A “teoria correspondencial da verdade” define os factos como bases verdadeiras de locuções verdadeiras. Como as locuções são padrões linguísticos complexos, os factos são construídos como entidades complexas, podendo, a título de exemplo, consistir em entidades particulares ou entidades relacionais detentoras de determinadas propriedades em dados arranjos.
Os filósofos, ao apelarem aos factos, debatem-se com três questões fundamentais:
- Existirão diferentes espécies de factos correspondentes a verdades logicamente complexas, tal como negações, conjunções ou generalizações? Isto é: existirão factos negativos, factos conjuntivos e factos gerais?
Certos filósofos argumentam que um facto conjuntivo não precisa ser tomado como uma base verdadeira para uma frase como “Isto é vermelho e aquilo é amarelo”, dado que por a conjunção estar implicada pelos factos constituintes, esses precisos factos são bases verdadeiras que sedimentam a conjunção. Mas um facto negativo não pode recorrer ao argumento prévio, uma vez que nesta frase não há um correlato igual ao que encontramos na Regra da Conjunção: pelo contrário, há uma incompatibilidade entre o amarelo e o vermelho. Bertrand Russel propôs que os factos gerais devem ser reconhecidos, posto que qualquer conjunto de factos do estilo “X é F” não implica que tudo o que se segue a X seja F. Ao mesmo tempo argumentou que deve dar-se o caso em que cada facto da forma X é F está no conjunto, ou que os objetos que ocorrem em tais factos são todos os objetos.
- Dado que algumas locuções falsas indicam situações possíveis, existirão possibilidades em adição dos factos existentes?
Este segundo problema deriva da teoria correspondencial assumir que uma frase como “Isto é azul”, representa tanto uma possibilidade ou uma situação verdadeira quando os factos são obtidos. Como esta situação é representada quer a locução seja falsa ou verdadeira, a teoria parece reconhecer uma situação hipotética como uma situação verdadeira. Tais factos possíveis podem disponibilizar uma base ontológica para se falar de mundos possíveis, construídos como um conjunto de factos em que no mínimo um membro é um facto possível.
- Será que os factos, tomados como relações de entidades, envolvem uma regressão tal que que essa própria relação de entidades necessita de ser ligada a outro facto constituinte?
O terceiro problema é uma variante da alegada demonstração de que toda as relações são incompreensíveis. A conclusão deste argumento é duvidosa; no entanto, a importância deste prende-se com a complexidade que pode adornar questões factuais. Por exemplo, o facto de dado objeto ser azul não é uma mera síntese do objeto e da cor: primeiro, há uma ligação entre termos e propriedades; segundo, os factos não são um conjunto de termos e propriedades relacionadas; terceiro, a ligação é logicamente diferente de relações gerais.
References:
Mulligan, K. (1992), Language, Truth and Ontology, Boston, Kluwer Academic Publishers.