Ernst Mach (1835-1916) foi um físico, fisiólogo e psicólogo que escreveu abundantemente sobre filosofia da ciência. Na tradição austríaca da filosofia e filosofia da ciência, Mach foi um dos poucos antirrealistas, sendo ao mesmo tempo um dos filósofos austríacos mais influentes fora do círculo específico destas disciplinas. O seu mote Das Ich ist unrettbar (“O Eu não tem salvação”) e o seu “contextualismo”, foram conjuntamente compreendidos como capturando o espírito da época na cultura austro-húngara na viragem do século XIX para o século XX, e a sua filosofia legou uma marca ao impressionismo vienense. As suas convicções de que os elementos são interdependentes manifestaram-se nas suas visões sobre as relações entre os diversos ramos da ciência, e entre a filosofia e a ciência. Como Otto Neurath (1882-1945), Mach defendeu a unidade da ciência, em última análise, criticou a polarização oposta entre a filosofia e a ciência, quem no limite, culminaria num obstáculo ao progresso do conhecimento.
- Pensamento
Inerente ao pensamento de Mach é a conceção do mundo como constituído somente por elementos, e estes elementos são independentes de acordo com o grau de independência, que será ou forte ou frágil. Estes elementos conhecem a denominação de “sensações”, desde que a consciência humana percecione esses dados: no entanto, esses elementos não são físicos nem psicológicos, e esquecer esta condição é ceder à tentação de explicar os fenómenos do mundo recorrendo a uma teoria unilateral. Exposta assim a premissa inicial, a filosofia de Mach pode considerar-se como um “monismo neutral”, visto que os elementos são categorizados conforme um mesmo tipo (tal pressuposto encontra-se nos escritos de Bertrand Russel). Entendido que Mach recusa a distinção entre as perceções e objetos independentes de tais perceções, a sua postura intitula-se como fenomenalista.
As formulações mais influentes e importantes do monismo neutral e fenomenalismo de Mach encontram-se nas seguintes obras: Contributions to the Analysis of Sensations (1886) e Knowledge and Error (1905).
O mundo para Mach, não tem lugar para a manifestação do self, das substâncias, e das entidades físicas e psicológicas: descrevemos certos elementos como “psicológicos” em determinados contextos, e “físicos” noutros. Então a tarefa da ciência é tabular as relações de dependência entre as várias entidades existentes, descrevendo as conexões funcionais entre os elementos. A ênfase de Mach na interdependência dos elementos permitiu-lhe quebrar os pressupostos atomistas remanescentes, antecipando a descoberta das qualidades percetivas denominadas como Gestalt por Christian von Ehrenfels (1859-1932), e influenciando um número considerável de filósofos da mente denominados “anti-tomistas”, como Edmund Husserl.
Nas obras The Science of Mechanics: A Critical and Historical Account of its Development (1883), Principles of the Theory of Heat: Historically and Critically Elucidated (1896), Mach levou a cabo um programa de comparação extensa entre os compromissos metodológicos, metafísicos e epistemológicos das teorias científicas no passado e no presente, aprofundando o seu “monismo fenomenalista”. Estas comparações reivindicavam dois objetivos: primeiramente, partindo de um ponto de vista naturalista, Mach tentaria descrever o funcionamento da investigação científica concebida como um fenómeno biológico; segundamente, construir uma crítica respeitante ao amplo raio de ideias científicas em voga, questionando o valor dessas ideias em termos dos elementos e das suas interconexões, para demonstrar o alcance destas ideias para além da descrição mínima. Entre as inúmeras casualidades resultantes desta penetrante análise, encontramos renovadas conceções mecânicas do espaço, tempo, massa, energia, movimento e temperatura: assim, quer uma moção seja uniforme ou não, tal questão só será respondida relacionando essa moção primeira com outra moção. Mach, examinando o relato da teoria do espaço absoluto proposta por Newton, abriu o caminho para o advento da teoria da teoria da relatividade de Einstein.
O ceticismo inegavelmente presente nos exames críticos de Mach, referentes a uma notável variedade de asserções científicas, sempre foi compreendido como compatibilizando com posições filosóficas que não as de Ernst Mach. Relativamente ao escopo e combinação da crítica concetual com a originalidade histórica, os escrutínios de Ernst Mach às credenciais de várias noções científicas não possuem paralelo.
References:
Blackmore, J.T. (1972), Ernst Mach – His Life, Work and Influence, Berkeley, University of California Press.