Ludwig Feuerbach

Ludwig Feuerbach (1804-72) nasceu em Landshut, na Bavaria, no seio de uma família grande, proeminente e composta por académicos.

Ludwig Feuerbach (1804-72) nasceu em Landshut, na Bavaria, no seio de uma família grande, proeminente e composta por académicos. O seu pai foi um destinto professor de jurisprudência, e três dos quatro irmãos de Feuerbach consolidaram carreiras ilustres na matemática, direito e arqueologia. Inflexível perante os avisos do pai relativamente à distância que deveria manter quanto a ideias radicais, e incapaz de negociar a atmosfera repressiva da vida académica e política na Alemanha do século XIX, Feuerbach acabou por falhar desastrosamente em termos académicos. Alguns teóricos sociais e sociólogos são familiares com os escritos de Ludwig Feuerbach sobre a religião, mas a maior parte dos sociólogos conhecem Feuerbach principalmente pela influência deste no jovem Karl Marx. A crítica de Feuerbach dirigida a Friedrich Hegel suscitou a oportunidade para Marx, por sua vez, criticar Feuerbach, e durante esse processo, Marx abriu caminho a uma abordagem sociológica de tópicos centrais como a histórica, ideologia, evolução social – tópicos estes, que antes de Marx, eram avaliados sobretudo como problemas filosóficos e teológicos. No entanto, para o seu tempo e lugar, Feuerbach foi um radical, ainda que essa radicalidade não tenha assumido os contornos que conhecemos na obra completa de Marx.

A vida de Ludwig Feuerbach começa por ser um percurso familiar deveras tradicional, percorrendo uma infância religiosa rumo ao naturalismo, e eventualmente ao humanismo materialista, típico (se não universal) entre os sociólogos contemporâneos. Ter um pai notavelmente erudito dificultou a criação de uma vida intelectual separada para Feuerbach. Enquanto jovem, interessou-se no estudo da teologia, mas cedo (como muitas personagens coevas), foi assolado pela febre hegeliana. Infelizmente, o pai de Feuerbach desprezava Hegel; para poder ouvir uma palestra do mestre, Feuerbach teve que mentir ao pai e dizer que ia para Berlim estudar teologia com o respeitadíssimo intelectual Friedrich Schleiermacher.

 

Eventualmente, e contra os desejos de seu pai, Feuerbach optou por estudar filosofia, acabando por defender em 1828 a sua dissertação sobre Hegel, e – acrescente-se – com sucesso. Mas mesmo no seu trabalho inicial, era claro o início da distância crítica face a Hegel, pelo que enviou uma cópia da dissertação para Hegel, sugerindo que os escritos de Hegel não eram tão hegelianos como deveriam ser, e indicando que o que Cristianismo não era – como Hegel argumentara – a última religião da humanidade. Detalhes à parte, foi a abordagem à religião de Feuerbach, e por extensão a todas as formas de ideologia, que apresentou grande utilidade para Marx e outras figuras inclinadas a desafiarem a ortodoxia religiosa e política do tempo.

 

Entre 1828 e 1837 Feuerbach foi professor na universidade de Erlangen, publicando durante esse período livros e artigos bem acolhidos, prevendo-se o sucesso na linha do horizonte. Porém, novamente contra o conselho de seu pai, Feuerbach publicou anonimamente em 1830 a obra Thoughts on Death and Immortality, estendendo e desenvolvendo a sua crítica dos dogmas do cristianismo. Especificamente, confrontou a visão cristã comum sobre a sobrevivência da alma depois da morte, um movimento arriscado num clima teocrático. As autoridades baniram o livro, e quando Feuerbach, suspeito sem reservas de ser autor do livro, se recusou a negar as acusações, foi destituído do cargo de professor. Assim, antes de Feuerbach escrever os livros de maior importância para Marx e para a sociologia, já tinha conseguido ser despedido do único cargo académico que possuiria na sua vida. O seu destino poderia ter sido bem banal, mas ao invés, mercê de um casamento com uma mulher com posses, conseguiu prosseguir o seu trabalho intelectual sem ter que se preocupar com ganhar a vida.

Por mais breve que tenha sido o exercício de funções académicas, Feuerbach escreveu ainda alguns livros, cuja estrutura revolve em torno de abstrações e metafísica especulativa, tópicos estes de pouco interesse para os sociólogos modernos. Com a publicação da obra Das Wesen des Christentums (A Essência do Cristianismo) em 1841, Feuerbach aponta a direção do humanismo secular e materialista que inúmeros marxistas e sociólogos tomam como garantido atualmente.

A Essência do Cristianismo tornou Feuerbach famoso na Alemanha, estabelecendo-o como um líder (ao lado de Bruno Bauer e eventualmente Karl Marx), dos “Jovens Hegelianos” – estudantes de Hegel que procuraram realizar o idealismo do mestre ao sustentá-lo na realidade social e política. O que importa antes de mais para o sociólogo, não é tanto o que Feuerbach escreveu sobre o cristianismo, mas antes a transformação paradigmática que iniciou no que respeita ao modo como podemos pensar e compreender a religião e, de modo geral, a ideologia. Um teólogo estuda a religião pelo que esta promete dizer sobre Deus, ou pela natureza da nossa relação com Deus. O humanista, no entanto, assume que o estudo da religião não nos diz nada sobre Deus, mas sim sobre o ser humano. De facto, o sociólogo da religião hábil é, pelo menos heuristicamente, agnóstico, suspendendo assim o seu julgamento quanto à realidade do sobrenatural, de forma a se concentrar na religião como prática humana social.

Em particular, Feuerbach, assim como Marx posteriormente, queria que entendêssemos que a religião se esforça por alienar o homem de si próprio, e que somente através da compreensão adequada da relação do homem consigo próprio, é que este alcançará a liberdade que procura em Deus. É esta nova orientação e desvio do sobrenatural para o natural, material e humano, que assina a contribuição principal de Ludwig Feuerbach para o pensamento e análise social.

 

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References:

Wartofsky, M. (1977) Feuerbach. Cambridge University Press, Cambridge.

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