João Duns Escoto

Introdução ao pensamento de João Duns Escoto.

Provavelmente nascido na cidade escocesa de Duns, João Duns Escoto (1265-1308) foi um dos filósofos e teólogos mais influente e respeitado na escolástica medieval. Sabe-se que estudou em Oxford antes de partir para Paris, o centro pedagógico da Europa neste período particular. Em Paris encontrou figuras notáveis, como Henricus de Gandavo e Godefridus de Fontibus, entre outras. Por volta de 1300, Duns Escoto regressou a Oxford, e quando voltou a Paris, envolveu-se com a causa de Benedetto Gaetani, mais conhecido como Papa Bonifácio VIII. Por motivos políticos, Escoto viu-se forçado a desertar de Paris, e acabaria por falecer em Colônia, cidade alemã. Dada a relativa efemeridade da sua vida, é extraordinário que tenha conseguido produzir a densidade de trabalho que produziu: desde comentários sobre as obras do escolástico Petrus Lombardus, até comentários sobre os tratados aristotélicos como o De Anima (“Da Alma”).

Muito precocemente, João Duns Escoto entrou na ordem religiosa dos Franciscanos, posteriormente participando nos debates escolásticos que primavam por reinterpretar e conciliar a tradição filosófica dominante aristotélica/árabe com a verdade das doutrinas básicas da teologia cristã ortodoxa. Os Franciscanos, de tal modo influenciados pela tradição agostiniana, estavam dispostos mais do que ninguém a desviarem-se das normas filosóficas do dia para salvarem a teologia, e o trabalho de Duns Escoto pode ser compreendido como um esforço de reinterpretação do material escrito por Aristóteles e Avicena, e cujo objetivo seria a produção de uma matriz filosófica em que as doutrinas cristãs como a Santa Trindade, a Encarnação e a Providência, pudessem ser pressupostas.

Embora Escoto sempre se tenha pensado a si como um aristotélico, na medida em que desejava preservar os básicos da filosofia de Aristóteles, o seu trabalho respetivo à metafísica resultou numa revisão radical do programa aristotélico. Onde Aristóteles argumentou que o ser não era univocamente predicado das coisas em diferentes categorias, Escoto, após alguma hesitação, defendeu que existe um conceito unívoco de ser aplicável a todo o conjunto das categorias aristotélicas e a Deus e às criaturas. Esta nova doutrina possibilitou, por parte de Escoto, um tratamento da metafísica como uma ciência estrita do ser, se compararmos com o sentido mais lato que Aristóteles advogava para a metafísica.

Rebatendo Avicena no tópico dos Universais, Escoto apresentou a seguinte solução: certas entidades não apresentam uma unidade numérica, mas uma unidade específica ou genérica não quantificável. Estas entidades, apelidadas de natureza comum, podem ser consideradas de três modos: em primeiro lugar, estas entidades podem ser consideradas em si, pelo que não são existentes nem não-existentes, nem unas ou múltiplas; em segundo lugar, em segundo lugar, consideradas a partir da sua existência em realidades particulares, onde cada entidade é numericamente múltipla; em terceiro lugar, consideradas como objetos de atos cognitivos, adquirindo a existência “objetiva” e a unidade numérica. É na terceira consideração que estas “naturezas comuns” se tornam sujeitos de predicados lógicos tais como o predicado “universal”. Escoto enfatiza particularmente a sua crença na existência de ou uma coisa individual ou muitas coisas individuais, embora esta unicidade ou multiplicidade pertençam acidentalmente à natureza comum do sujeito.

Outro passo importante dado por Escoto, relativamente contra o primado da perfeição ontológica das causas necessárias, que encontramos com forte presença na filosofia grega, foi a precisa contra-argumentação dessa declaração clássica: deste modo, causas livres e contingentes (isto é, causas cujo desfecho é dificilmente previsível), apresentariam ontologicamente um maior grau de perfetibilidade relativamente às causas necessárias postuladas pelos gregos. O resultado traduziu-se na aceitação da contingência básica do mundo, e da indeterminação das cadeias causais, estabelecendo-se um clima de estranheza entre os aristotélicos mais devotados.

 

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References:

Bettoni, E. (1961), Duns Scotus: The Basic Principles of his Philosophy, Washington, DC, The Catholic University of America Press.

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