Jean Buridan

Jean Buridan (1295-1358) foi talvez o filósofo francês mais famoso durante o século XIV. Nasceu em Béthune, comuna francesa, e estudou na Universidade de Paris sob a orientação de Guilherme de Ockham, acabando por ensinar nessa mesma universidade, e tornando-se no seu reitor entre 1328 e 1340. Também serviu como embaixador da universidade na corte papal em 1345. Reconhece-se a autoridade a Jean Buridan por ter moldado o modo se fazer filosofia não só durante a sua vida, mas também até ao início da era moderna. A sua carreira caracteriza-se pelos seminários sobre lógica e os trabalhos de Aristóteles, e pela produção de inúmeros comentários sobre lógica, metafísica, filosofia natural e ética. Praticamente durante toda a sua vida, Buridan permaneceu um clérigo secular ao invés de juntar a ordens religiosas como os Dominicanos ou Franciscanos: tal “secularismo” libertou-o da obrigação de entrar em disputas doutrinais, que com crescente alarme e intensidade, se consolidaram entre as ordens religiosas, ou entre uma ordem religiosa e a estrutura hierárquica da igreja, como a argumentação entre o papado e os Franciscanos sobre a pobreza apostólica. Tal constitui um interessante paralelo relativamente às figuras mais conhecidas deste período, todas com filiações religiosas e intelectuais para além da universidade, como Tomás de Aquino, João Duns Escoto ou Guilherme de Ockham.

O seu trabalho mais famoso é o Compêndio da Dialética (Summulae de dialectica), e neste belíssimo texto, Buridan teve como propósito a renovação da velha tradição aristotélica concernente á estrutura da lógica. Tal empreendimento foi possibilitado graças ao uso de novas terminologias lógicas, subsequentemente aplicadas na metafísica, filosofia natural e ética.

Igualmente influenciáveis foram os comentários de Buridan à obra de Aristóteles Ética a Nicómaco, apesar de atualmente serem pouco estudados. Nestes comentários encontramos discussões significantes sobre a estrutura do livre arbítrio e a sua relação com o intelecto, sobre a natureza da liberdade humana, sobre o fenómeno da debilidade do livre arbítrio, sobre a razão prática, e sobre a unidade das virtudes humanas.

De um modo geral, a tendência filosófica de Buridan era de índole nominalista e cética. Conhece-se bastante bem não só o seu trabalho de lógica, mas a sua doutrina do livre arbítrio. Na lógica desenvolveu teorias sobre a modalidade das proposições e avançou com alterações relativas à estrutura e possibilidades do silogismo: ao que parece, Buridan pode ter sido o primeiro a providenciar uma derivação dedutiva a partir das leis da dedução. Isto significa que desenvolveu o termo intermédio para o silogismo, que permitiu aos alunos não muito brilhantes, avançarem das premissas para a conclusão de um silogismo.

A doutrina de Buridan referente ao livre arbítrio, pode ser classificada como um modo de determinismo intelectual. O livre arbítrio pondera sobre um dado conjunto de razões, escolhendo a razão que melhor representar o livre arbítrio, apesar de não haver um tempo limite para um indivíduo escolher qual a melhor forma de se conduzir. Mas esta doutrina tem a sua falha: a extraordinária consequência de que um homem, quando presenteado com duas alternativas igualmente boas, não conseguirá tomar uma decisão.

Esta dificuldade é usualmente ilustrada pelo Burro de Buridan: de acordo com este exemplo, se derem dois montes de feno iguais ao burro, o burro morrerá de fome, uma vez que o seu intelecto não seria capaz de representar o primeiro monte de feno como melhor do que o segundo monte de feno; assim, o burro seria incapaz de assumir uma escolha. Desconhece-se quem usou esta metáfora primeiro, mas existem antecedentes em Ghazali (1058-1111) e Aristóteles. O próprio Buridan falou de um cão que morre esfomeado quando confrontado com duas doses equivalentes de comida.

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References:

Courtenay, William J. (1999), Parisian Scholars in the Early Fourteenth Century: A social portrait, Cambridge, Cambridge University Press.

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