Essência

As propriedades essenciais de uma coisa, coletivamente denominadas como sua essência, são as propriedades de que essa coisa necessita para que exista; são as propriedades que essa coisa teria sempre em qualquer mundo possível. As propriedades acidentais de uma coisa, por contraste, são as propriedades sem as quais a coisa continua a existir. Para usarmos o famoso exemplo de Descartes, se aquecermos uma tablete de cera, esta perde a sua dureza e a forma original, mas continua a existir, demonstrando assim que a propriedade dura é acidental e não essencial: para Descartes, a extensão é essencial à cera, e pensar na cera como destituída dessa propriedade é imaginar outro objeto que não a cera.

Esta noção de essência não deve ser confundida com outra aplicação errada do termo: quando é uma verdade necessária que todos os Ks sejam Ls, julga-se que os Ks são essencialmente Ls; mas isto é dizer somente que um K tem que ser um L para permanecer K, e não que um K tem que ser um L para existir. Por exemplo, é uma verdade necessária que um velocista tem duas pernas; mas isto não implica que esse velocista não possa perder uma ou as duas pernas. Caso tal acontecesse, o velocista deixaria de ser velocista, mas continuaria a existir. Por conseguinte, a essência de um velocista individual não consiste em ter duas pernas. A confusão que nasce deste problema seria resolvida se fosse reservado o termo “propriedade essencial” para as propriedades necessárias à existência de uma coisa, e não mera pertença dessa mesma coisa.

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References:

Wiggins, D (1980), Sameness and Substance, Cambridge, Harvard University Press.

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