma questão de se sentir dado objeto de uma certa maneira ao invés de se sentir um objeto imaterial: isto, porque os critérios comuns quanto à problematização sobre as aparências, defendem que as aparências não podem existir se não forem percecionadas por uma pessoa. A explicação que a teoria adverbial oferece para este problema é que as declarações que pretendem ter como objeto as aparências, são na realidade afirmações sobre a forma ou modo como alguém está a percecionar esse mesmo objeto.

Daí, a reconstrução deste ponto de vista a partir da seguinte forma geral:

O Rui, (P), tem uma impressão (F)”, ou “P tem uma sensação F

em

P sente de uma maneira F

 

Esta transformação apresenta um certo número de paralelos gramaticais:

 

O Rui tem uma gagueira notável” equivale a “O Rui gagueja notavelmente

 

Será óbvio que a teoria adverbial consegue justificar as alucinações e ilusões: se eu for descrito corretamente como tendo uma sensação visual de algo verde, então o verde nesta descrição é tomado na análise como tendo função adverbial. Assim, o facto de eu ter esta sensação não requer a presença obrigatória de um objeto verde próximo de mim, pois a minha habilidade de percecionar a cor verde basta-me.

Apesar da teoria adverbial estar principalmente associada com a análise da experiência percetiva, tem sido aplicada noutros contextos. Por exemplo, os defensores da teoria adverbial sustentam que os pressupostos ordinários sobre sensações corporais são equívocos, e que na realidade não existem coisas como dores em si. Assim, as declarações sobre sensações corporais devem ter uma estrutura adverbial subjacente.

Pelo contrário, assumir a existência de algo como “uma dor” na nossa ontologia gera um sem número de puzzles filosóficos: a dor localiza-se no corpo como os pressupostos ordinários reivindicam? Se sim, são objetos materiais? Se são objetos materiais, porque é que não são reveladas nos procedimentos cirúrgicos? Pode uma dor existir em determinadas partes do corpo sem ser sentida? Serão duas pessoas capazes de sentirem a mesma dor? Com a teoria adverbial estes dilemas acabam por ser resolvidos.

 

 

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References:

Tye, M (1989), The Metaphysics of Mind, Cambridge, Cambridge University Press.

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