Pierre Gassendi

Introdução à filosofia de Pierre Gassendi.

Pierre Gassendi (1592-1655) foi um padre católico francês, escolástico humanista, astrónomo e filósofo, popularmente conhecido por revitalizar o atomismo epicurista e formular uma metafísica igualmente inspirada pelo atomismo epicurista. Gassendi escreveu o primeiro comentário totalmente em latim sobre os textos gregos de Epicuro (1649), e desenvolveu um trabalho de análise (Syntagma philosophicum, 1658) quanto aos respetivos méritos de toda a filosofia antiga, medieval e moderna na Europa.

A sua significância no pensamento moderno inicial foi redescoberta e explorada nos anos recentes, de modo a ser possível uma melhor compreensão do amanhecer do empirismo moderno, da filosofia mecânica, e das relações da filosofia moderna com os debates antigos e medievais. Sendo Gassendi conhecido na história da filosofia pelas suas disputas com Descarte, é também apreciado pelas suas relações com figuras categóricas como Kepler, Galileo e Hobbes. E considerando que Gassendi também tentou comunicar as ideias de Epicuro, dos Estóicos entre outros pensadores da fase inicial da modernidade, não é de estranhar a sua perspetiva eclética que providenciou uma visão própria, uma das pedras de toque da filosofia e ciência do seu tempo: que o acesso ao conhecimento do mundo natural depende dos condicionamentos que se seguem ao facto de a informação ser limitada pelos sentidos, desse modo restringindo o alcance epistémico.

Define-se a sua metafísica em termos da sua rejeição da teoria aristotélica da substância e da teoria cartesiana da mente, e pela sua exposição da doutrina epicurista dos corpos conjuntamente com a doutrina cristã da natureza humana. Gassendi sustentou que todos os corpos são constituídos por átomos materiais: os átomos são entidades físicas indestrutíveis que subjazem a todas as mudanças na natureza; não são matematicamente indivisíveis ou pontos sem extensão. Ao criar o mundo, Deus criou estes átomos, individualizando-os relativamente ao espaço e ao tempo, conquanto providenciando a esses mesmos átomos tamanhos e formas diferentes, e a capacidade de moção no vazio. Contudo, o princípio material de Gassendi diferia da formulação de Epicuro, nomeadamente que os átomos eram eternos e que o mundo não teve um começo.

Afirmando a existência de seres incorpóreos (Deus, anjos e almas), Gassendi distanciou-se da matéria original proposta por Epicuro. Cada ser humano é a união de uma alma única e racional com um corpo individual constituído por átomos. Distinguiu com elegância esta concepção da natureza humana em relação a Descartes, seu contemporâneo, cujo dualismo corpo/mente não aprofundava suficientemente a dependência da mente face às funções corporais como a sensação. A insistência de Gassendi de que o meditador cartesiano é uma mente incorporada que, como tal, não se pode livrar do conhecimento pelos sentidos, e que o meditador cartesiano só pode afirmar ou negar o conteúdo de uma ideia após a ideia ter sido causada por uma sensação ou por uma operação do intelecto quanto a uma ideia derivada dos sentidos, resultou na reputação de Gassendi como o rival filosófico principal de Descartes.

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References:

Joy, L.S. (1987), Gassendi the Atomist, Advocate of History in na Age of Science, Cambridge, Cambridge Universtiy Press.

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