A obra de arte na época da sua reprodutibilidade, Walter Benjamin

a obra de arte

A obra de arte na época da reprodutibilidade é uma obra escrita por Walter Benedix Schönflies Benjamin (1892-1940), em 1936. Neste ensaio, Benjamin desenvolve sua crítica sobre as novas formas de produção de arte, a saber, a fotografia e o cinema. Para Benjamin, a partir do processo de reprodução da arte permitido pela produção industrial certos aspectos com relação a arte são alterados tanto sobre aqueles que a consomem como por aqueles que a fabricam.

Apesar de escrito antes da Segunda Guerra Mundial e ainda nas primeiras transmissões de televisão na Europa, Benjamin traz em, A obra de arte na era da reprodutibilidade, uma noção dos efeitos da indústria cultural, o que nos ajuda a refletir sobre a indústria do entretenimento e sobre a prática política até hoje.


Contra o positivismo daqueles que pregavam (inocentemente ou não) uma crítica apolítica, Benjamin buscou demonstrar, portanto, que não existe um campo fora do político. A arte e sua crítica são, de fato, medium-de-reflexão não apenas do sistema estético, mas, antes, de toda a sociedade.

É assim que em seu texto ele tenta entender a mudança radical que se dá em relação à obra de arte ao longo da história. Afirma Benjamim, retomando uma ideia hegeliana, que há a perda de uma aura, perda daquilo que faz o objeto ser artístico. Segundo ele, toda obra de arte sempre pôde ser reproduzida, no entanto, em épocas anteriores ao século XIX a experiência do público com a obra de arte era única e condicionada pelo que ele chama de aura, isto é, pela distância e reverência que cada obra de arte, na medida em que é única, impõe ao observador. A aura é uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante por mais perto que ela esteja. “Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta sua sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas montanhas, desse galho.”

Benjamim identifica a aura primeiro nas sociedades tradicionais ou pré-modernas — pelo modo como vinha associada ao ritual ou à experiência religiosa. As artes tinham por finalidade sacralizar e divinizar o mundo; depois — com o advento da sociedade moderna burguesa — pelo seu valor de distinção social, contribuindo para colocar num plano à parte aqueles que podiam aceder à obra autêntica. Mesmo deixando de ser parte da religião, a condição aurática nunca se separou completamente de sua função de ritual, ou seja, sempre houve, na obra de arte autêntica, um fundamento teológico, por mais distante que essa origem estivesse. Isso porque mesmo distante da questão religiosa, agora a estética que surge na modernidade está voltada ao culto do belo.

Com o aparecimento e desenvolvimento de outras formas de arte, (começando pela fotografia), deixa de fazer sentido distinguir original e cópia, o que se traduz no fim da «aura». Agora a reprodução de fato é feita, mas como afirma Benjamin, esta surge como uma reprodução técnica. Neste caso, à toda cópia falta o aqui e agora pertencente a obra de arte, só na unicidade que se pode fazer a história da arte. Agora a existência única da obra torna-se uma existência serial, e a fotografia e depois o cinema, estão na base dessa ruptura com o modo tradicional de nos relacionarmos com o objeto artístico, com a unicidade.

Estabelece-se uma nova interação entre a massa e a produção artística; percebe-se esta mudança especialmente na modalidade cinematográfica, uma vez que ela implica em uma alteração na qualidade das relações com o público consumidor. Mas, nesta produção cultural, apesar de sua elaboração demandar a projeção de toda a expressão vital do ser criador, a ‘aura’ já não está mais presente.

Enquanto no teatro o intérprete está inegavelmente vinculado a sua ‘aura’, a qual é, sem dúvida, captada pela platéia, não se pode dizer que no cinema o mesmo se repita, pois neste meio o público está ausente, e em seu lugar está a câmera, ou seja, uma máquina, a qual prevalece inclusive sobre os próprios atores, uma vez que os equipamentos técnicos são capazes até mesmo de representar seu papel.

Benjamin também acreditava que havia uma diferença radical entre o que o Homem podia visualizar por meio de seu olhar e o que a câmera podia captar artificialmente. Desta forma, uma visão que era consciente se transforma em um ponto de vista inconsciente, gerando um processo semelhante ao da Psicanálise, que desperta a inconsciência instintiva, enquanto uma arte como o cinema produz a vivência do inconsciente visual.

Por outro lado, essa nova relação contém um elemento revolucionário, capaz de contribuir decisivamente para a transformação das próprias estruturas sociais. A obra de arte se emancipa de sua existência parasitária, destacando-se do ritual e isto a libera a para novas possibilidades, tornando o seu acesso mais democrático e permitindo que esta contribua para uma «politização da estética» que contrarie a «estetização da política» típica dos movimentos fascistas e totalitários dominantes no momento em que Benjamin produz esse ensaio. O cinema, poderia assim, ser visto como um instrumento político e ideológico em benefício da classe proletária quando esta estivesse pronta para assumir a liderança política, pois ele lhe traria incríveis expectativas na construção de uma nova história da camada popular.

Benjamin via na tecnologia de reprodução das produções artísticas duas vertentes opostas: por um lado, ela destruía o legado da cultura ancestral e, por outro, propiciava as massas uma nova interação com a obra de arte, a qual previa que esta produção poderia se converter em um meio poderoso de sublevação dos mecanismos sociais.

 

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References:

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época da reprodutibilidade. trad. Francisco de Ambrosis Pinheiro Machado. Porto Alegre: Zouk, 2012.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3ºed. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.

 

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