Raymond Aron foi um eminente sociólogo francês, filósofo, político e comentador social. Previamente à 2ª Guerra Mundial, Aron deu aulas em inúmeras universidades francesas, incluindo Le Havre e Bordéus. Em cerca de 1930, defendeu a sua tese intitulada Introdução à Filosofia da História, publicada em livro e extensivamente lida e analisada tanto na Europa como nos Estados Unidos da América. Após o doutoramento, passou o período compreendido entre 1930-3 na Alemanha e observou o aumento do poder no partido nacional-socialista. Em 1935 publicou a obra Sociologia Alemã, onde concebeu a distinção entre sociologia sistemática e sociologia histórica: a primeira diz respeito às relações sociais fundamentais, tipos de grupos sociais, e à estrutura estática da sociedade; a segunda concentra-se nas leis do desenvolvimento da sociedade burguesa.
Dentro da sociologia sistemática, Raymond Aron distinguiu a sociologia formal (Simmel e von Wiese), a sociologia da sociedade e comunidade (Tonnies), a sociologia fenomenológica (Vierkandt), e a sociologia universal (Spann). Já no campo da sociologia histórica, classificou Oppenheimer, a sociologia cultural de Alfred Weber, a sociologia do conhecimento de Mannheim. Contudo, o maior elogio por parte de Aron foi dirigido ao sociólogo Max Weber, intitulado por Aron como o maior sociólogo alemão. Assim, é natural que no trabalho de Aron se sinta profundamente a influência de Weber. Em 1979, quando Aron recebeu o Prémio Goethe, Dahrendorf declarou mesmo que Raymond Aron foi o único cientista social, nas décadas que então aí decorriam, suscetível de ser comparado a Max Weber.
Esta analogia com Max Weber pode ser estendida às preocupações intelectuais. Tal e qual como Weber, Aron tornou-se sociólogo devido ao seu longo e intenso debate com o espectro de Karl Marx. A sociologia de Aron é um debate constante com os herdeiros de Marx na sua manifestação comunista e totalitária. Esta teoria crítica consistente do marxismo mereceu a Aron uma certa isolação na sociologia francesa, fortemente influenciada pelo marxismo. Contudo, tal facto não reduziu a influência de Aron no panorama geral intelectual e político francês. Após a 2ª Guerra Mundial, Aron tornou-se jornalista no jornal Figaro, membro do quadro editorial de jornais influentes como Combat e Les Temps Modernes, e assumiu posições políticas no Ministério da Educação de Malraux.
Por volta de começos de 1960, Aron escreveu uma influente introdução à teoria sociológica, onde analisa a pensadores como Comte, Marx, Pareto, Weber e Durkheim, sendo a discussão mais extensa centrada na filosofia de Montesquieu e, sobretudo, na teoria política de Alexis de Tocqueville. Aron interroga-se na obra se existem pontos de encontro entre a sociologia marxista advogada na europa de leste, e a sociologia empírica praticada na tradição americana. O propósito do livro é um regresso às origens, para demonstrar que a sociologia, marxista ou não, possui uma raiz comum, e que Weber não poderia ser compreendido sem Marx, e Durkheim sem Comte.
A inclusão de Tocqueville foi incomum, uma vez que este não era habitualmente considerado como um dos pais fundadores da sociologia. Mas tal opção foi assumida, segundo Aron, por Tocqueville ter concedido prioridade à realidade democrática, ao invés de Marx, que atribuiu primazia à realidade capitalista, e contrariamente a Comte, que seguiu na esteira da realidade industrial. Para Aron, o político era uma dimensão autónoma da vida social. O modo de concentração e dispersão do poder político, e a relação de tal concentração e dispersão com a liberdade, tornaram-se no núcleo da análise do sociólogo.
Portanto, Raymond Aron pode ser corretamente denominado como um grande liberal na sociologia moderna. Para Aron, a liberdade e a razão não são conceitos abstratos, dogmas ou ideologias, mas o epítome das velhas virtudes republicanas incorporadas nas instituições sociais.
References:
Anderson, C. B. (1999) Raymond Aron: The Recovery of the Political. Rowman & Littlefield, Lanham, MD.