Nicolas Malebranche

Introdução ao pensamento de Nicolas Malebranche.

Nicolas Malebranche (1638-1715) foi um padre francês oratoriano, cuja metafísica teocêntrica, apesar de única, ficou a dever imenso ao pensamento de Santo Agostinho e Descartes. Como Descartes, Malebranche sustentou que se concebemos um ser como finito, tal se deve à incapacidade de o pensamento refletir sobre o infinito: essa incapacidade é um impedimento à descoberta do ser infinito. Durante a sua carreira filosófica, Malebranche publicou trabalhos sobre metafísica, teologia e ética, assim como sobre ótica, as leis do movimento e a natureza das cores. Pierre Bayle, contemporâneo de Malebranche, considerou-o o maior filósofo do tempo que por eles passou.

 

Pensamento

Contrariamente a Descartes, Nicolas Malebranche negou que qualquer ideia é capaz de representar o ser infinito, concluindo que podemos formar ideias de seres finitos porque à partida, Deus, ser infinito, está imediatamente presente na nossa mente. Contudo, não percecionamos a essência de Deus em si, uma vez que percecionamos sim, a extensão inteligível e infinita de Deus: a ideia arquetípica do mundo material de Deus. Por conseguinte, conseguimos ter as tais ideias “claras e distintas” de coisas extensas, que tornam possível a ciência.

 

Embora afirme a possibilidade de conhecermos a essência da extensão, Malebranche recusou à razão a potência de conseguir demonstrar a existência de Deus, e provar que Deus criou o universo material tal como corresponde à extensão inteligível: somente a fé nas escrituras sagradas conferem a certeza a tal criação material. Em suma, podemos ter o conhecimento das essências, mas não da existência dos corpos. Quanto ao caso da mente, há uma reversão: a autoconsciência torna indubitável a existência da nossa mente, mas – como Deus não desvendou perante nós a ideia arquetípica da mente perante nós – desconhecemos a sua essência. A autoconsciência revela o suficiente para nos garantir que a mente não é extensa, mas o insuficiente quanto à sua verdadeira natureza.

Tanto a mente como toda a variedade de objetos dependem imediatamente de Deus para existirem e para conseguirem alterar os seus “estados”, disse Nicolas Malebranche, uma vez que nenhuma ocorrência é possível a não ser que Deus assim o deseje, pelo que a vontade de Deus é a suma condição para o desencadear de qualquer evento, e daí, a única causa verdadeira para todos os fenómenos que ocorrem no mundo. Mesmo as “causas naturais” são consideradas como “ocasiões” nas quais Deus desencadeia uma série de eventos, pois entre uma causa verdadeira e o seu efeito existe uma conexão necessária, ainda que duas coisas finitas não estejam necessariamente ligadas, posto o poder de Deus pode produzir uma sem a outra.

O teocentrismo que é evidente na doutrina de Malebranche sobre Deus e no seu ocasionalismo, levar-nos-ia a pensar de que Deus tem um papel fundamental na teoria moral do filósofo. Tal expectativa resulta da sua discussão na obra Traité de morale, onde as duas doutrinas prévias se encontram presentes. A visão de Deus reflete-se na insistência de que os deveres morais são ditados por relações de perfeição reveladas pela sabedoria de Deus. Assim como no caso nas verdades necessárias concernentes ao corpo, também no caso das verdades morais Malebranche rejeita univocamente o voluntarismo cartesiano. A doutrina do ocasionalismo está refletida na persistência de Malebranche de que Deus é o mais perfeito Bem, uma vez que Deus sozinho causa a nossa felicidade. Este ponto indica que Malebranche interpretou a ação moral como dizendo respeito não só às relações abstratas de perfeição, como dizendo respeito à felicidade individual.

 

Obras Principais

 Dialogues on Metaphysics.

Dialogue between a Christian Philosopher and a Chinese Philosopher on the Existence and Nature of God.

Treatise on Ethics.

Dialogues on Metaphysics and on Religion.

The Search after Truth.

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References:

Gueroult, M. (1955-59), Malebranche, Paris, Aubier: 3 vols.

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