Empirismo, John Locke

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A racionalidade moderna tem origem no empirismo e no racionalismo do século XVI. Inspirado no pensamento de Aristóteles, o empirismo parte do princípio de que “nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”. Logo, parte do princípio de que todo conhecimento resulta de uma base empírica, de percepções ou impressões sensíveis sobre o real, elaborando-se e envolvendo-se a partir desses dados. Os empiristas rejeitam, portanto, a noção de ideias inatas ou de um conhecimento anterior à experiência ou independente dela.


John Locke (1632-1704), apesar de bastante conhecido pela sua contribuição como teórico do liberalismo, nos trouxe a sua reflexão a respeito da teoria do conhecimento. Nela, deu destaque a crítica à metafísica, à teoria dos universais de Platão e principalmente  a teoria das ideias inatas de René Descartes.

De acordo com Locke, não há nenhum conhecimento no homem que seja inato, todo o nosso conhecimento é proveniente das nossas experiências. Diante de todas as possibilidades de alcançarmos alguma verdade, todo o nosso entendimento está embasado no contato que temos com o mundo. Não podemos ter ideias inatas, porque se a tivéssemos impressas na alma, existiriam princípios com os quais todos os seres humanos estariam de acordo. Como não procede assim, não há um consenso universal sobre os princípios e não existem verdades inatas. Por isso, Locke vai afirmar que a alma é como uma tábula rasa – uma tábua sem inscrições e o conhecimento só começa a partir da experiência sensível. Em sua investigação sobre a origem das ideias, ao contrário dos filósofos racionalistas, que privilegiam as verdades de razão – típicas da lógica e da matemática -, Locke preferiu o caminho psicológico ao indagar como se processa o conhecimento. O que significa dizer que não há nada na inteligência que antes não tenha estado nos nossos sentidos. É a partir dos dados da experiência que o entendimento vai produzir novas ideias.

Locke distingue também as duas fontes possíveis para nossas ideias:

– sensação: é o resultado da modificação feita na mente através dos sentidos, cujo estímulo é externo. Locke observou que pela sensação percebemos que as coisas têm qualidades que podem produzir as ideias em nós. Essas qualidades são:

  • primárias como a solidez, a extensão, a configuração, o movimento, o repouso e o número;
  • secundárias como a cor, som, odor, sabor etc, que provocam no sujeito determinadas percepções sensíveis.

Enquanto as qualidades primárias são objetivas, pois realmente existem nas coisas, as secundárias variam de sujeito para sujeito e, como tais, são relativas e subjetivas.

– reflexão: é a percepção que a alma tem daquilo que nela ocorre, é aquilo que se processa internamente. Portanto, a reflexão se reduz apenas a uma experiência interna  que se realiza após uma experiência externa produzida pela sensação. As ideias por reflexão são ações do próprio espírito como pensar, duvidar, acreditar, conhecer, racionar, conhecer, querer. Todo ser humano já possui em si essa fonte de conhecimento que é chamada de sentido interno ou reflexão. Podemos apreciar a reflexão, como todo o conhecimento que nosso espírito absorve de suas próprias operações (ações da mente com relação às ideias e paixões que das ideias procedem, como satisfação, inquietação e outras reações possíveis no pensamento) e a forma pelas quais o entendimento obtém as ideias sobre estas operações.

Estas são as duas únicas fontes de conhecimento admitas por Locke, podendo posteriormente, serem elas combinadas e ampliadas de diversas maneiras pelo entendimento. Assim primeiro há as ideias simples de sensação, depois de reflexão, onde a mente é essencialmente passiva. Depois, a mente ativa forma as ideias complexas coordenando, distinguindo, compondo, fazendo combinações, ampliações, comparações ou abstrações, ou seja, as ideias entram em conexão entre si. Portanto, as ideias simples combinam-se entre si, formando as ideias complexas, como por exemplo, as ideias de identidade, existência, substância, causalidade etc.

Por serem formadas pelo intelecto, as ideias complexas, não têm validade objetiva. São nomes do qual nos servimos para denominar e ordenar as coisas. As palavras (nomes), deste modo, são apenas sinais convencionais, símbolos substituíveis por outros.  Daí o seu valor prático, e não, cognitivo. Enfim, se estabelecermos uma comparação com o processo cartesiano de conhecimento podemos dizer que, enquanto Descartes enfatiza o papel do sujeito, Locke enfatiza o papel do objeto.

Para saber mais:

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References:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 1° ed. brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi; revisão da tradução e tradução de novos textos Ivone Castilho Beneditti – 6°ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. 4° Ed. São Paulo: Moderna, 2009.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3ºed. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. Trad. Pedro paulo Garrido Pimenta. Rio de Janeiro, Martins Fontes: 2012.

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